Lula, Raquel Lyra e João Campos na COP 30
A COP30 é uma vitrine política para os três líderes apresentarem agendas positivas, mas seus projetos criam uma dissonância com o discurso climático global
A participação do Presidente Lula, da Governadora Raquel Lyra e do Prefeito João Campos na COP30 é multifacetada, servindo como uma plataforma para reforçar o protagonismo político e apresentar projetos, ao mesmo tempo em que enfrentam o ceticismo sobre a coerência de suas ações ambientais, levantando a crítica de greenwashing.
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva: Liderança Global vs. Petróleo
O Presidente Lula utiliza a COP30 como chefe de Estado do país anfitrião, visando reafirmar o Brasil como líder na agenda climática global, especialmente na proteção da Amazônia.
Objetivo na COP30:
Reforçar o discurso: Apresentar a redução do desmatamento na Amazônia como um sucesso do governo.
Financiamento: Liderar as discussões sobre o financiamento climático e a criação de fundos, como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).
Projeção: Posicionar a COP30, realizada na Amazônia, como um evento histórico focado nos povos e na vida da floresta.
Contradição (Cinismo Ambiental/Greenwashing):
Exploração de Petróleo na Margem Equatorial: A defesa da exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas — com o argumento de que os lucros financiarão a transição energética — é o principal ponto de contradição. A iniciativa é vista por críticos como um "freio de mão" na transição, minando a credibilidade do Brasil como líder climático.
Apoio ao Projeto ESE: O apoio à construção da Escola de Sargentos do Exército (ESE) na APA Aldeia-Beberibe (Grande Recife) coloca o governo federal em rota de colisão com a pauta de preservação da Mata Atlântica e dos recursos hídricos da região, apesar do discurso de proteção ambiental em nível global.
Governadora Raquel Lyra: Transição Energética e Projeção Regional
A Governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, utiliza a COP30 para promover o estado como um hub de transição energética e atrair investimentos sustentáveis.
Objetivo na COP30:
Foco Econômico: Destacar o Porto de Suape como um polo estratégico para combustíveis sustentáveis (como o hidrogênio verde).
Agenda Internacional: Participar de reuniões com líderes e empresas para apresentar uma carteira de projetos de desenvolvimento sustentável e atração de capital.
Protagonismo: Posicionar Pernambuco em destaque regional no debate climático.
Contradição (Cinismo Ambiental/Greenwashing):
Esvaziamento da APA Aldeia-Beberibe: Sua gestão recorreu e conseguiu a suspensão de uma liminar judicial que protegia o Corredor Ecológico da APA Aldeia-Beberibe. Essa ação foi crucial para permitir a continuidade de grandes obras de infraestrutura, como o Arco Metropolitano e o projeto da ESE (Escola de Sargentos do Exército), criticadas por preverem grande desmatamento na maior faixa de Mata Atlântica remanescente do Grande Recife e comprometerem a Bacia do Catucá.
Prefeito João Campos: Resiliência Urbana e Parcerias
O Prefeito de Recife, João Campos, foca sua participação em soluções para a crise climática urbana, buscando parcerias e recursos para o combate a desastres socioambientais.
Objetivo na COP30:
Resiliência Urbana: Apresentar o programa Promorar (financiado pelo BID) e outros projetos de macrodrenagem e contenção de encostas, focando no combate a alagamentos e na proteção de áreas de vulnerabilidade socioambiental.
Monitoramento: Firmar parcerias, como a cooperação com o Ministério da Justiça, para ampliar o monitoramento de áreas verdes e combater crimes ambientais na cidade (Programa Nenhum Verde a Menos).
Contradição (Cinismo Ambiental/Greenwashing):
Habitacional em Boa Viagem: A derrubada de dezenas de árvores em Boa Viagem para a construção de um habitacional gerou multa e críticas severas. Embora o prefeito defenda a legalidade da licença e a importância social da moradia, a ação exemplifica o dilema de sacrificar o verde urbano em nome do desenvolvimento.
Posicionamento sobre a ESE ( Escola de Sargentos do Exército): A defesa do projeto da ESE na APA Aldeia-Beberibe, apesar dos riscos ambientais (incluindo a perda de uma área de 94 hectares de Mata Atlântica, que contribui para a regulação climática do Grande Recife), choca-se com seu discurso de proteção do clima urbano na COP30.
Em suma, a COP30 é uma vitrine política para os três líderes apresentarem suas agendas positivas, mas seus projetos no plano doméstico, especialmente em Pernambuco (ESE/APA Aldeia-Beberibe) e o petróleo na Amazônia, criam uma forte dissonância com o discurso climático global, alimentando a acusação de greenwashing.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

