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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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Maquiavélicos do bem e do mal

"A onda que agora se eleva é para responsabilizar o governo Lula pelas queimadas"

Queimadas no Pantanal (Foto: Joédson Alves / Agência Brasil)

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Há coisa de cinco séculos, o genial Nicolau Maquiavel escreveu: “As injúrias devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, menos saboreadas, ofendam menos; e os benefícios devem ser feitos pouco a pouco, a fim de que sejam melhor saboreados”. Nos anos 1980, Tancredo Neves trouxe o filósofo florentino para o processo de redemocratização do Brasil: “Notícia ruim a gente dá de supetão; notícia boa a gente dá aos poucos”.

A malícia mineira é puro maquiavelismo, outro nome para ardil, que pode servir tanto ao bem quanto ao mal. Sim, às vezes os fins justificam os meios. Nada a ver com Romeu Zema, é claro, verdadeira draga neoliberal e despossuído daquela formidável mineirice. 

Note-se que as notícias positivas neste governo de Luiz Inácio Lula da Silva parecem vir maquiavelicamente a conta-gotas, sempre precedidas de muito suor.  Assim ocorreu com a aprovação do arcabouço fiscal, depois com a reforma tributária, posteriormente com a alta do nível de emprego, em seguida com o aumento do PIB. São avanços sólidos, conquistas decorrentes de princípios socioeconômicos e trabalho. Consolidam-se aos poucos e não se desmancham no ar.

A imprensa neoliberal, que respondeu pela ascensão de Jair Bolsonaro, também pratica seu maquiavelismo; este, um maquiavelismo deletério, pois contrário os interesses da imensa maioria dos cidadãos brasileiros. O povo encontra-se muito, muito distante da Faria Lima, no entanto é bombardeado diariamente com análises econômicas provenientes do mercado de capitais. E só de lá.

Bater na mesma tecla diariamente, até que uma conjectura vire verdade - essa é a estratégia, por exemplo, dos jornalões, um dos quais não consegue mais escamotear seu bolsonarismo. Foi assim durante anos com a “corrupção petista”, tornada muito mais vistosa do que outras corrupções bem piores. 

A onda que agora se eleva é para responsabilizar o governo Lula pelas queimadas que se alastram pelo território brasileiro. Há uma tragédia em curso, provavelmente de origem criminosa e potencializada pela seca. A contenção de uma intempérie dessa dimensão não se dá do dia para a noite. O governo mobiliza-se para conter o fogo, como mobilizou-se em socorro às vitimas das chuvas no Rio Grande do Sul, mas, reconheça-se, trata-se de uma missão sobre-humana, incontornável mesmo com brigadistas treinados para tal e uso de aviões para despejo de água nos focos de incêndio. 

No médio prazo, como disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o risco de queimadas com as de agora será minimizado pelo fortalecimento da fiscalização e o incentivo a práticas alternativas de manejo de terras, como o uso de métodos mecânicos e biológicos para limpeza de terrenos. 

Ter Marina Silva no Meio Ambiente já seria suficiente para o governo atual diferenciar-se completamente do anterior, quando a pasta era chefiada por um sujeito acusado de exportação ilegal de madeira. Porém, maquiavelicamente, os jornalões simplesmente comparam os índices de desmatamento pelo fogo entre os governos, e enxergam equivalência. Não verificam o inusitado, não apontam a vontade política, não valorizam a intenção, nem a disposição.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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