Lula fortalece integração latino-americana e afronta doutrina Trump-Monroe
Lula contraria o império americano, cuja prioridade atual é derrubar o chavismo
O discurso do presidente Lula na 67ª reunião do Mercosul, em Foz do Iguaçu, no qual defendeu a integração econômica latino-americana, é chamamento à defesa da América do Sul contra a Doutrina Monroe/Trump, claramente, a favor da desintegração continental, na linha do imperialismo, de dividir para reinar, fato que, por sua vez, tensiona as relações geopolíticas globais; batendo de frente com o presidente argentino, Javier Milei, pró-Trump, para o que der e vier, Lula contraria o império americano, cuja prioridade atual é derrubar o chavismo, proposta latino-americana do socialismo para o século 21, como estratégia para dominar o petróleo da Venezuela e colocar no país uma voz pró-Estados Unidos contra o presidente Maduro.
Lula coloca, com seu discurso, defesa da união contra a divisão continental que promove a guerra trumpista como prenúncio de catástrofe, cujas consequências abalariam ainda mais a geopolítica global; contém o discurso do presidente brasileiro, que eleva sua importância como líder global, crítica velada a Trump, que, em campanha eleitoral, comprometeu-se em não iniciar nova guerra em seu segundo mandado; o impacto da fala lulista nos Estados Unidos, colocando a incoerência trumpista em evidência, será inevitável; afinal, Trump, ao contrário, afirmou que lutaria para acabar com todas as guerras, como iniciativa central para alcançar seu objetivo: Prêmio Nobel da Paz; como obterá o título de mensageiro de uma nova ordem mundial, sem guerras, se cuida, nesse instante, de promover a completa instabilidade na América do Sul?
O líder americano rasga o seu discurso ao já atuar como verdadeiro pirata imperialista, sequestrando o petróleo venezuelano, com o argumento de que a Venezuela roubou os Estados Unidos em negociações muito pouco convincentes; na prática, Trump reage com violência ideológica ao chavismo, visto que o ex-presidente Hugo Chávez nacionalizou o petróleo venezuelano, conferindo soberania nacional ao seu gesto, enquanto seu sucessor, Nicolás Maduro, em gesto soberano, iniciou renegociação de contratos entre a Venezuela e empresas americanas, na comercialização do produto, em condições prejudiciais aos interesses da Venezuela; evidencia-se, portanto, que Trump desconhece a soberania da Venezuela e parte para cima do povo venezuelano como se ele não tivesse poder algum sobre seu próprio destino.
LULA X TRUMP
Lula deixa implícito em seu discurso, neste sábado, em Foz do Iguaçu, que não apenas a soberania da Venezuela está ameaçada, mas a de todos os países sul-americanos, em especial ao Brasil, que possui fronteira de mais de 2 mil quilômetros com o território venezuelano; o confronto entre Brasil e Trump, na crítica-alerta de Lula, aprofunda divisão ideológica em toda a América Latina e, certamente, tensiona as relações geopolíticas globais; a voz de Lula é a do sul Global, que terá o apoio dos dois poderosos integrantes do BRICS, China e Rússia, como já se manifestaram ambos os seus líderes, Xi Jinping e Vladimir Putin, cujos interesses geopolíticos e econômicos, na América Latina, são vastos; acordos comercial e militar existem e estão em plena vigência entre China e Rússia com a Venezuela, cuja consolidação se amplia no tensionamento político promovido pelas ameaças trumpistas.
O Brasil está na encruzilhada: a economia brasileira, cujo PIB, majoritariamente, é puxado pelo agronegócio, torna-se mais pró-China do que pró-Estados Unidos, maior concorrente dos agricultores nacionais, mas, por sua vez, os insumos agrícolas, que impulsionam a agricultura nacional são controlados pelos capitais americanos e europeus, que controlam fundos de investimentos, dos quais os empresários brasileiros do campo são dependentes; ou seja, o agronegócio brasileiro representa interesses compartilhados entre Estados Unidos-Brasil-Europa, de modo que não há saída senão negociação, o que eleva poder de Lula frente a Trump; qualquer instabilidade financeira que viesse abalar o agronegócio por conta de tensões China-Estados Unidos refletiria na bolsa e criaria, consequentemente, instabilidade global.
MERCOSUL-UNIÃO EUROPEIA EM IMPASSE
O papel da União Europeia, nesse contexto, em face das incertezas quanto ao acordo com o Mercosul, entra como carta de negociação, que exigirá iniciativa europeia como fator de estabilização das relações tripartites Brasil-Estados Unidos-Europa; eventual guerra Estados Unidos x Venezuela, em meio aos interesses tri-continentais, intensifica, inevitavelmente, a instabilidade global; os BRICS teriam que ampliar solidariedade à América Latina, ameaçada pela agressividade imperialista intensificada pelo Doutrina Monroe em sua versão trumpista; tudo, portanto, está em tensão máxima com as veias da América Latina totalmente abertas e em sangramento.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

