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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Lula expôs o dilema dos militares que dão proteção a Bolsonaro

"A pergunta, depois da fala de Lula, é simples, direta, sem rodeios: o que vocês ainda estão fazendo no governo", questiona o jornalista Moisés Mendes

(Foto: Stuckert | ABr)
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia 

Lula começa a atormentar a direita e a extrema direita porque só ele é capaz de atitudes consideradas impensáveis. Quando alguém, em manifestação pública, ao vivo para todo o Brasil, questionaria a postura dos militares de forma tão incisiva, como fez Lula esta semana em São Bernardo do Campo?

Não foi um questionamento retórico, como os de textos breves nas redes sociais, de artigos de jornal ou de entrevistas de rádio e TV. Foi em uma coletiva histórica precedida por um discurso.

Quem mais poderia questionar o comportamento de generais em relação à sua condição de perseguido político, numa fala pública, como fez Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC?

Com uma contundência bem calibrada, sem volteios, Lula disse o que pode dizer por já ter sido presidente. Que, se fosse governo em 2018, iria exonerar o general chefe do Exército que emitiu opiniões políticas com ameaças ao Supremo.

Quem mais poderia dizer que não leva muito em conta a opinião “de pessoas que já estão aposentadas”, numa a referência à nota do Clube Militar sobre a decisão do ministro Edson Fachin de anular os processos contra Lula na Lava-Jato?

Lula não fugiu da abordagem de questões consideradas delicadas, como a presença ostensiva e ofensiva de milhares de militares no poder.  

O general Eduardo Villas Bôas, o ameaçador do Supremo, é dado até hoje como referência e inspiração nas Forças Armadas. Lula disse que, no seu governo, ele seria mandando embora por falar o que não deve.

E o Clube Militar foi tratado por Lula como os moradores de Alegrete, na zona da campanha gaúcha, tratam o Clube Cassino. Um lugar que reúne idosos e fazendeiros decadentes, para carteados à tarde, sem qualquer poder de interferência na cidade.

É dura a vida de militares engajados a projetos conduzidos por um alucinado. Edson Fachin enfrentou há pouco, mesmo que tardiamente, a afronta de Villas Bôas.

Muito antes, Luiz Fux, Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes já haviam mandado recados aos generais que incentivavam ou levavam a sério os blefes golpistas de Bolsonaro no ano passado.

Fragilizou-se institucionalmente a situação dos que se aproximaram de Bolsonaro e deixaram que ele se divertisse com as leituras enviesadas do artigo 142 da Constituição. Os generais deram corda aos blefes de Bolsonaro e foram cúmplices de algumas ameaças.

Especulações anunciavam no ano passado que em algum momento os militares iriam tutelar o sujeito. Mas eles não tiveram poder e unidade para exercer sem riscos essa imposição.

Depois, especulou-se que os militares conduziriam, sob a liderança do ministro Braga Netto, um programa desenvolvimentista chamado Pró-Brasil. Era uma afronta ao liberalismo de Paulo Guedes.

Mas logo ficamos sabendo, graças ao vazamento do vídeo da famosa reunião de 22 abril do ano passado (a da boiada de Salles e das hemorroidas de Bolsonaro), que Paulo Guedes havia dito, na frente de todos, que o Pró-Brasil passava a imagem de ideia de gente sem preparo.

Nunca, em momento algum, na ditadura ou depois dela, um ministro civil diria que um general é despreparado. Braga Netto estava debutando, naquela reunião, como poderoso chefe da Casa Civil.

Era inimaginável que Mario Henrique Simonsen, com toda a sua fleuma e genialidade, pudesse levantar a suspeita, em reunião ministerial de Geisel, diante de todos os colegas, que o general Golbery do Couto e Silva seria alguém sem preparo.

Paulo Guedes, um economista medíocre, sem uma reflexão relevante sobre o país em toda a sua trajetória, peitou Braga Netto e todos os generais envolvidos com o abortado Pró-Brasil.

Na sequência de fatos depois desse episódio, foi ficando evidente que a relação do sujeito com os militares é de suporte tático. Não é estratégico.

Os militares empregados de Bolsonaro são a garantia de que, se ficar sem o centrão e sem os empresários, ele terá a presença de 6 mil oficiais em todas as áreas.

Se eles não têm projeto estratégico e se são apenas suporte político para exposição de força a serviço de Bolsonaro, mas sob ameaça até do avanço do centrão em seus cargos, o que os militares fazem no governo?

A pergunta, depois da fala de Lula, é simples, direta, sem rodeios: o que vocês ainda estão fazendo aí, se não são a elite que pensam ser e se o projeto de poder é apenas de Bolsonaro e dos filhos dele? Ou não é bem assim?

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