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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Manifestações de domingo podem ser o novo Comício da Central

"Apesar do tempo que nos separa, os bordões da 'ameaça comunista' são os mesmos usados pelos generais de hoje. Lá, como agora, havia um general Mourão", relembra Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia. "A desfaçatez é grande, o autoritarismo é sufocante, o entreguismo é nefasto. Que venha o domingo", diz ela

Somos pela democracia, protesto antifascista em São Paulo (Foto: Pam Santos/Fotos Públicas)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Já vai longe – 56 anos – o dia 13 de março de 1964, quando uma comissão composta por Osvaldo Pacheco da Silva, presidente da Federação Nacional dos Estivadores e representante do CGT e do Pacto de Unidade e Ação (PUA), pelo deputado federal Hércules Correia dos Reis, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), ex-presidente do Sindicato de Têxteis da Guanabara e secretário da Comissão Permanente das Organizações Sindicais (CPOS), e pelo deputado José Talarico, secretário do PTB do estado da Guanabara e assessor de Goulart nas atividades sindicais, encarregou-se da organização do Comício da Central.

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Os preparativos começaram cedo. Em 19 de fevereiro foi publicado um edital de convocação, dirigido “aos trabalhadores e ao povo em geral”, que manifestariam “sua inabalável disposição a favor das reformas de base”. Além dos organizadores Osvaldo Pacheco da Silva e Hércules Correia dos Reis, assinaram o edital representantes de mais de 19 entidades, entre os quais: Dante Pelacani; do CGT; Clodesmidt Riani; da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), Lindolfo Silva, da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag); o editor Ênio Silveira, do Comando dos Trabalhadores Intelectuais (CTI); Marcelo Cerqueira, da União Nacional dos Estudantes (UNE), e o deputado Sérgio Magalhães, pela Frente Parlamentar Nacionalista (FPN). (Fonte: CPDOC)

O edital deixava claro o objetivo de demonstrar em praça pública a decisão do governo federal de implementar as reformas agrária, bancária, administrativa, universitária e eleitoral, que deveriam ser concretizadas ainda naquele ano. Depois de caudalosas interpretações dos estudiosos da História e das Ciências Políticas, não há como negar que a realização do Comício da Central – como o episódio entrou para a história -, foi um dos determinantes para a concretização do golpe que fechou o país por 25 anos.

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Apesar do tempo que nos separa, os bordões da “ameaça comunista” são os mesmos usados pelos generais de hoje. Lá, como agora, havia um general Mourão. O Olímpio também chamava os progressistas de “baderneiros” e, tal como o Hamilton, dizia que estavam a serviço do “extremismo internacional”.

O comício teve cunho puramente democrático e foi programado para reafirmar os direitos do povo trabalhador e garantir a liberdade com redução da desigualdade. Naquela época não havia o componente pandemia, que de forma concreta é um perigo a ser considerado para os que saem às ruas. Enquanto escrevo, morre uma pessoa por minuto, no Brasil, vítima do coronavírus. E isto precisa ser levado em conta.

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Reafirmando a máxima de que a história se repete como tragédia ou farsa, desta vez ela se apresenta como farsa e, para algumas lideranças políticas e analistas de cenários, pode tomar ares de tragédia, no patamar em que nos encontramos.

Em 1964, dispersada a multidão de 150 mil pessoas que acorreram ao largo da Central do Brasil, onde foi realizado o comício, e 19 dias depois, os militares ocuparam as ruas com os seus tanques de guerra e mergulharam o país no arbítrio sem nenhuma resistência organizada que os barrasse.

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Desta vez, quando eles já ocuparam o poder “pelo voto” e vão nos apertando gradualmente, sem tanques ou fanfarras, (para não deixar que a água nos chegue até o nariz, cedendo para eles todos os espaços, esvaziados pela pandemia), há uma força latente prometendo, com data marcada, iniciar uma reação. E esta data é domingo (dia 8). Há quem preveja que este pode ser o nosso novo 13 de março. O pretexto que falta a Bolsonaro e ao general Mourão, para – desta vez – dar um autogolpe.

Há quem pressinta nas manifestações esse “uso”. O que fez aparecerem na imprensa apelos tanto pelo não comparecimento, quanto pela participação. O antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares, considera o momento de tamanha fragilidade política, que decidiu apelar para “todas e todos que sabem o que significaria um golpe policial-militar, sob liderança fascista. Os sinais são assustadores, ostensivos e crescentes”, antevê. “Eduardo Bolsonaro confirmou: a ruptura está decidida, espera-se apenas a oportunidade. O presidente sobrevoou manifestação contra o Supremo e o Congresso ao lado do ministro da Defesa. Precisa desenhar?”. Não. Sabemos dos riscos. São reais, mas calar não deu certo no passado.

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O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, um dos organizadores do ato em São Paulo, levará para a Avenida Paulista quatro mil máscaras de proteção, álcool gel e a coragem dos que querem dar demonstração da insatisfação contra o governo fascista de Jair Bolsonaro. Com ele estarão a Frente Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular. No Rio, onde a disposição não é menor, a manifestação tem sido puxada pelas torcidas de futebol e atletas de renome como a Isabel, do vôlei, artistas, intelectuais e quem mais estiver disposto a deixar o isolamento. Principalmente jovens estudantes, mais resistentes ao contágio do coronavírus. Os do grupo de risco – maiores de 60 – ficarão em casa. Certamente enfeitarão suas janelas e sacadas para o cortejo.

Em entrevista ao site Uol, o líder do MTST, Guilherme Boulos disse que “A democracia não pode ser intimidada” e completou: “é inadmissível que alguém seja ameaçado, intimidado por posições políticas. Esse é um dos sintomas da escalada autoritária que a gente vive no país”.

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Líderes das bancadas de PSB, PDT, PT, Cidadania e PSD no Senado avaliaram que não é o momento de realizar manifestações. A direção do PT, principal partido de oposição ao governo orienta que a participação é necessária, mas pede cautela e a observação de todos os preceitos de proteção. Não só contra o coronavírus, como também de prevenção aos “infiltrados e provocadores”.

Coube ao deputado Glauber Braga, do PSOL, fazer a conta de chegar entre as posições já expostas. Numa resposta às ponderações de Luiz Eduardo Soares, ele escreveu:

“Com todo respeito, eu gostaria muito de saber o que você propõe Luiz Eduardo? Porque a sua tese nos leva a esperar as próximas eleições, se é que elas acontecerão. Ou temos dúvidas de que Bolsonaro vai sempre ameaçar com fechamento de regime? Quem estava ou vai pra rua não o faz por duvidar do que Bolsonaro possa fazer. Faz exatamente por considerar a necessidade presente, a urgência e o que possa estar por vir. Pergunto. Se houver recuo do lado de cá, Bolsonaro vai recuar do lado de lá? Não.  Se houver recuo do lado de cá, por conta das ameaças, Bolsonaro segue avançando do lado de lá? Tudo indica que sim. Então não restam tantas opções assim” (…)

A desfaçatez é grande, o autoritarismo é sufocante, o entreguismo é nefasto. Que venha o domingo.

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