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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor do livro "Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil". Editor da newsletter "Noticiário Comentado" (paulohenriquearantes.substack.com)

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Mais uma tentativa de ligar Lula ao crime organizado

Ligar Lula, o PT, a esquerda e qualquer coisa civilizada a criminosos é coisa antiga

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva - 26/09/2025 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

É de clareza solar a orquestração da extrema-direita para desestabilizar o governo Lula, que se encontra em seus melhores momentos nacional – com desemprego na mínima histórica e inflação declinante – e internacional – com a lição de soberania e capacidade de negociação dada no affair provocado pela insanidade do presidente dos Estados Unidos.

A inacreditável ação da polícia carioca contra o Comando Vermelho não deve ter sido concebida com a finalidade de gerar caos social para que a responsabilidade fosse jogada no colo do Governo Federal, mas a ideia de fazê-lo surgiu assim que constatado o desastre da operação. Não é uma estratégia nova e seu replay ocorre logo após Lula dar uma declaração mal formulada sobre traficantes e usuários de drogas.

Entre as palavras do ministro Ricardo Lewandowski e do governador Cláudio Castro, o leitor e a leitora ficam com qual? Comparações éticas e morais entre ambos são desnecessárias. Sabe-se quem fala a verdade.

Ligar Lula, o PT, a esquerda e qualquer coisa civilizada a criminosos é coisa antiga, até porque a extrema-direita brasileira, voz forte na nossa atrasada elite, gostaria vê-los todos mortos. Esta coluna, felizmente, possui memória e ferramentas de pesquisa, e buscou as mais recentes tentativas, mediante fake news, de imbricar Lula com o crime organizado – todas infrutíferas, por fantasiosas.

Aqui vão nove relatos de tentativas de relacionar Lula com o crime que deram com os burros n’água - só as mais recentes (a presente, originária do fiasco da operação comandada pelo governador Cláudio Castro, é a décima):

•  Outubro de 2022 — Vídeos falsos e áudios de presos usados para dizer que “o crime apoia Lula”. Campanhas em WhatsApp/Telegram e redes sociais circularam vídeos e áudios (muitos falsos ou fora de contexto) alegando que presidiários e facções teriam orientado apoio a Lula; eram usados por bolsonaristas para sugerir um “apoio do crime organizado” ao PT.

•  Outubro de 2022 — Postagens tentando associar Lula ao PCC e à facção de Marcola.  Publicações e menções em redes e por apoiadores tentaram conectar Lula a Marcola como prova de aliança entre PT e facções; reportagens investigativas e fact-checking mostraram que essa narrativa foi promovida durante o 2º turno da eleição presidencial.

•  Outubro-novembro de 2022 — Decisões e checagens do TSE contra desinformação. O TSE e agências de checagem desmentiram fake news que vinculavam Lula a voto ou ordens do PCC; o tribunal e parceiros publicaram compilações de boatos e providências.

•  Abril de 2024 — Desmontagem de um “comunicado do PCC” usado como prova.  Checagens identificaram como falsos comunicados atribuídos ao PCC e usados por apoiadores de Bolsonaro  para alegar que a facção teria orientado voto em Lula.

•  Janeiro de 2023 (contexto pós-eleição) — Insurreição de apoiadores de Bolsonaro e narrativas sobre “facções”. Após a posse de Lula, o ataque de 8 de janeiro e a retórica de bolsonaristas passaram a incluir acusações recíprocas e insinuações sobre ligações entre governo e grupos ilegais; o episódio também alimentou narrativas sobre conspirações e apoios criminosos.

•  Maio de 2023 — Multa do TSE a parlamentares por vincularem Lula a crimes, como o caso Celso Daniel. Parlamentares foram multados por divulgarem informações que vinculavam Lula a episódios criminais (a decisão não é, por si só, sobre facções, mas faz parte do padrão de tentar ligar Lula a práticas criminosas publicamente).

•  2023–2024 — Campanhas em Telegram e redes com “top 10” imagens/prints que ligavam o PT a facções. Investigações jornalísticas e monitoramento de desinformação documentaram listas/coleções de imagens mais compartilhadas em grupos de direita que buscavam construir um “dossiê” público de ligação entre Lula/PT e facções — muitas vezes com material fora de contexto.

•  2024–2025 — Alegações públicas e entrevistas onde bolsonaristas (ou aliados) insinuaram conivência do governo Lula com criminosos. Declarações públicas de aliados e apoiadores, além de postagens, continuaram a insinuar “relacionamentos” ou “articulações” entre membros do governo/Lula e organizações criminosas, sempre sem prova; cobertura da imprensa registra e contextualiza essas tentativas.

•  Julho de 2025 — Testemunho em processo no STF: servidor afirma que, no governo Bolsonaro, houve tentativas de ligar Lula a facções. Em audiência no STF, um analista/servidor afirmou que, já em 2022, houve buscas e pedidos de dados que teriam a finalidade de relacionar Lula a facções criminosas — é uma peça relevante porque vem de um depoimento institucional.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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