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Laís Gouveia

Mineira, jornalista e ativista da mídia livre

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Maria Zakharova ao 247: Brasil tem a habilidade de driblar crise com os EUA e ao mesmo tempo conduzir bem a presidência do BRICS

Em coletiva de imprensa no ministério das relações exteriores, em Moscou, Zakharova respondeu ao 247 sobre a relação de cooperação entre Brasil e Rússia

Maria Zakharova (Foto: Kristina Shilova)

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, concedeu nesta sexta-feira (17), na sede da chancelaria em Moscou, uma coletiva de imprensa a jornalistas da América Latina. Durante o encontro, ao ser questionada pelo Brasil 247 sobre a atuação brasileira na presidência do BRICS, Zakharova destacou o papel estratégico da diplomacia do Brasil, ressaltando sua importância na construção de uma agenda de cooperação equilibrada entre as nações do bloco.

“Apesar de todas as questões envolvendo o conflito sobre a taxação dos EUA, o Brasil sobre equilibrar bem sua diplomacia, criar uma frente para dialogar com Trump e ao mesmo tempo seguir com sua agenda, principalmente a frente da presidência do BRICS, o Brasil trabalha muito para fazer uma boa gestão e temos acordos muito importantes construídos através de distintas parcerias”, destacou.

A cooperação no Brics tem servido de ponte para estreitar o diálogo econômico e tecnológico entre Brasília e Moscou.- A parceria entre Brasil e Rússia ganhou força nos últimos anos dentro do BRICS. Os dois países têm atuado juntos em debates sobre reformas no sistema financeiro internacional e mecanismos alternativos ao dólar nas transações entre as economias emergentes. No plano bilateral, essa aproximação se traduziu em resultados concretos. O comércio entre Brasil e Rússia alcançou cerca de US$ 12,4 bilhões em 2024, o maior volume dos últimos cinco anos, segundo dados de comércio exterior. A relação, contudo, é fortemente favorável à Rússia, que exporta para o Brasil principalmente fertilizantes, energia e insumos industriais.Do lado brasileiro, os principais produtos enviados a Moscou são carne bovina e de frango, soja, café e açúcar, consolidando o agronegócio como pilar da relação comercial. Atualmente, a Rússia é responsável por mais de 20% das importações brasileiras de fertilizantes, ocupando o posto de maior fornecedor do insumo essencial ao campo.

Maria-Zakharova
Maria Zakharova com jornalistas que participaram da coletiva(Photo: Kristina Shilova)Kristina Shilova

Durante a guerra na Ucrânia e o endurecimento das sanções, o Brasil chegou a enfrentar preocupações com o abastecimento interno de fertilizantes, o que evidenciou o peso estratégico da parceria. Mesmo assim, o fluxo comercial entre os dois países manteve crescimento contínuo.  Zakharova, inclusive, afirma que as sanções não quebraram com a economia russa, apenas indicaram novos horizontes de parcerias com outros países e também uma maior e mais diversificada produção interna. 

Além do agronegócio, a área nuclear tem se tornado um novo eixo de cooperação. A estatal russa Rosatom assinou memorandos de entendimento com as Indústrias Nucleares do Brasil (INB), com foco no fornecimento de combustível nuclear e no desenvolvimento de tecnologias energéticas.Com a presidência brasileira à frente do BRICS e o fortalecimento de acordos bilaterais, Brasil e Rússia reafirmam uma parceria estratégica que ultrapassa divergências conjunturais, consolidando-se em áreas como energia, agricultura e tecnologia. 

Ao reconhecer a capacidade diplomática do Brasil em dialogar com diferentes potências, Zakharova indica a confiança de Moscou no papel da diplomacia  como articulador global, capaz de equilibrar interesses e promover uma agenda de cooperação entre o Sul-Global.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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