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Lúcia Helena Issa

Jornalista, escritora e ativista pela paz. Foi colaboradora da Folha de S.Paulo em Roma. Autora do livro "Quando amanhece na Sicília". Pós- graduada em Linguagem, Simbologia e Semiótica pela Universidade de Roma e embaixadora da Paz por uma organização internacional. Atualmente, vive entre o Rio de Janeiro e o Oriente Médio.

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Lula volta ao jogo, mas a luta contra o ódio cabe a todos nós

É preciso muito mais, é preciso que lutemos todos juntos para que a Justiça nunca mais seja sequestrada, para que o ódio, o racismo e a intolerância religiosa sejam varridos e que o Brasil volte a ter no rosto a esperança

Ex-presidente Lula (Foto: Stuckert)
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Nossos netos e os netos de nossos netos lerão em seus livros de história que, em 23 de junho de 2021, a verdade triunfou no Brasil, a Justiça voltou a honrar sua essência e o ex-presidente Lula teve anulados os processos liderados por um juiz imoral.

Anões foram derrotados de várias formas e um gigante humano, com erros e acertos ao longo da vida, mas absolutamente honesto, voltou à luta pelos braços da verdade.

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Tudo o que senti nos últimos dias me levou de volta a Paris, a novembro de 2018, quando eu estava na capital francesa para receber, com imensa honra e um coração perplexo, um prêmio como embaixadora da paz pelo meu trabalho nos campos refugiados palestinos.

Naquela noite, no salão de gala do Hotel George V, amigos franceses me perguntavam como o Brasil podia ter chegado a esse abismo assustador, passando de uma potência econômica emergente, que estava obtendo vitórias contra a desigualdade social, levando os mais pobres às universidades e recebendo reconhecimento mundial a uma nação pária governada por um ex-militar racista, misógino, medíocre, violento e com traços de psicopatia.

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Naquele momento, tudo o que eu consegui dizer a dois queridos jornalistas franceses foi que o rosto desse abismo em que mergulhamos não era apenas o de Jair Bolsonaro, mas o de Sergio Moro, um juiz obscuro de província, ligado a CIA e aos Estados Unidos, que enriqueceu ilicitamente, condenou, sem provas, um homem inocente à prisão, tirou-o da disputa presidencial, e que é mais assustador, será o novo ministro da Justiça no Brasil.

Meus amigos estavam perplexos, pareciam tão tristes quanto eu, e afirmavam que, pelas leis franceses, Moro jamais poderia ser ministro da Justiça do presidente que ele ajudou a chegar ao poder, tirando da disputa o homem que liderava todas as pesquisas eleitorais.

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Minha cabeça girava e a noite parecia ter saído de um filme  de Federico Fellini.

A alegria pelo lindo prêmio que eu recebia se misturava a uma tristeza imensa, uma desesperança gigantesca pelos anos de horror que nos aguardavam.

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De volta ao Brasil, eu veria Moro se transformar em ministro da Justiça de meu país, ocupar o cargo por mais de 400 dias, ser cúmplice e artífice do sequestro da Justiça, conduzir desonestamente dezenas de processos, ter suas mensagens imorais e manipulações maquiavélicas de juiz desonesto reveladas ao mundo todo por um hacker, cair diante do Brasil inteiro e se revelar pelo que de fato era, um deus com pés de barro, um falso Perseu e um falso oráculo de Delfos.

Lula começaria então um longo caminho para provar sua inocência e para ver a verdade triunfar. Mas o imenso dano ao meu país estava concretizado, o ódio aos mais pobres, a xenofobia contra refugiados, a segregação religiosa, o aumento do feminicídio era agora uma realidade feita de números assustadores e não mais uma sensação.

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No dia em que Lula foi libertado do cárcere, de uma condenação sem provas, eu chorei. Chorei porque descobri que Moro e Dallagnol, o promotor monstruoso travestido de “ cristão exemplar”, haviam sequestrado o meu país e levaríamos décadas para resgatá-lo para as futuras gerações.

Chorei pelos amigos que se tornavam pessoas sem empatia nenhuma, chorei pelos brasileiros que celebram a morte do pequeno Arthur, neto de Lula.

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Chorei por ver o Brasil dominado por pessoas como Olavo de Carvalho, que sequestraram o cristianismo para criar uma guerra civil em meu país, pelos torturadores agora idolatrados, pela ditadura militar que voltava a nos assombrar, pelas refugiadas sírias agora proibidas de entrar no Brasil e pelas meninas e mulheres que estavam sendo assassinadas em quantidade jamais vista em um Brasil cujo presidente legitimava a misoginia.

Chorei por todos os meninos negros mortos pelas armas israelenses que o Brasil passara a comprar agora e por milhares de pessoas que morreriam nos dois anos seguintes por crimes que ainda não tinham nome.

Chorei naquela noite porque, pela primeira vez, eu me sentia uma estrangeira em meu próprio país. Porque o Brasil, antes respeitado no mundo inteiro por suas relações diplomáticas, por sua tradição de mediação pela paz, agora era visto como um pária, um animal de Donald Trump, um país que agora  votava contra os direitos humanos dos palestinos, porque Tio Sam assim o desejava.

Chorei porque despencávamos da sexta economia do mundo para a décima segunda e porque as ruas do meu Rio de Janeiro se tornavam o único abrigo de meus irmãos humanos jogados novamente na miséria desumana.

Chorei porque queria jamais ter voltado da Europa e jamais ter visto uma menininha negra agredida com uma pedrada na cabeça por sua fé religiosa. Chorei porque queria jamais ter visto um presidente maligno se referindo a mulheres refugiadas de guerra como ” escória da humanidade.”

Sim, a verdade triunfou.

Mas 500 mil brasileiros perderam suas vidas, 500 mil famílias foram destruídas, a dor dilacera meu peito, e meu país mergulhou numa longa noite, cujo amanhecer não sabemos ainda quando virá.

Nada devolverá a Lula os 580 dias passados na prisão.

A anulação dos processos e o reconhecimento da desonestidade de Sergio Moro trouxeram paz ao meu coração.

Mas é preciso muito mais, é preciso que lutemos todos juntos para que a Justiça nunca mais seja sequestrada, para que o ódio, o racismo e a intolerância religiosa sejam varridos e que o Brasil volte a ter no rosto a esperança!

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