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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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Milagre da fé é quando Silas Malafaia me faz concordar com Eliane Catanhêde

Imbecilizar pessoas não deveria ser a melhor forma de se estabelecer um melhor diálogo com elas

Pastor Silas Malafaia (Foto: Reprodução)
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Pense num “cabra” picareta e mentiroso. Certamente, lhe passou pela cabeça a figura de algum político, colega de trabalho, vizinho ou pastor evangélico. Não que todos eles o sejam, mas, boa parte, infelizmente, traja a carapuça com muita propriedade e elegância. Saber mentir, ainda que não seja uma formação que enriqueça o seu currículo lattes ou que lhe garanta a mínima credibilidade, cá pra nós, chega a ser uma arte. E saber mentir em nome de Deus, é uma arte diabólica que só as piores pessoas da face da terra conseguem interpretar com perfeição. Por outro lado, acreditar em mentiras contadas em nome de Deus, é uma condição própria de seres humanos que foram transformados em ovelhas, cuja capacidade de raciocinar foi terceirizada aos cuidados de lobos devoradores da fé alheia.

Ao me deparar com a fúria de Silas Malafaia e Marco Feliciano, dois artífices em propagar petas em nome do senhor, contra a jornalista Eliane Catanhêde, fui correndo checar o que havia motivado o descontentamento de ambos com uma das principais “moretes” do jornalismo brasileiro. Apesar de a ideia ter sido alfinetar a comunicação do Governo, a fala de Eliane com relação aos fiéis que acreditam que herdarão o reino dos céus mediante reserva antecipada paga através do dízimo, foi deveras pertinente e necessária. Nem a Decolar.com oferece uma promoção tão atrativa para uma viagem ao melhor lugar do planeta. Ao questionar o “milagre da fé” usado por Lula para divulgar as obras do PAC em Pernambuco, a jornalista analisa que o presidente vem escolhendo linguagens diferentes para se comunicar, de acordo com a classe social e o grau de escolaridade do público ouvinte.

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A percepção de Eliane foi a mesma que eu tive ao ler as postagens mais recentes no perfil oficial do presidente no “X”, o antigo Twitter. Uma dizia: “Com a graça de Deus e com o milagre da fé eu fui o presidente que mais entregou universidades e institutos federais no Brasil” Em outra, ele escreveu: “Eu pergunto para as pessoas se elas acreditam em Deus e em milagres. Pergunto porque um dos milagres que esse país viu, fruto de muito trabalho, foi a transposição do Rio São Francisco. ”Se for essa a linguagem que a comunicação do governo acredita que irá aproximar Lula dos evangélicos mais resistentes à sua figura (Porque a resistência não é ao seu governo, mas à imagem que os pastores pintaram dele para suas ovelhas), além de perda de tempo, é uma baita bola fora. Uma vez que parte deste segmento só aceita ser tratado com infantilidade e subjugação pelos líderes a quem devotam confiança e fé.

Imbecilizar pessoas não deveria ser a melhor forma de se estabelecer um melhor diálogo com elas, ainda que haja boas intenções por trás de tal proposta. Mesmo o erro tendo sido do Governo, a manifestação de Eliane Catanhêde diminuiu o estrago que poderia ter sido causado pela nova “estratégia” de comunicação e chamou para si a responsabilidade de explicar o preconceito social e linguístico contra os mais pobres e crentes na fé “evangélica”. Segundo a interpretação de Eliane, “quando se fala com o eleitorado mais escolarizado e com maior renda, você fala racionalmente”, e quando se fala com o eleitorado menos escolarizado e de baixa renda, “você fala no imaginário popular, fala em dogmas, fala em crenças que tocam a alma de pessoas que acreditam nos pastores. ”, acrescentando que “tem gente, inclusive, que dá dinheiro para os pastores, para ganhar o reino de Deus. O que, para nós (pessoas com mais escolaridade e renda), é uma coisa mais do que abstrata. É absurdo. “

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Imaginar que uma “lavajatista” teria preconceito com os mais pobres, não é uma tarefa mais difícil do que dialogar com os evangélicos ligados à extrema-direita. No entanto, precisamos aprender a extrair algo bom de algumas críticas feitas por não aliados. Acreditar que começar a falar em milagres e a atribuir o sucesso do seu trabalho a Deus vai atrair evangélicos para a sua base, é tão politicamente inteligente quanto reduzir os próprios feitos à simples intervenção divina. O que, na leitura dessa parte do segmento evangélico, nunca será crível, já que Lula não está ao lado do deus que eles acreditam ser o verdadeiro. Sem contar o fato de que a suposta miraculosidade do processo, de alguma forma, alimenta a tese daqueles que sempre atribuíram o fator sorte às realizações políticas e econômicas de Lula. Talvez, agora ele queira responder que nunca foi sorte, sempre foi Deus. 

A melhor parte dessa pendenga é acompanhar a reação indignada de dois dos principais vendedores de hospedagens no céu do Brasil. Malafaia e Feliciano, não só vestiram a carapuça, como aproveitaram para reforçar a narrativa de perseguição e preconceito contra os evangélicos. A arte da mentira é tão inerente à alma de ambos, que eles ainda acenam em apoio aos mais pobres e menos escolarizados, como se eles realmente se preocupassem com a pobreza e baixa escolaridade da população. Vale lembrar que deputados da chamada “bancada evangélica”, entre eles, Marco Feliciano e Sóstenes Cavalcante, uma espécie de “aspone’ de Silas Malafaia na Câmara, votaram contra o Bolsa Família e são contrários a outros programas sociais como o Farmácia Popular e a política de cotas raciais nas universidades. Opinião esta compartilhada e difundida por Michelle Bolsonaro, a mulher mais virtuosa do cristianismo bolsonarista. Uma horda de hipócritas que segue imbecilizando fanáticos em nome de um deus que favorece aos seus interesses.

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Os empresários da fé, e também muitos políticos, de fato, enganam os mais pobres e os menos escolarizados, adotando uma linguagem meio “tatibitate” para se aproximar daqueles que eles acreditam ser desprovidos de inteligência. No caso da nova estratégia da comunicação do governo para diminuir a rejeição entre os evangélicos, o “tatibitate” precisa ser em línguas estranhas. Não é um simples ”açaí guardiã zum de besouro um imã” que irá convencer as ovelhas do mistério contido nas palavras. Tal turpitude "glossolálica" apenas os profetas do caos neopentecostal sabem utilizar com propriedade. E alguém que tenha a autoridade política de Lula, eleito por três vezes como presidente da república, não precisa se submeter a esse aprendizado. Não sei se o governo está percebendo, mas o preço dos alimentos, principalmente, legumes e frutas, está subindo novamente. Também não sei se o novo marqueteiro do governo tem conhecimento da fome de duas baleias que engoliram Jonas que os evangélicos têm. Crente adora comer. O que não podem beber de álcool, eles compensam na comida. Mas se ela estiver cara, é um diabo a mais a ser exorcizado. Conquistar alguém pelo estômago pode ser mais simples do que tentar falar na língua dos anjos.

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