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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Milei desmonta social democracia e fortalece luta socialista na Argentina

FMI e Banco Mundial, agências americanas, criadas em Bretton Woods, viraram os padrastos cruéis dos países devedores do terceiro mundo, Brasil e Argentina

(Foto: La Vanguardia)
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O ultrarradical presidente argentino, Javier Miley, baixou 30 medidas ultra neoliberais, com mais de 300 subitens, que desmontam a social-democracia erguida pelo peronismo e, consequentemente, renova dialeticamente luta política numa nova etapa com cores socialistas, como forma de reação popular contra o neoliberalismo fascista.

Nova história de luta política com viés radical se abre na América Latina, em meio à expansão da financeirização econômica, que destrói tanto capital produtivo como valor-trabalho, para favorecer tão somente o jogo capitalista especulativo, descompromissado com os valores sociais, configurando fascismo.

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Podem, portanto, emergir lutas ideológicas encarniçadas, para reviver passado remoto e recente no contexto da luta de classes, pois, afinal, as massas voltam às ruas, para evitar violentas espoliações capitalistas, agora, em escala financeirizada, exponencial.

Socialismo Redivivo

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Como se sabe, historicamente, a social-democracia nasceu na segunda metade do século 19 como colchão de liquidez para atenuar/combater a luta socialista que desembocou na Revolução Soviética de 1917.

O regime leninista-trotskista emergiu com as massas socialistas e comunistas nas ruas para derrubar a monarquia, tal como a burguesia havia derrubado o rei medieval em 1789, colocando abaixo a aristocracia de Versailles.

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Caíram os estados gerais – clero e nobreza – para dar lugar ao terceiro estado, o povo.

Na sequência, Robespierre, inspirado em Rousseau, cortou a cabeça do rei e a burguesia tomou conta da situação.

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O comunismo não pintou em 1789, porque a restauração, em 1815, com Napoleão, impôs a burguesia parlamentar.

Em 1871, porém, 82 anos depois da Revolução Francesa, as massas, adestradas pelas revoluções que pipocam, na Europa, a partir de 1848, voltam furiosas ao poder, com a Comuna de Paris, que lançaria as bases do que seria a revolução soviética, em 1917, 46 anos depois.

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A burguesia, no poder, na segunda metade do século 19, com a revolução industrial, radicalizou o liberalismo puro, na linha de Stuart Mill, na Inglaterra, como tenta, agora, em 2023, Javier Milei, na Argentina, numa forçada marcha ré histórica radicalmente reacionária.

A Comuna de Paris, que duraria, apenas, 3 meses, de 18 de março a 28 de maio de 1871, representou motivo para a burguesia iniciar flexibilização do radicalismo fiscal e monetário, característica essencial do laissez-faire , cujo ideal, para o regime burguês, era sustentar salário zero ou negativo em sua máxima acepção do termo, como dizia Marx.

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Para evitar fortalecimento dos movimentos socialistas que surgiam por todos os lados no continente europeu, a burguesia iniciou programas sociais, começando com redução da jornada de trabalho, acentuada na Alemanha de Bismarck, e lenta, porém, insuficiente valorização dos salários.

Essa foi a forma para tentar vencer a crônica insuficiência de demanda global que acompanha o capitalismo desde sua origem, como apontava o autor de O Capital e do Manifesto Comunista, em 1847/1848, beabá para atuação programática dos partidos comunistas contra a burguesia.

Ignorância neoliberal

Milei, economista ultraneoliberal sem conhecimento da história, parece não saber que o subconsumismo, decorrente da queda da taxa de lucro, leva às crises, geradas pelo processo de sobreacumulação de capital.

Não entendeu por que Keynes acabou renegando seus mestres neoclássicos, como Stuart Mill e Alfred Marshall, ao constatar o fim do laissez-faire, ao final da primeira guerra mundial, e diagnosticar que a crise liberal de 1929 decorreu, como Marx havia previsto, do excesso de acumulação de capital na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos.

A saída seria o Estado, diante da crise de realização dos lucros, que derrubou as bolsas, no crash de 29, romper com o liberalismo e puxar demanda global mediante novo padrão monetário – moeda estatal inconversível no lugar do padrão ouro – para tirar setor privado do colapso da economia liberal de livre mercado.

Desde então, a economia política capitalista, ao longo do século 20, vive da dívida pública que cresce no lugar da inflação porque não suportaria mais retornar ao século 19, sob padrão ouro, com a libra esterlina, que garantia o imperialismo inglês.

Os Estados Unidos, com dólar, ganharam a hegemonia mundial, justamente, porque seguiu o conselho antineoliberal de Keynes, dado a Roosevelt, em 1936:

“Penso ser incompatível com a democracia capitalista que o governo eleve seus gastos na escala necessária capaz de fazer valer a minha tese – a do pleno emprego –, exceto em condições de guerra. Se os Estados Unidos se INSENSIBILIZAREM para a preparação das armas, aprenderão a conhecer sua força.”(Lauro Campos, em “Crise da Ideologia Keynesiana”, 1980, Campus, e 2016, Boitempo).

Lauro, estudioso de Keynes, já em 1958, na Universidade Federal de Minas Gerais, com sua tese “Controle Econômico e Social”, concluída na Universidade de Sussex, Inglaterra, alertava, conforme apresentação de Edmar Bacha, que o monetarismo orçamentário equilibrista levava às crises e que o âmago da economia política capitalista era a guerra, via expansão monetária.

Era repeteco da lição de Colbert, mago das finanças de Luís 14: “A dívida interna [bombeada por emissão inflacionária, enxugada por títulos do tesouro para evitar hiperinflação] é o nervo vital da guerra.”

Rito neoliberal da guerra

Keynes, ideólogo da economia de guerra, é amado pelos peronistas argentinos de esquerda keynesiana, com destaque para Raúl Prebisch, criador da Cepal e funcionário do Banco Mundial, autor de “Dinâmica do Desenvolvimento Latino-americano”, Fundo de Cultura, 1963.

A economia keynesiana de guerra, que se expandiu depois de 1944 com Bretton Woods, sob domínio do dólar, viveu seus momentos de glória até o final do modelo soviético, derrubado com o Muro de Berlim, em 1989.

De lá pra cá, os Estados Unidos reinam absolutos sob o neoliberalismo comandado pelos bancos centrais, interligados, a partir de Basiléia, em extensão planetária, ao BC americano, coordenador da economia de guerra do império.

A periferia capitalista, como América Latina, monitorada pela OEA, estaria em todo esse período, especialmente, a partir dos anos 1980, debaixo do Consenso de Washington, até que as crises financeiras, decorrentes das emissões monetárias destinadas a bancar expansão imperialista pelos cinco continentes, levaram às rachaduras neoliberais no compasso da financeirização econômica global.

Conseguiram escapar da tirania financeira neoliberal, apenas, quem, como China, Rússia e países asiáticos, fugiram da financeirização econômica coordenada pelos BCs.

Eles descolaram-se do mundo unipolar ocidental, geopolicamente, dirigido pelos Estados Unidos, condutores do neoliberalismo por meio do Consenso de Washington, montado no tripé econômico neoliberal – metas inflacionárias, câmbio flutuante e superávits fiscais elevados.

FMI e Banco Mundial, agências americanas, criadas em Bretton Woods, viraram os padrastos cruéis dos países devedores do terceiro mundo, Brasil e Argentina, entre eles.

Na Era PT, o Brasil, com Lula, conseguiu fugir da tirania da dívida externa e das condicionalidades impostas pelo FMI ao acumular reservas internacionais graças à expansão keynesiana dos gastos públicos.

A Argentina, não, afundou-se ao longo dos anos, sempre dependurada nos empréstimos externos submetidos à ditadura financeira do FMI/BIRD, razão pela qual cairia na armadilha da dolarização que arrasaria a moeda nacional.

Com Javier Milei, agora, completa-se a desgraça econômica portenha, depois do colapso peronista, com o pacotaço de 30 medidas ultraneoliberais que podem escravizar os argentinos, lançando-os ao colonialismo financeiro ultraneoliberal.

À população restará como saída a radicalização política diante da destruição do modelo econômico social-democrata em verdadeira guerra econômica, que se iniciou nesta semana com a reação popular ao pacotaço.

Calabouço neoliberal

O arcabouço fiscal e monetário, que, atualmente, o Banco Central Independente (BCI) prega, para vigorar, tanto no Brasil, como na Argentina, obedecendo ao rito neoliberal ditado pelo império, por meio do FMI/BIRD, é uma forma de guerra econômica contra população, ancorada em ideologia marginalista, equilibrista, puro suicídio econômico, que impulsiona os argentinos enfurecidos às ruas.

Javier Milei, monitorado pelo imperialismo, derruba toda a social-democracia, com uma penada de 30 medidas ultra neoliberais, que levará à agitação política, germe da revolução mundo afora sob neoliberalismo ideológico.

Milei é o condutor do rastilho de pólvora revolucionária.

No Brasil, o BCI segue o mesmo esquema de Miley, com diferenças, apenas, de graus proporcionais.

Lula, manipulado pela ideologia monetarista neoliberal do déficit zero, somente conseguirá governar, de modo a levar adiante o PAC desenvolvimentista, que prometeu em campanha eleitoral, se mobilizar a sociedade contra o monetarismo radical ditado pelo BCI, obediente ao FMI.

A estratégica neoliberal do BCI, de sustentar financeirização via juros Selic extorsivos, é uma das determinações do imperialismo ditado pelo Banco Central americano e FMI/BIRD.

Sua tarefa de financeirizar a periferia capitalista, impedindo industrialização e valorização dos salários, amarra o subdesenvolvimento à reprimarização econômica, eternizando o perfil colonial periférico.

É o passaporte, depois de eliminado o colchão de liquidez das medidas sociais democráticas contra o laissez-faire ultra neoliberal, para ressurreição das lutas de classes socialistas.

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