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Antonio Lassance

Antonio Lassance é doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB)

42 artigos

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Menos ódio, mais democracia

O extremismo cresce protegido pela ideia de que a liberdade de expressão dá amparo ao vale tudo. É preciso estancar a intolerância antes que seja tarde

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No dia 15, em meio a um mar de ódio, a um turbilhão de palavrões, a um desfile de símbolos pavorosos e esqueletos insepultos do período ditatorial, algo quase passou desapercebido.

Nas redes sociais, uma intensa militância reagiu com uma hashtag simples, direta e poderosa: #MenosOdioMaisDemocracia.

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Mais importante do que o slogan ter ficado em primeiro lugar nos tópicos mais divulgados pelo Twitter no Brasil e chegado a terceiro no mundo é o fato de que ele consagrou-se como a palavra de ordem essencial de uma luta que mal começou e está longe de acabar.

A batalha que se trava agora é maior do que simplesmente a de defender um governo eleito que é fustigado por um golpismo indisfarçado.

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O que está em jogo e precisa de ser defendido com unhas e dentes é o próprio destino democrático do país, o legado de direitos da Constituição de 1988 e os avanços sociais da última década, diante do risco de grupos que se organizam para ameaçá-los com seu entulho autoritário.

Muitos consideram esse problema algo fora de hora, pois os grupos extremistas seriam minoritários. É verdade, são minoritários, como eram minoritários os nazistas, os macartistas, o Comando de Caça aos Comunistas, os que baixaram o Ato Institucional nº 5. O poder do extremismo nunca foi e nunca será uma questão numérica.

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Dizem que os grupos que convocaram as manifestações são muito diferentes entre si. Dizem que o pessoal do #VemPraRua, aquele para quem o povo "não está preocupado com os detalhes jurídicos do Impeachment" (pois é, a eleição de um presidente da República, de repente, virou um mero detalhe jurídico) é diferente do Revoltados Online, o grupo que defende que o melhor candidato à presidência é Jair Bolsonaro.

Por sua vez, ambos são diferentes do Movimento Brasil Livre (MBL), que diz expressamente que "não acredita no uso da forca [sic] para fins politicos" - eles ainda não externaram sua posição quanto ao apedrejamento, à fogueira, ao empalamento e a outros métodos antigos e medievais.

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Devem ser mesmo diferentes e possivelmente, a maioria dos que fizeram a multidão nas ruas não deve ter a mínima ideia nem de que eles existem.

A questão é que o poder de atração desses grupos cresce à medida em que aumenta a insatisfação não apenas com o governo, mas com a política e as instituições, de uma forma geral.

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Não se pode analisar a conjuntura atual olhando apenas o dia 15. É preciso enxergar adiante. O "Fora, Dilma" e "Fora, PT" é disputado por duas orientações distintas e paralelas.

O PSDB e outros partidos de oposição querem simplesmente desgastar o governo até o osso, deixá-lo prostrado, derrotar sua agenda no Congresso e ganhar as eleições municipais do ano que vem com ampla margem de votos, acumulando forças para 2018.

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Enquanto isso, os dois piores grupos de trombadinhas dos protestos querem mais. Querem esculhambar a política e as instituições do país, eliminar adversários, alguns com o uso da forca [sic] mesmo, e intimidar não apenas partidos e organizações sociais, mas pessoas que pensam diferente - sejam elas propriamente de esquerda ou aquelas que, simplesmente, são estigmatizadas por não engrossar o coro dos descontentes.

Esses grupos extremistas sabem muito bem que têm uma longa jornada adiante. Como o inquérito aberto no Supremo não traz qualquer evidência de crime de responsabilidade contra a presidenta da República, é óbvio que a narrativa desses grupos autoritários ultradireitistas espera apenas o momento certo para jogar a culpa no Congresso e no Judiciário por não terem feito nada [nada do que esses grupos queriam, obviamente].

A frustração a ser gerada com uma eventual não ocorrência de impeachment está sendo cozida em fogo alto para fermentar a adesão, se não a um golpe militar, à formação de algo que nunca existiu no Brasil: um grande partido de extrema direita, permanentemente mobilizado, agressivo, violento, com uma legião cada vez maior de adeptos e financiados empresarialmente - como é comum a qualquer partido de extrema direita. O fenômeno tende a superar o famigerado Integralismo.

Esse projeto político tem no ódio sua principal ideologia e na tibieza de muitos democratas sua grande avenida. A criação de um grande partido de extrema direita ajudaria a estreitar o espaço democrático, a 'endireitar' até partidos de centro, e a dar substância ainda maiora uma mídia que pulveriza veneno todos os dias sobre a sociedade.

O extremismo daqueles que falam em liberdade, mas a tratam como um emblema vazio ou um polidor de sabres; daqueles que incitam à violência contra adversários políticos; esse extremismo atroz se alimenta e cresce protegido pela confusão irresponsável e pusilânime de que a democracia e a liberdade de expressão dão amparo ao vale tudo.

Mais que uma palavra de ordem, #MenosOdioMaisDemocracia tornou-se uma insígnia, uma bandeira de todos os democratas e humanistas, inclusive liberais, contra aqueles que preferem a barbárie as ditaduras.

Menos ódio e mais democracia" é o escudo que precisa ser empunhado por todos aqueles que sabem o quanto custou ao Brasil redemocratizar-se, depois de uma noite que durou 21 anos.

É preciso estancar o ciclo da intolerância antes que seja tarde demais.

Publicado no portal Carta Maior

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