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Ricardo Kotscho

Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.

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Mídia e poder: Bolsonaro finge que briga com os donos, mas mira nos jornalistas

"Aos poucos, vamos voltando ao pensamento único para vender que a economia está melhorando, as reformas avançando e, em breve, todos seremos felizes, amigos para sempre", escreve o jornalista Ricardo Kotscho. "Aqui e ali, não sei até quando, ainda se ouve alguma voz dissonante deste oba-oba do 'agora vamos todos torcer para dar certo'”

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Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia 

"Bolsonaro defende prisão de jornalistas que publicam mentiras” (Rádio CBN, do Grupo Globo, nesta sexta-feira).

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***

Quem ainda é capaz de dizer o que é verdade ou mentira no Brasil de Jair Bolsonaro, além dele?

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No velho Estadão, onde eu trabalhava nos anos 70 do século passado, uma grande crise entre a direção e a redação só foi estourar quando a censura saiu do jornal.

Os jornalistas achavam que agora estavam livres para publicar tudo, mas não foi bem assim.

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Um dos donos do jornal, Ruy Mesquita, dizia publicamente que a redação era coalhada de comunistas.

Saiu a censura prévia, mas começava a autocensura, para não prejudicar os negócios do grupo empresarial, cujos interesses não se limitavam à publicação de jornais.

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Estas outras áreas dependiam de uma boa relação com o Banco Central e a Receita Federal.

O Estadão poderia até criticar o general de turno, mas não os dirigentes destas duas instituições, que sempre foram preservadas pela imprensa.

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Eu só conseguiria fazer uma reportagem sobre desmandos da Receita Federal nas fronteiras, muitos anos depois, na Folha, quando o jornal era dirigido por Octavio Frias de Oliveira.

“Você tem provas de tudo isso?”, ele me perguntou.

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“Sim, eu respondi”, e seu Frias me mandou escrever a matéria, que foi publicada na íntegra.

A pressão dos governos naquela época, como agora, não se dava diretamente sobre os donos da mídia, mas sobre seus anunciantes, a principal fonte de renda dos veículos.

Basta ver como estão minguando os anúncios de página inteira nos jornais e revistas que ainda ousam fazer críticas ao governo Bolsonaro.

A queda no faturamento é o principal álibi apresentado pelos donos em tempos de crise para os constantes cortes nas redações, os tenebrosos “passaralhos”.

A escolha dos nomes para a degola deve atender, ao mesmo tempo, aos interesses das empresas e do governo, ainda que nada seja previamente combinado.

Mas é algo implícito, que os dois lados tocam de ouvido: corta-se primeiro a cabeça de quem pode vir a causar problemas por pensar pela sua própria cabeça.

Os ocupantes de cargos de chefia sabem onde o calo aperta e para onde estão batendo os ventos do poder, dentro e fora das redações.

Por um instinto de preservação, procuram evitar problemas futuros e se antecipam ao pedido vindo de cima.

Na verdade, pensando bem, já nem restam muitas cabeças para cortar, pois as redações estão cada vez mais mansas, obedecendo sem contestar à ordem constituída, ao contrário do que  acontecia em outros tempos, nem tão distantes.

Quando um governo de extrema direita considera até Merval Pereira e William Waack como alvos a combater, o baixo clero da imprensa fica cada vez mais acoelhado.

Até notórios anti-petistas, que nada têm de vermelhos, estão dançando pela ousadia de fazer qualquer crítica ao governo.

Colunas são sumariamente cortadas e colaboradores dispensados ao sabor dos ventos e dos interesses dos grandes grupos empresariais que comandam a mídia nativa e não querem ter problemas com o governo.

Bolsonaro finge que briga com os donos, para agradar aos seus seguidores nas milícias digitais, mas o seu alvo são os jornalistas não amestrados.

Aos poucos, vamos voltando ao pensamento único para vender que a economia está melhorando, as reformas avançando e, em breve, todos seremos felizes, amigos para sempre.

Aqui e ali, não sei até quando, ainda se ouve alguma voz dissonante deste oba-oba do “agora vamos todos torcer para dar certo”.

Alguns poucos jornalistas, que eu admiro, ainda tentam bravamente denunciar a destruição do país, em todas as áreas, e a degradação das nossas instituições, sob um governo que se tornou motivo de chacota no mundo inteiro.

Não temos mais nenhum outro Mino Carta na nossa imprensa, o último chefe de redação capaz de desafiar, ao mesmo tempo, o governo militar e os seus patrões.

Grande Mino, um abraço!

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