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Evilázio Gonzaga Alves

Jornalista, publicitário e especialista em marketing e comunicação digital

48 artigos

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Militares permitem passivamente a paralisação de projetos estratégicos de defesa

A Força Aérea Brasileira (FAB) anunciou, dia 15 de abril, que o desenvolvimento do projeto do Míssil Antirradiação MAR-1, foi suspenso. O MAR-1 é um míssil sofisticado ar-superfície, capaz de captar sinais de radiação de radares e atacar estes aparelhos de defesa aérea. Pouquíssimos países no mundo dominam essa tecnologia

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A Força Aérea Brasileira (FAB) anunciou, dia 15 de abril, que o desenvolvimento do projeto do Míssil Antirradiação MAR-1, foi suspenso. Segundo a Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), da FAB, responsável pela modernização dos equipamentos da força, a suspensão do programa ocorreu em decorrência da não renovação do contrato com a empresa Mectron, responsável pelo desenvolvimento do aparelho.

A Mectron foi criada pelo grupo Odebrecht, na sua fase de diversificação, quando realizou vários investimentos em empresas de alta tecnologia. Além da fabricante de mísseis, a Odebrecht também havia direcionado vultuosos investimentos para a indústria naval de ponta, adquiriu a capacidade de fabricar submarinos e modernos meios de superfície, assim como equipamentos tecnológicos no estado da arte.

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O MAR-1 é um míssil sofisticado ar-superfície, capaz de captar sinais de radiação de radares e atacar estes aparelhos de defesa aérea. Pouquíssimos países no mundo dominam essa tecnologia.

O desenvolvimento do míssil começou em 1998, quando o governo dos Estados Unidos sinalizou que iria vetar a tentativa do Brasil de adquirir aparelhos antirradar, para equipar seus modernos caças de ataque AMX A-1, construídos no país, em parceria com empresas italianas. Quando o MAR-1 já estava em desenvolvimento, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos confirmou a recusa em transferir tecnologia avançada para os brasileiros. Quando a empresa desenvolvedora tentou comprar alguns sistemas cuja tecnologia ainda não era dominada pelos técnicos brasileiros, o governo estadunidense comunicou que "a tecnologia antirradar não é liberada por razões de segurança nacional (...) e excede o nível de capacidade aprovada para o Brasil".

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A Mectron e a FAB insistiram em manter o desenvolvimento do aparelho e obtiveram impressionante sucesso. O MAR-1 não somente equipou as aeronaves AMX A-1 brasileiras, como também foi exportado para o Paquistão, que começava a sofrer bloqueios dos Estados Unidos nas suas compras militares, por causa da aproximação com a China. No país muçulmano, os MAR-1 equiparam os caças JF-17, desenvolvidos localmente, em parceria com a China e os franceses Mirage III.

Além do MAR-1, a Mectron, em parceria com a Denel, da África do Sul, também iria fornecer à FAB os moderníssimos misseis A-Darter, que estão entre os mais avançados do mundo na sua categoria, para equipar os Gripens E/F, que foram negociados com s Suécia, no governo Dilma Rousseff, e, em breve, começam a equipar a Força Aérea Brasileira.

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Todo o esforço em avançar no domínio tecnológico de ponta, tão importante para o desenvolvimento do país e a manutenção da soberania, foi abalado pela Lavajato. Enfraquecida pela política ingênua ou má intencionada dos procuradores e juízes que compõem a operação – que visou destruir os grandes conglomerados empresariais controlados por capital nacional, ao invés de punir os bilionários criminosos, porém preservando as mais poderosas empresas do Brasil – a Odebrecht não pode manter a operação e vendeu a Mectron para a israelense Elbit Systens.

A Elbit Systens, é uma empresa concorrente da Mectron e, com a compra, removeu um competidor do mercado mundial de mísseis avançados, dominado por corporações dos Estados Unidos, Rússia, China, União Europeia e Israel.

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Além da Mectron, o ramo da corporação baiana, responsável pelos investimentos em avançada tecnologia militar, a Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT), está sendo obrigada a vender a sua participação em todos os investimentos no setor. Um dos ativos mais importantes para o Brasil é a Itaguaí Construções Navais (ICN), que mantém uma sociedade de propósito específico com a francesa DCNS e a Marinha do Brasil, para a construção do Submarino Nuclear Brasileiro.

A ODT mantinha contratos com várias outras empresas brasileiras de ponta, como a Avibras e a Embraer, realizando investimentos bilionários, que asseguravam o desenvolvimento de inúmeros projetos estratégicos, como turbinas e sistemas de guia para mísseis e a produção de drones dotados de inteligência artificial – ambas tecnologias proibidas pelos
Estados unidos, para o repasse a países como o Brasil.

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Todos esses projetos se encontram atualmente semiparalisados ou avançam com extrema dificuldade.

CORROSÃO DA INDÚSTRIA ENFRAQUECE O BRASIL

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O Brasil conseguiu romper a barreira dos países centrais e desenvolveu sistema avançados de defesa e tecnologia – que agora está sendo paralisado – graças às políticas que foram iniciadas por Getúlio Vargas e, depois continuadas por todos os governos do país, inclusive no ciclo militar. Essas políticas dotaram o Brasil de dois elementos centrais para o desenvolvimento: um ensino superior de classe mundial e um vigoroso parque industrial, que nos melhores tempos esteve entre os maiores do planeta.

Além de atacar diretamente a indústria de defesa, as políticas governamentais nos últimos quatro anos estão corroendo as bases industriais e do conhecimento no país. Sem entrar no mérito – se essas políticas são intencionais ou fruto de incompetência – o fato concreto é que o Brasil está sendo condenado a se manter indefinidamente como um país de terceira categoria, incapaz de avançar para o desenvolvimento, de prover sua população de condições dignas de vida e de defender suas riquezas e interesses.

A CEGUEIRA DOS MILITARES BRASILEIROS

A mais nova participação dos militares brasileiros no poder expõe de maneira vexaminosa a fragilidade da preparação estratégica dos oficiais das forças armadas do Brasil. As declarações, decisões e ações dos militares que participam do governo federal, ou foram eleitos para o Congresso Nacional, indicam que eles não conseguem compreender o mundo moderno.

Os militares brasileiros provam a cada momento que não percebem os fundamentos da guerra pós-Revolução Industrial. E não é nem mesmo a guerra cibernética moderna, que os militares brasileiros não entendem. Pelo que dizem e fazem, eles não aprenderam nada do que aconteceu, em termos estruturais, desde Guerra Civil dos Estados Unidos.

A partir da Guerra de Secessão, os conflitos em grande escala são disputas industriais. Ganha o exército que tem o apoio de uma economia vigorosa e com base industrial. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos, o peso industrial do Norte esmagou os exércitos bem comandados do rico Sul, porém agrário, desindustrializado e dependente da importação de armamentos.

Um dos estudiosos que mais tem se aprofundaram sobre o assunto é o economista e historiador britânico Adam Tooze. No livro "O preço da destruição", Tooze aborda as questões econômicas envolvidas na 2ª Guerra Mundial. Ele apresenta, através de cuidadosos dados, gráficos, comparações e projeções, a economia e a força industrial dos principais países envolvidos no maior conflito da história.

Segundo o historiador, a Alemanha entrou em uma guerra que não tinha a menor chance de vencer. Os estudos comparativos do pesquisador britânico revelam que o estado da economia dos países envolvidos mais diretamente na guerra era extremamente desfavorável à Alemanha, Japão e Itália, em comparação com Reino Unido, Rússia e Estados Unidos.

A União Soviética, à época, era uma das economias que mais cresciam no mundo. E, após o choque inicial da surpresa, os russos transferiram suas indústrias para além dos Montes Urais, onde giraram a sua produção de máquinas e equipamentos, para a fabricação em massa de armas.

Já na Batalha de Moscou, que muitos estudiosos consideram ser a luta decisiva da 2ª Guerra, o Exército Vermelho jogou na batalha uma força devastadora.

Para efeito de comparação, a produção dos principais tanques alemães utilizados em todas as frentes de batalha foi de 5.984 Phanters, 9.000 Panzers IV, 1.342 Tigres 1 e 492 Tigres 2. Total: 16.818 tanques de diversos modelos. Enquanto isso, a indústria soviética lançou à batalha nada menos do que 84.000 dos excelentes T-34, que se tornaram o paradigma de todos os tanques de batalha que vieram depois dele, até os dias atuais.

Enquanto isso, a indústria dos Estados Unidos entregou 50.000 Shermans na frente ocidental. Para cada Tigre ou Pantera alemão, os estadunidenses dispunham de mais de 20 Shermans.

Nos combates aéreos e marítimos, a diferença foi ainda mais avassaladora.

Outra guerra, essa bem mais próxima do Brasil, também dá lições importante: o conflito das Malvinas.

Na louca aventura na qual os militares argentinos meteram o seu país, em 1982; quando tentaram se livrar do desgaste interno; a fragilidade industrial foi um fator decisivo, para a derrota. Na época, a Argentina possuía as mais poderosas e bem equipadas forças armadas da América do Sul. Porém, a quase totalidade dos equipamentos das três forças portenhas era importada.

Quando a disputa entre a Argentina e o Reino Unido perdeu as chances de ser resolvida via negociações diplomáticas, os fornecedores de armamentos interromperam suas entregas e se negaram a realizar as manutenções previstas em contrato. As forças argentinas viram arruinado, da noite para o dia, a maior parte do seu potencial de combate. Mesmo com demonstrações inúteis de coragem de seus pilotos e soldados, foi questão de dias, até que os britânicos expulsassem os portenhos das Malvinas.

Ao final da 2ª Guerra Mundial, a Argentina era a sexta mais rica nação do mundo. Por diversos equívocos, as lideranças que controlaram o país na maior parte do século XX nunca viram a necessidade de implantar as indústrias de base, que são o alicerce de uma potente economia fabril, como ocorreu no Brasil.

A derrota nas Malvinas é um dos exemplos mais trágicos do descaso de um país pelo desenvolvimento da economia com base na indústria.

FORMAÇÃO DOS OFICIAIS BRASILEIROS É ANTIQUADA

Os exemplos são tão contundentes, que cabe a pergunta: o que os oficiais brasileiros estão aprendendo nas academias, para não terem noção de como funciona o mundo moderno?

Há outra pergunta associada à esta primeira: o "patriotismo" dos militares brasileiros é sério ou somente marketing?

Ao assistirem passivamente a destruição do parque industrial brasileiro, inclusive da base tecnológica e de defesa, os militares brasileiros parecem não compreender o que garante a independência a força das nações após a revolução industrial.

Críticas veladas ao acordo entre a Embraer e a Boeing, feitas por oficiais brasileiros, que visitaram a LAAD 2019 – maior feira de equipamentos de defesa realizada na América Latina – não reclamaram da venda da empresa. O que esses militares criticaram foi da incapacidade do governo brasileiro, para "aproveitar" o momento da venda, para pedir ao governo estadunidense para fornecer alguns equipamentos ao Brasil.

Segundo o Site Poder Aéreo, que cobre assuntos militares, boa parte dos oficiais-generais de 4 estrelas das Forças Armadas está decepcionada com a timidez do Executivo, durante os entendimentos para a absorção, pela gigante americana Boeing, do setor de aviões comerciais da Embraer. Segundo relata o site, um dos oficiais presentes à LAAD 2019 declarou, sob a condição de anonimato que "o governo deveria ter precificado sua autorização para os entendimentos entre as duas companhias, e transformado isso no recebimento [pelo Brasil] de equipamentos militares".

"As Forças Armadas precisam de material sofisticado, e a Boeing fabrica diversos equipamentos que as nossas Forças desejam", continua o oficial. "Por que não exigir o fornecimento, a preço reduzido, de helicópteros de ataque e/ou transporte pesado para o EB e FAB? Ou a entrega de F/A-18 Super Hornet Block 3 para a MB? Ou de aviões reabastecedores para a FAB? Mísseis e outros equipamentos..."

Ou seja, os generais, brigadeiros e almirantes brasileiros aparentemente não conhecem os exemplos de todas as guerras após a revolução industrial, inclusive o doloroso exemplo da Argentina, que era equipada em 1982 com os mais modernos itens dos arsenais dos Estados Unidos e da Europa.

Na fala desse general, que reproduz o que pensa o mais alto oficialato brasileiro não há nenhuma noção da guerra moderna, muito menos preocupação com os terríveis riscos da dependência externa ou a importância de uma indústria de ponta para fortalecer o país. Parece que entre eles não foi assimilada a noção de soberania.

O PATRIOTISMO É SOMENTE MARKETING?

Opiniões como a do general, que falou no anonimato ao site Poder Aéreo, são o padrão entre os oficiais brasileiros e frequentemente repedidas, ou aceitas, nos meios militares, que hoje ocupam os mais altos cargos no governo do Brasil.

Esse ambiente de evidente fragilidade no preparo intelectual; que faz a maioria dos militares brasileiros ter imensas dificuldades de compreender a geopolítica atual; faz desconfiar profundamente da qualidade do sistema de formação das forças armadas no Brasil.

Pelo que se vê, o esquema de formação até dota os militares da capacidade de fazer complicados cálculos de balística (como o general Mourão gosta de exibir), mas não os ensina a raciocinar, preparando-os para compreender o mundo moderno, a geopolítica da atualidade, a guerra industrial e para que eles saibam reconhecer e defender os verdadeiros interesses do Brasil.

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