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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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Mano Menezes e a malandragem do racismo estrutural

"O técnico do Bahia reproduziu a mentalidade do colonizador, que após levar mais um negro ao tronco, chicoteando-o e lhe deixando gravemente ferido sem forças para se reerguer, o mandava parar de “malandragem” e voltar ao trabalho, se não apanharia mais", escreve o colunista Ricardo Nêggo Tom

(Foto: Reprodução)
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No último domingo, Flamengo e Bahia fizeram um jogo histórico no Maracanã. Uma dessas partidas que os amantes do futebol costumam guardar para sempre na memória. Sete gols, viradas de placar, técnica, raça e muita emoção até o apito final do juiz. Vitória do rubro-negro carioca por 4x3. Na ausência do público, em respeito aos protocolos de distanciamento social exigidos em função da pandemia, as cadeiras vazias do estádio lamentaram terem assistido à sós, ao melhor jogo do atual campeonato.

Mas, ao mesmo tempo em que o esporte mais popular do país escrevia mais um capítulo emocionante da sua história, o racismo computava mais um episódio lamentável e criminoso para a sua extensa ficha existencial. O “Cala boca, negro!”, verbalizando pelo jogador colombiano Índio Ramirez do Bahia, em direção ao jogador Gérson do Flamengo, denota uma expressão de superioridade racial fundamentada na racialização da estrutura sócio econômica da nossa sociedade. Não há outra leitura possível para o lamentável ocorrido. E quantos “Cala a boca!” já não foram direcionados a nós negros?

Nem sempre eles são verbalizados, o que torna ainda mais covarde e cruel o preconceito, quando ele é praticado de forma cordial. Mas, todos esses “Cala a boca, negro!” têm a mesma intenção. A exclusão. A negação do seu direito de existir e de se expressar em condições de igualdade com os demais. Muito mais do que uma herança social escravocrata, para muitos o racismo é um bem de consumo durável. Uma joia de família que é passada através de gerações e ostentada orgulhosamente como um brasão real.

Aos que negam, minimizam ou relativizam a sua prática, como o técnico do Esporte Clube Bahia, Mano Menezes, que ao ouvir Gérson lhe dizer que havia sido vítima de um crime racial, acusou o jogador do Flamengo de estar de “malandragem” e ainda protagonizou um diálogo deprimente com o jogador adversário, o provocando pessoalmente e diminuindo a sua reclamação, sugiro que procurem um analista. Mano ainda pediu ao árbitro do jogo que Gérson fosse expulso, por estar reagindo, naquele momento de forma veemente, ao crime cometido contra ele.

O técnico do Bahia reproduziu a mentalidade do colonizador, que após levar mais um negro ao tronco, chicoteando-o e lhe deixando gravemente ferido sem forças para se reerguer, o mandava parar de “malandragem” e voltar ao trabalho, se não apanharia mais. Recentemente o vice presidente da república, o general Hamilton Mourão, declarou que o brasileiro havia herdado a indolência do índio e a malandragem do negro. Porém, como em quase tudo que é dito por integrantes do atual governo federal, há controvérsias. A tal da malandragem, costumeiramente atribuída aos negros, e, que segundo o dicionário da língua portuguesa, tem como um de seus significados: “o ato de praticar certas mazelas, jeitinhos para se dar em algumas situações onde ele mesmo seja o pró beneficiado”, na verdade, é uma invenção dos colonizadores.

Malandros foram aqueles que roubaram as terras dos indígenas, escravizaram os africanos por séculos para gerar riquezas sobre elas e construíram um país sob uma estrutura racista, para que os seus herdeiros desfrutassem para sempre dos privilégios que essa racialização étnica, social e econômica lhes garantiria. Se os negros tivessem herdado a malandragem covarde e assassina do colonizador, talvez não houvessem tantos descendentes de escravocratas vivos para desfrutar as benesses de um sistema idealizado por seus ancestrais.

Gérson não é o malandro dessa história e nem foram os negros que inventaram a malandragem. Inventamos sim, outras coisas bem mais dignas e muito mais relevantes à humanidade. Como o elevador, o ar condicionado, a cirurgia cardíaca, entre tantas outras que costumam ser omitidas por malandragem dos donos da estrutura. Malandros são aqueles que defendem o seu direito de ser racista citando evocando o conceito de que “somos todos iguais”, para não admitirem que são cúmplices da desigualdade, ao não romperem com uma estrutura que lhes favorece racialmente em detrimento de outros.

Malandro é aquele que acusa o outro de malandragem, para não ter o seu verdadeiro caráter exposto. Foi o que Mano Menezes tentou fazer ao tripudiar sobre Gérson e defender o ato criminoso do jogador do seu time. Nesse caso, o racismo cordial foi substituído pelo racismo raiz. Aquele que costuma ser disparado de “cabeça quente” e não há obrigação alguma em se policiar. Depois é só emitir uma nota ou gravar um vídeo pedindo desculpas, usando um texto pronto e batido onde clichês como: “quem me conhece sabe que eu não sou racista” e “tenho amigos negros”, pautam a narrativa de um semblante pálido, abatido e convenientemente arrependido pelo que falou. O Bahia se posicionou. Afastou o jogador e demitiu o técnico. Não comprovadamente pelo mesmo motivo, mas sinalizou de alguma forma, que ambos não estão alinhados à filosofia do clube. Que mais racistas recebam a mesma sinalização e sejam direcionados a delegacia mais próxima.

Racistas e suas malandragens não mais passarão!  Não mais!

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