Milei só fortalecerá a extrema-direita se seu governo der certo – o que ainda é uma grande incógnita

"É preciso ver como a população argentina irá se comportar quando sentir na pele a piora das condições de vida", diz o jornalista Aquiles Lins

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei 20/11/2023
O presidente eleito da Argentina, Javier Milei 20/11/2023 (Foto: Julián Álvarez/Telam)


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O candidato da extrema-direita internacional na Argentina, Javier Milei, venceu o segundo turno das eleições presidenciais neste domingo (19). O autodenominado liberal libertário superou seu concorrente peronista e ministro da Economia, Sergio Massa, obtendo 55,6% dos votos contra 44,3% de Massa, num país conflagrado por uma estratosférica inflação de 143% e praticamente sem reservas líquidas de moeda estrangeira.

Os brasileiros que lutaram contra a ascensão do fascismo no Brasil em 2018 conhecem a sensação dos ‘hermanos’ neste momento. De temor e desilusão. A posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que torceu pela eleição de Sergio Massa, sobre o resultado das urnas foi de equilíbrio e pragmatismo. “Desejo boa sorte e êxito ao novo governo. A Argentina é um grande país e merece todo o nosso respeito. O Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos”, escreveu Lula no X (ex-Twitter).

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Na primeira entrevista sobre seu futuro governo após ser eleito, Milei confirmou que pretende fechar o Banco Central e dolarizar a economia. "Fechar o Banco Central é uma obrigação moral, e dolarizar (a economia) é uma maneira de nos livrarmos do Banco Central", disse o presidente eleito. Milei renovou a promessa de cortar gastos públicos e a privatização de empresas públicas como a estatal petrolífera YPF. A versão argentina de Jair Bolsonaro também pretende acabar com verbas rescisórias para reduzir custos trabalhistas, desregulamentar o porte de armas e a militarizar prisões.

Javier Milei deve tomar posse no dia 10 de dezembro. Ele é parte de um processo global de avanço das extremas direitas populistas em todo o mundo. Além de Bolsonaro, o mundo já pariu Donald Trump, nos EUA; o partido Vox, na Espanha; e o Alternativa para a Alemanha (AfD). Apesar desta onda, passado o momento de choque inicial, iremos assistir aos desafios que se impõem ao novo presidente argentino para executar suas propostas de selvageria ultraliberal.

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A situação econômica da Argentina não terá uma solução mágica, como propõe Milei. O país não tem reservas cambiais e entregar por completo a economia ao dólar, na contramão do movimento do sul global, deverá aumentar a pobreza ainda mais. No primeiro semestre de 2023, o número de indivíduos em situação de pobreza na Argentina aumentou e superou a marca dos 40% da população, conforme dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censo (Indec), do Ministério da Economia.

Além da instabilidade emocional como adversária à sua megalomania, Javier Milei precisará de habilidade política e de repressão para levar a cabo todas as suas propostas. Ele poderá sofrer contenções por meio do Congresso Nacional e do Poder Judiciário, em algo que em maior ou menor medida ocorreu no Brasil. É preciso dar tempo ao novo presidente eleito e ver como a população argentina irá se comportar quando sentir na pele a piora das condições de vida. Como o Brasil de Bolsonaro demonstrou, o ultraliberalismo e o fascismo internacionais não têm nada de positivo para oferecer.

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