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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Lula precisa se cuidar nos improvisos, em época da pós-verdade

"Há que cuidar de cada palavra, frase, intenção proferida em palco, palanques, reuniões reservadas ou não. Elas podem servir de 'arma'", avalia Denise Assis

(Foto: Reprodução)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

 Estamos em ano de eleição acirrada e todo cuidado é pouco. Com palavras e atos. Neste caso específico, atos políticos, com palco e microfone. Uma atração fatal para os que discursam, empolgados com os gritos e os aplausos da plateia amiga.  

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 Conhecemos Lula desde os anos de 1970, quando despontou com suas falas fortes, demolidoras, contra “o arrocho salarial” imposto pela ditadura (1964/1985). Um tempo em que o “politicamente correto” nem sonhava de acontecer e, muito menos, o clima beligerante que agora se enfrenta. Neste momento, cada palavra conta e todo cuidado é pouco.  

 O introito é para abordar a “gafe” cometida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no sábado (30/04), em encontro com as mulheres da periferia de São Paulo, quando ao se referir a Bolsonaro, disse: “Ele não gosta de gente. Gosta é de policial. Ele não gosta de livros. Gosta é de armas”.  

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 Uma verdade incontestável, numa frase mal construída, dita no calor do improviso, o forte de Lula em seus discursos. Sim, Bolsonaro prefere pessoas fardadas aos civis. Isto é flagrante, E tanto é assim que os poupou da reforma da Previdência e os privilegia com cargos, altos salários e aumentos sucessivos. Dita da forma como foi dita, porém, a frase deu a entender que policiais não são “gente”. São. E Lula jamais os desconsiderou de outra forma.  Seu diálogo com as Forças Armadas e com as Polícias de Modo geral sempre foi de reconhecimento e cordialidade. Mas é o tal do “calor da hora”, quando o raciocínio sai fervendo, as palavras se atropelam e são mal empilhadas, em frases que podem escorregar da boca ainda precisando de retoques.

 No ato de ontem, em comemoração do 1º de maio, Dia do Trabalhador, Lula se apressou em se desculpar: “Cometi um erro e gostaria de pedir desculpas. Eu, que vivo pedindo que a imprensa admita seus erros contra mim, não poderia deixar de pedir desculpas pelo meu”, disse. Um belo gesto de humildade que deve ser levado em conta pelo segmento/alvo. Porém, em tempos de pós-verdade (em que um fato é misturado a uma mentira, batido no liquidificador e servido com gelo), como se fosse verdade absoluta, é preciso cautela.

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 O episódio fez lembrar o final do ano de 1945, quando a expressão “marmiteiros” derrubou a candidatura do major-brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da União Democrática Nacional (UDN), à presidência da República, que numa fala infeliz discursou contra os seguidores de Getúlio Vargas. A sua fala foi intencionalmente mal interpretada pelo candidato getulista, o general Eurico Dutra, apoiado pelo Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (FTB).

A um mês das eleições, ou seja, no início de novembro de 1945, a vitória de Eduardo Gomes sobre Eurico Dutra parecia praticamente certa. Os adeptos da candidatura Dutra decidiram então desencadear uma grande campanha que permitisse inverter a situação.

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No dia 19 de novembro, em discurso proferido no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Eduardo Gomes atacou Vargas e seu período de governo ditatorial, afirmando que não necessitava dos votos “desta malta de desocupados que apoia o ditador” para se eleger presidente.  

A história foi detalhada em um texto produzido pela cientista política Alzira Alves de Abreu, para a Fundação Getúlio Vargas. Segundo ela, após ouvir o discurso o getulista Hugo Borghi - que assumiu a armação em depoimento -, foi ao dicionário verificar os significados da palavra “malta”. Aí, além do sentido mais conhecido de “bando, súcia”, encontrou o sentido de “grupo de operários que percorrem as linhas férreas levando suas marmitas, marmiteiros”.  

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 Considerando esta última expressão excelente, Borghi passou a declarar através das estações de rádio e de jornais como O Radical, que o candidato udenista não precisava dos votos dos marmiteiros, dos que trabalham, dos que lutam pela vida, pois contava com o apoio dos ricos, dos grã-finos, dos privilegiados. Estendendo-se em sua difamação, Borghi afirmava igualmente que Eduardo Gomes era contra os negros, os protestantes e espíritas, as mulheres que exerciam atividades profissionais etc. Daí por diante, sua candidatura fez água, e há analistas políticos que atribuem a essa manobra, “paraninfa” das fake News, a sua derrota para o candidato de Getúlio, o general Eurico Gaspar Dutra.  

Portanto, há que cuidar de cada palavra, cada frase, cada intenção proferida em palco, palanques, reuniões reservadas ou não. Elas podem servir de “arma”, ou de ingrediente no liquidificador da pós-verdade e a vítima ser o autor que, por emoção, espontaneidade ou entusiasmo, a desfira em momento infeliz.  

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