Messias de esquerda
O anúncio oficial é iminente
Não há mais dúvidas. Davi Alcolumbre e seu candidato, Rodrigo Pacheco, já tiraram o time de campo. Lula decidiu pela indicação de Jorge Rodrigo Araújo Messias na quinta-feira (16/10), para ocupar a vaga de Luís Roberto Barroso, que se aposentou antecipadamente aos 67 anos (poderia ficar até 75).
Como gato escaldado que teme água fria, Lula não quer indicações de terceiros. Já as ouviu, no passado, e as consequências foram nefastas. Aqueles que o pressionam para escolher este ou aquele, esta ou aquela, estão perdendo tempo. A prerrogativa é dele. Quem quer indicar ministro do STF tem que se eleger presidente antes.
O anúncio oficial é iminente. No X (antigo Twitter), há debates intensos, como não podia deixar de ser, de um lado apoio de aliados do PT, de outro, mísseis de opositores, mas nada vai mudar a cabeça do presidente.
É público e notório que Messias é vítima de preconceito desde o dia em que virou “Bessias” no grampo divulgado pelo então juiz Sérgio Moro. No entanto, ele é um jurista consolidado, com carreira técnica no serviço público jurídico, como se pode ver por seu currículo acadêmico. Eu também não conhecia. Formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 2003; mestre em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional pela Universidade de Brasília (UnB, 2018); doutor pela mesma instituição (2024); professor de Direito na Unisanta (Grupo Santa Cecília) e procurador da Fazenda Nacional concursado desde 2007 (parte da estrutura da AGU).
Quanto às obras, sua produção é mais acadêmica e aplicada do que volumosa em livros, mas relevante. Destaque para a tese de doutorado ("Riscos globais e desafios para a governança internacional: uma análise da pandemia de COVID-19 e da crise climática"), defendida em 2024 na UnB, que critica o "ultraliberalismo" do governo Bolsonaro, o "negacionismo sanitário" na pandemia, o "autoritarismo" em decisões judiciais e o "monopólio" das big techs (como X/Twitter, Google e TikTok) na disseminação de desinformação.
Não é um "Barroso" com dezenas de livros, mas analistas como Álvaro Palma de Jorge (FGV Direito Rio) afirmam que ele atende ao requisito constitucional de "notável saber jurídico" pela experiência prática em cargos como subchefe de Assuntos Jurídicos na Presidência (governo Dilma) e consultor em ministérios (Educação, Ciência e Tecnologia). Além da formação acadêmica e da tese de doutorado, Messias tem vasta experiência prática: defendeu o governo em ações no STF (como na defesa de Alexandre de Moraes contra sanções de Trump), atuou na recuperação de recursos públicos e na coordenação jurídica da transição de Lula em 2022.
Sua trajetória inclui regulação educacional no MEC e análise de políticas na Casa Civil. Juristas e entidades como a OAB o elogiam pela "competência técnica e discrição". Críticos apontam falta de "protagonismo acadêmico" comparado a outros ministros, mas ele passa no "teste" do art. 101 da Constituição (notável saber e reputação ilibada).
A par disso, ele tem, como é também público e notório, fortes laços com Lula e o PT, é aliado histórico: subchefe na Casa Civil de Dilma (2015-2016); assessor no segundo mandato de Lula e chefe da AGU desde janeiro de 2023.
Não tem filiação partidária formal (é servidor concursado), mas é visto como "homem de confiança" e "conservador de esquerda" (evangélico, da Igreja Batista, o que ajuda em pontes com a bancada evangélica).
No X, há quem o chame de "extrema-direita" por laços evangélicos, mas isso é exagero ou bobagem.
Os evangélicos progressistas, como ele, priorizam uma "teologia da libertação" ou "missão integral", inspirada na justiça social bíblica (ex.: Êxodo, Profetas), focando em solidariedade e direitos humanos; defendem separação Igreja-Estado; combate à censura e promoção da democracia; apoio ao feminismo evangélico, antirracismo e empoderamento de mulheres e negros, com leitura feminista da Bíblia; inclusão de evangélicos LGBT, defesa de casamentos homoafetivos e combate à discriminação; luta contra pobreza, fome e desigualdades, alinhada a movimentos sociais (ex.: MST); pautas trabalhistas; sustentabilidade como mandamento bíblico e regulação de drogas como redução de danos.
Não têm nada a ver com os evangélicos bolsonaristas.
O ungido de Lula não terá problemas para ser aprovado na CCJ e no plenário por mais de 41 senadores, apesar dos esperados muxoxos de bolsonaristas que o veem como "extensão da agenda petista".
Messias é brasileiro nato - Recife, PE - tem entre 35 e 75 anos (45), notável saber jurídico (graduação, mestrado; doutorado; tese crítica ao bolsonarismo; carreira de 18 anos na AGU/PGFN) e reputação ilibada (sem escândalos, elogiado pelos pares da OAB).
Mas só o futuro vai dizer se será um ministro fiel à constituição. Ou só um fiel aliado de Lula.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




