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Daniel Wanderley

Graduado em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia. Membro da atual diretoria executiva do PT Uberlândia

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Mais uma vez, Lula...

Estamos falando aqui das eleições internas do Partido dos Trabalhadores. Em jogo estão as perspectivas de superação da crise e a continuação e aprofundamento de um projeto popular e democrático para o Brasil. Mais uma vez, Lula é o eixo que definirá essa contenda

Lula ganhou (Foto: Stuckert)
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A desatenção levaria a acreditar que vivemos nessas últimas semana, apenas mais umas e outras dos impropérios cometidos por um governo que sabe a que veio e cumpre o que promete. Sejamos justos, Bolsonaro tem realizado até o momento o sonho infecundo de uma ampla aliança que lhe possibilitou chegar, sem as mínimas capacidades cognitivas (individualizadas, digamos de passagem), onde está. As promessas feitas às portas fechadas fazem do governo Bolsonaro um governo exitoso em todos os quesitos, no que tange sua capacidade em cumprí-las à revelia de uma pífia avaliação popular. Mas porque seria diferente, depois de dois anos de um governo ilegítimo, que amargou um dígito de aprovação, mas foi quase igualmente bem sucedido em seu programa? Sim, Bolsonaro faz um ótimo governo, não para o povo brasileiro, é óbvio, mas para o bloco que o colocou no governo e muito próximo do poder, num sentido mais amplo do conceito. É exitoso em boa parte de suas medidas anti-povo!

Mas os olhares mais atentos se voltam para uma movimentação que, apesar de sua aparência localizada, esconde em sua energia locomotora a real definição do futuro das terras que se situam na porção atlântica e central da América do Sul e por consequência, do desenho geopolítico que determinará a história do século XXI. Estamos falando aqui das eleições internas do Partido dos Trabalhadores. 

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Que o PT seja o esteio que dá corpo e significância à democracia brasileira (sim, ela ainda existe, ainda que sob duros ataques) é fato comprovado não apenas pelo momento complexo da conjuntura dos últimos cinco anos, mas pela própria história brasileira, que demonstra como os períodos (parcos) de vigência da democracia estão sempre acompanhados pela existência de uma partido forte (seja ele de massas, como é o caso do PT, ou de quadros, como o PCB, ainda que haja debates sobre o caráter de massas ou não desse partido) que represente os interesses da classe trabalhadora e que quando se extingue esse partido, segue-se um período de ascensão autoritária, de cerceamento de liberdades e ataques aos interesses populares.

Compreender a existência do PT como fator intrínseco para a manutenção da democracia brasileira, traz para nossa análise material importante para desanuviar certos aspectos acerca dos rumos tomados pelo Partido (com P maiúsculo, por tomá-lo como partido estratégico para a revolução e construção do socialismo) e seus impactos sobre o tabuleiro da política em terras tupiniquins. Essa característica não se atribui ao Partido magicamente, mas através de seu profundo enraizamento no consciente e no inconsciente do povo brasileiro, que se deu mediante uma sistemática atuação nas entidades de representação de trabalhadores e sociedade civil como um todo. O PT possui uma capilaridade que, mesmo diante de sua nítida cooptação diante de mecanismos da democracia burguesa, criou um organismo vivo e uma estrutura paralela ao Estado brasileiro (ainda que muitas vezes absorvida por sua lógica), de forma que se torna impossível por meio outro que não a força, acabar com o PT. E por isso Lula está preso: é a representação da força coercitiva do Estado impondo-se sobre a organização popular. 

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Esse mecanismo vivo movimentado pela estrutura petista, que deu voz a uma sociedade desorganizada de finais de 1970 e início de 1980 devido a duas décadas de regimes autoritários, arregimenta hoje, sozinho, ao menos 30% do eleitorado brasileiro, número que tem permanecido fiel nas últimas três décadas. Nenhum candidato que não esteja intimamente ligado aos interesses da direita e da elite brasileira vencerá as eleições sem o apoio ativo e maciço do Partido dos Trabalhadores. Ou seja, esperneia-se o quanto queira-se, mas o PT detém hegemonia sob a esquerda brasileira. 

Vejamos então porque os olhares atentos perceberam o que estava em jogo nas últimas semanas e continuará na linha de frente das preocupações nacionais até novembro, período em que serão definidas as direções partidárias do PT pelos próximos quatro anos.

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A síntese dos posicionamentos encontrada no interior do Congresso Nacional do PT, definirá não apenas a tática, mas o conteúdo da estratégia a ser perseguida pelo campo popular no enfrentamento ao governo ultraliberal e autoritário de Jair Bolsonaro, títere do imperialismo estadunidense. E temos muito em jogo, pois o aglomerado de contradições que conformam o PT (e que dão a ele seu caráter profundamente democrático) estão em rota de colisões cada vez mais evidentes.

Mais uma vez, dados os resultados do pleito de 8 de setembro de 2019, o campo que se articula internamente como esquerda petista, não foi capaz de conformar, sozinha, uma maioria que pudesse dar vazão a um programa mais avançado de enfrentamento oposicionista com viés abertamente socialista. É a vida! Em tempos em que o ataque se aprofunda contra o Partido, o campo que demonstra maior capacidade de unidade teve seus resultados reconhecidos e levou mais de 60% dos votos. Isso quer dizer, no entanto, que observaremos um PT afundado em mesmismes? Não mesmo! Os desdobramentos podem ser múltiplos, justamente devido a dinâmica dos atritos colocados no interior dessa mesma chapa que conformou maioria no pleito. E mais uma vez, a zona gravitacional do debate será em torno de Luiz Inácio Lula da Silva.

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É notável no partido uma reviravolta nos posicionamentos: os setores menos identificados com o “lulismo” no passado são hoje os que mais firmemente afirmam a centralidade na defesa da liberdade de Lula como tática (acertada, digamos de passagem) para impor uma derrota vertebral aos golpistas e pavimentar o caminho para um novo governo popular, dessa vez, com muito menos ilusões e muito mais dificuldades. Enquanto isso, setores que cresceram e se esbaldaram sob a sobra de Lula, desejam construir aquilo que tem tomado corpo como o “pós-Lula”. Acontece que entre eles existe um setor que sempre compôs maioria com esses do “pós-Lula”, mas que diante da escalavração do Partido, aprenderam alguma coisa e não abrem mão de Lula. Eles conseguiram acertar suas arestas para a composição de uma chapa ao PED, mas serão capazes de afinar suas diferenças táticas e estratégicas? Desde que haja uma ação coletiva e bem articulada da esquerda petista, não! 

Tomemos como exemplo a recente entrevista de Rui Costa, governador da Bahia, que à revelia de todos os acertos partidários, se lançou candidato à presidência em 2022. Ele representa esse setor que acredita que o PT deva realizar alianças com partidos sem voto que querem Lula preso, mas precisam dos votos do PT para vencer uma eleição contra Bolsonaro. Ora, que o PT deva estar em todas as articulações de oposição ao Bolsonaro é um lugar comum, mas como desejar e trabalhar para dar centralidade a uma aliança com setores que querem estabelecer um pacto para dar continuidade ao projeto do Golpe de 2016, ou seja, para além da “pequeneza” de afastar o PT do governo, mas a implementação de um projeto neoliberal de ataques a classe trabalhadora, mas sem o incomodo Bolsonaro? Mais ainda, como dar nossos 30% de votos para que esse pessoal ganhe as eleições e implemente esse projeto?

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É nessa linha de raciocínio que Gleisi Hoffmann tem dirigido o Partido, ou seja, estaremos unidos à coalizões oposicionistas, mas daremos centralidade na construção de uma frente que se alinhe ao objetivo de derrotar o Golpe de Estado que depôs Dilma Rousseff, encarcerou Lula e de forma fraudulenta elegeu um tosco para a presidência. Não por orgulho partidário, mas por ser o único meio de construir as forças necessárias para a volta a um projeto popular, e dessa vez, com menores possibilidades conciliatórias, não por vontade própria, mas da própria conjuntura.

Voltemos então às eleições internas do PT. Essas fricções entre os setores que compõe a chapa da corrente interna CNB (majoritária) podem ser uma potente fonte de atuação para a esquerda petista, para a conformação de uma nova maioria no interior do Partido. No entanto, alianças não se fazem sem concessões. A esquerda petista deve estar disposta, mesmo que em sua firmeza ideológica, a ser atrativa como base de sustentação para um futuro mandato da Gleisi. Cobranças exacerbadas de autocríticas, como se sói fazer nesse campo, por exemplo, podem ser secundarizadas em nome de um programa que corresponda aos anseios do Partido e necessidades impostas pela conjuntura. O campo representado por Gleisi tem mostrado disposição para questões estratégicas defendidas pela esquerda petista, como a autodeterminação da Venezuela, mas não dará um salto de gigante em direção a um programa abertamente reformista e cabe a esquerda compreender isso. A esquerda partidária se entrelaça em devaneios muitas vezes e não se propõe à sua tarefa: arrastar a tática do Partido de forma que conflua para uma estratégia democrático-popular e socialista. Quer se resguardar e continuar a apontar os erros da majoritária e observa em camarote sua capilaridade se dissolver a olhos nus. Se proposto fosse uma contrapartida vistosa, seria possível aprofundar a fratura que sim existe entre o setor social-liberal e o social-democrata/reformista-moderado-republicano da CNB e trazer para uma aliança com a esquerda esse setor do Partido. Como observamos, os 30 e poucos por cento feitos pela esquerda do PT, não farão sozinhos um novo bloco hegemônico no Partido, mas ele está pairando no ar. Em jogo estão as perspectivas de superação da crise e a continuação e aprofundamento de um projeto popular e democrático para o Brasil. Mais uma vez, Lula é o eixo que definirá essa contenda. 

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