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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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Mais de um século após o fim da escravidão, violência contra pobres e pretos ainda envergonha o país

Mais de um século após a abolição, país segue cúmplice da violência policial contra pretos e pobres

Ato contra o racismo (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

O país deve ao incansável — e corajoso — trabalho de entidades dedicadas à defesa dos direitos humanos um retrato realista da violência policial contra pobres e pretos nas principais metrópoles brasileiras.

Mesmo nas cidades onde é comum referir-se com orgulho e cabeça erguida a aparentes avanços de natureza econômica, os registros contabilizam um inaceitável quadro de violência e impunidade em um ponto essencial.

Diante das 7.720 mortes causadas por forças de segurança em São Paulo, as investigações resultaram em apenas 691 denúncias do Ministério Público, o equivalente a 9%. No Rio de Janeiro, a taxa foi ainda menor: 3,7%, ou 401 denúncias para 12.789 assassinatos. (Folha de S. Paulo, 24/7/2025). Em uma informação definitiva sobre o grau vergonhoso de impunidade, uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas revela que, entre 859 procedimentos criminais da polícia de São Paulo, ocorridos entre 2018 e 2024, nenhum agente sequer foi denunciado pelo Ministério Público, e apenas 2% resultaram em algum tipo de condenação. (Folha de S. Paulo, 24/7/2025, página 2).

Num país onde a luta contra a criminalidade constitui uma necessidade evidente e prato principal das campanhas políticas, esses números mostram que a violência policial tornou-se uma tragédia com vida própria, a ser combatida sem descanso, sob o risco de o país mergulhar numa criminalidade sem fronteiras nem limites, capaz de conduzir brasileiros e brasileiras a uma barbárie social que não interessa a ninguém.

Como todos aprendemos em duas décadas de ditadura militar, a violência que tortura e mata é a estrada mais curta para uma selvageria generalizada e a criminalidade permanente.

Alguma dúvida?

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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