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    Marcia Carmo

    Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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    Milei inspirado em Trump: alambrado na fronteira, ataque a gays e trans e saída da OMS

    No Itamaraty, pelo menos por enquanto, não há preocupação, escreve Marcia Carmo

    Javier Milei e Donald Trump (Foto: Redes sociais / Milei)

    Os países da América Latina estão vivendo um estresse emocional desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca, com o foco nos imigrantes já nos seus primeiros dias de gestão. Amigos que moram nos Estados Unidos contam como latino-americanos passaram a temer deportações injustificadas, especialmente após a chegada de brasileiros algemados e acorrentados no Brasil e do conflito entre Trump e Gustavo Petro, presidente da Colômbia, no domingo.

    A situação levou a presidente de Honduras, Xiomara Castro, que lidera a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), a convocar uma reunião de emergência. O encontro acabou cancelado. Trump está levando, porém, a que os presidentes da região, nessa emergência, conversem mais – da presidente do México, Claudia Scheinbaum, aos presidentes Gabriel Boric, do Chile, e Lula, do Brasil. Eles compartilham as mesmas preocupações. Mas na Argentina a atitude é diferente.

    Na semana passada, o presidente Javier Milei decidiu atacar homossexuais durante seu discurso no Fórum Econômico de Davos. O público deve ter ficado, no mínimo, surpreso com seus insultos – que, desta vez, surpreenderam até os argentinos. Milei associou a homossexualidade com a pedofilia, ao citar um caso dos Estados Unidos, condenou a diversidade de gênero e afirmou que pretende eliminar o feminicídio do Código Penal. “Em muitos países supostamente civilizados se (um homem) mata uma mulher a pena será mais grave do que quando um homem é morto”, disse, discordando das leis em vigor no país. Na sua catarata de declarações agressivas, Milei chamou a “ideologia de gênero” de “nefasta”. Milei criticou a comunidade LGBTIQ+ e os fóruns internacionais que querem impor, afirmou, que “as mulheres são homens e os homens são mulheres”.

    A reação contra as afirmações de Milei foram rápidas. Uma manifestação reuniu, no fim de semana, milhares de pessoas em Buenos Aires, incluindo famílias inteiras, que discordaram de seus ataques. E outra manifestação, que promete ser maior, foi convocada para este sábado, às 4 da tarde, em frente ao Congresso Nacional. Será a ‘Marcha Federal do Orgulho LGBTIQ+ Antifascista e Antirracista’, que caminhará do Congresso à Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, a sede da Presidência da República.

    Diante do repúdio, o porta-voz da Presidência disse que a esquerda estava atribuindo ao presidente falas que ele não tinha dito. Nesta quarta-feira, foram vários os jornalistas que fizeram questão de lembrar, na imprensa argentina, textualmente, as falas de Milei em Davos – para confirmar que ele disse o que agora diz que não foi bem assim.

    Nas últimas horas, surgiram outras novidades que se parecem com a cartilha de Trump. Milei quer tirar a Argentina da Organização Mundial de Saúde – o país corre o risco de ficar sem vacinas, alertaram especialistas. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, apoia a colocação de um alambrado em uma parte da fronteira da província argentina de Salta com o território boliviano. A iniciativa de um prefeito dessa província contou com apoio do governador e de Milei. “Excelente..”, escreveu o presidente na sua conta no X. O presidente boliviano Luis Arce criticou a medida, dizendo que essa não é uma política de boa vizinhança. “Não custava nada terem falado conosco, para iniciar negociações”, disse Arce.

    Em uma entrevista a uma rádio, Bullrich citou a fronteira da província argentina de Misiones com o Brasil – é em Misiones e no estado do Paraná que estão as Cataratas. Sem dar detalhes precisos do que pretende fazer, disse que essa é uma área por onde passam “assassinos e problemas”. No Itamaraty, pelo menos por enquanto, não consideraram a declaração de Bullrich motivo de preocupação.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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