Milei terá de beijar a mão de Xi Jinping

Antes de tudo é preciso lembrar que uma das principais características do fascismo é a mentira. Ela é usada para tirar a atenção da população do que realmente importa e direcioná-la para suas demandas. 

E, nesse aspecto, vai muito bem o presidente da Argentina, Javier Milei. Ele é um fascistóide, e não anarcocapitalista. Tal coisa não existe. O presidente Milei, empossado no domingo 10, mentiu muitas vezes em campanha. Uma dessas ocasiões foi quando disse que irá desvincular a economia portenha da China. O que é impossível. O dragão asiático é o segundo maior destino das exportações argentinas. Em 2022, o valor das transações foram acima de 1 bilhão de dólares. Sergio Massa, o candidato derrotado, chegou a dizer, após visitar a China, que a Argentina deveria ser rebatizada como “Argenchina” para dar a dimensão do que está em jogo.

Não é brincadeira. Ter parceiro comercial desse porte é fundamental para qualquer nação em crise econômica. A patacoada de recepcionar os principais integrantes da extrema direita mundial, Jair Bolsonaro inclusive, em Buenos Aires, não mudará essa condição. Pelo contrário, divertido será ver Milei em Pequim prestando homenagem (fazendo o beija mão) a Xi Jinping, presidente da China. 

A situação econômica da Argentina é difícil, mas dolarizá-la, como fez crer Milei durante o pleito, nunca será a panaceia, mas, sim, aprofundará as circunstâncias que fazem do país, assim como os seus vizinhos sul-americanos, economicamente dependente. Vincular a economia argentina ao humor do Federal Reserve vai, isso sim, transformar Milei numa espécie de Fernando de lá Rúa do século XXI. O ex-presidente Rúa fugiu de helicóptero da Casa Rosada, em 2001. Naquela época ele era o protagonista de outra terrível crise econômica. Mesmo a contragosto, Milei terá de, mais cedo ou mais tarde, obrigatoriamente, afinar relações com Lula, presidente do Brasil, e a comunista China, se quiser que o seu governo tenha vida razoavelmente tranquila.