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Francisco Calmon

Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Membro da Frente Brasil Popular do ES

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Luzes da ribalta

Depois não adianta chorar e pedir perdão, o grito de alerta está dado.

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Reuters/Mike Segar)

Parafraseando a canção da Xuxa, Tá na hora, tá na hora, vamos todos nos calar, e dar espaço a Lula escalar um quadro para a PGR e outro para o STF, que não tragam frustrações às expectativas e arrependimentos, quando nada mais poderá ser feito para consertar.

Lobby, corporativismo, arrivismo, não coadunam com a maturidade que a democracia requer nesta quadra política de cada militante, seja na cúpula, seja na base, após a tragédia e consequências do golpe de 2016.

Não temos o direito de errar, mesmo sem dolo, pois a culpa haverá, afinal, somos responsáveis pelos que indicamos ou perante a outros quando nos calamos.

Eugênio Aragão, consciente de sua responsabilidade como ex-ministro da justiça e ex-subprocurador geral da PGR, publicou um artigo moralmente brilhante e politicamente como um grito de alerta ao Lula. 

Abro aspas para o seu texto:

“O risco de indicar um Mr. Hyde achando ser o Dr. Jekyll

Um bom caminho é ignorar pavões e interesseiros.

Uma indicação política é muito mais sensível. Nela, muitas vezes se espera mais que lealdade. Espera-se fidelidade. Fidelidade a convicções e valores ideológicos e programáticos. Afinal, aquele que tem a prerrogativa da indicação foi colocado nessa posição pelo voto de eleitores, atraídos por promessas e perspectivas.”

As escolhas de hoje afetarão diretamente a reconstrução do Estado democrático de direito, sem possibilidade de default, sem poder votar atrás, sem defesa e correção, cujas consequências irão para além de uma geração. 

Não é um texto moralista e nem mesmo subjetivista, são sentimentos e expressões de quem viveu, no front dianteiro, a história da traição ao governo da presidenta Dilma. 

O artigo não carece de qualquer correção, mas de uma complementação: o papel que os meios de comunicação se prestam nesse jogo de patrulhamento e lobismo de nomes que lhes pareçam ou mesmo que se comprometam a “agradecer” o serviço quando sentarem na cadeira do poder.  

A mídia serve de palco com as suas luzes de ribalta. 

Tanto no Judiciário como na PGR, nos governos anteriores de Lula e Dilma, houve não um, mas alguns dedos podres.  

Depois não adianta chorar e pedir perdão, o grito de alerta está dado.

Pensem no Brasil antes da corporação, antes das carreiras, antes dos interesses pessoais, antes dos privilégios do cargo. Sejam leais e fieis aos compromissos, como assinala Eugênio no seu artigo.

Quem gosta e é atraído pelas luzes da ribalta estará no lugar errado, órgãos da Justiça requerem dos ocupantes discrição e que se guardem para se manifestarem nos processos. 

A história real e ficcional ensina: o risco da dupla personalidade existe, como a do médico e a do monstro. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.