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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

202 artigos

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Meia volta, volver

Ainda não nos recuperamos do golpe de 2016 contra Dilma Rousseff, quando entramos numa espiral de dissabores em todos os campos de atividade: na economia, na política, na saúde (com a epidemia do Covid-19), como se nos movêssemos para trás

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No curso dos acontecimentos, todas as sociedades procuram, às vezes serenamente, outras ansiosamente, entender, entre as suas tendências, quais as que de fato orientam os seus caminhos. É como afirmar sobre o amanhã que confiamos em suas opções, já delineadas hoje, com nitidez premonitória. São tarefas difíceis, uma vez que, diferente dos gregos, não dispomos de oráculos, apenas conservamos quase intactas algumas de suas tradições. Sabemos, por exemplo, que não devemos abrir a Caixa de Pandora, porque os males que ali se guardam dificultarão a vida dos nossos contemporâneos. É uma suspeita, mais do que uma constatação, embora o sentimento nos atemorize e nos aconselhe prudência, cada vez que o experimentamos. Ainda não nos recuperamos do golpe de 2016 contra Dilma Rousseff, quando entramos numa espiral de dissabores em todos os campos de atividade: na economia, na política, na saúde (com a epidemia do Covid-19), como se nos movêssemos para trás. A Caixa de Pandora não seleciona desafetos. Atinge quem estiver ao seu alcance, à esquerda e à direita. Se dispuséssemos de um Oráculo, este, sem dúvida, no meio dos tumultos, desaprovaria precipitações, inclusive entre os atuais dirigentes.

É um quadro estranho, o nosso. As eleições de 2022 se aproximam, as pesquisas de opinião, em uníssono, apontam para um claro desgaste da candidatura Bolsonaro e o máximo a que ele se dá à pachorra de pensar é em reformas nas urnas (porque as atuais se mostram confiáveis) ou, nos quartéis, movimentos de inquietação que possam intimidar e, quem sabe, alterar perspectivas. Ele jogou alto, nomeando para o Ministério da Defesa, o Braga Netto. Esperava justamente que o mesmo se mexesse para atiçar a lareira em fogo brando. Este dá a impressão de previsível. Quer por que quer, enquanto fardado, se revelar superior aos civis. Numa espécie de arauto, chega a lançar ao ar ideias anticonstitucionais de ameaças de rompimento nas instituições. Em outros casos, aparece citado em reportagens no jornal O Estado de São Paulo com ultimatos contra as eleições de 2022, caso se mantenha o voto nas urnas eletrônicas. Diante da péssima repercussão junto aos parlamentares, à imprensa e à opinião pública, deu meia volta, e desmentiu. Se era um golpe publicitário, saiu pela culatra. Um Ministro da Defesa não deve opinar sobre questões do momento, além das funções que exerce nas Forças Armadas. Como consequência de suas irreverências, parlamentares na Câmara dos Deputados examinam um projeto de lei no sentido de retirar militares da ativa de funções civis. Já não é sem tempo. A CPI do Senado demonstra por A mais B o erro, em termos de correção e competência, de semelhantes liberalidades. 

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A Caixa de Pandora, uma vez aberta, aniquila. Nela, a esperança se coloca no fundo, bem no fundo. Se uma coisa a leitura das tendências dominantes insinua, é que devemos fechá-la. Não há como esperar. A nação anda exausta de bravatas, enquanto, em contrapartida, nada se faz para poupá-la da crise que é, por outro lado, também, uma crise de inteligência. Deixando de lado a morte e os parentes e amigos que nos levou, gritemos, com pleno ar dos pulmões, de norte a sul nas manifestações, em favor da vida. A vida e a capacidade de pensar. Somente assim sairemos da inércia para um novo e animador ciclo depois de 2022.

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