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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Militares vacilam e se protegem em lista de nove perguntas

“A nota fala da saudade que os brasileiros sentiriam da ditadura, quando todas as pesquisas dizem o contrário. Não há saudade nenhuma. A população não quer mais saber de ditadores e torturadores”, diz o jornalista Moisés Mendes

Nova política de defesa inclui cenário de guerra na América do Sul (Foto: ag. Brasil)
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia 

Foi um fracasso a nota em que o Clube Militar lamenta a manutenção da prisão de Daniel Silveira. Outras notas, com as compras de bacalhau e uísque 12 anos, todos sob suspeita de superfaturamento, tiveram maior repercussão.

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Os jornais da grande imprensa deram com destaque as notas das compras há uma semana. E agora esconderam nos cantinhos dos sites a nota de exaltação da ditadura.

A grande imprensa e o centrão, que referendaram a prisão de Silveira, não cairiam na armadilha de lamentar a punição de um fascista, para defender Bolsonaro e a ditadura.

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A nota do Clube Militar tem, para a população em geral, menos valor do que as notas do bacalhau. Porque o bacalhau tem peso e tem preço concretos, ao lado de outras iguarias. O cheiro do bacalhau é um incômodo real.

A nota fala da saudade que os brasileiros sentiriam da ditadura, quando todas as pesquisas dizem o contrário. Não há saudade nenhuma. A população não quer mais saber de ditadores e torturadores.

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Ninguém sabe ao certo hoje o que o Clube Militar representa e que força tem entre os próprios militares da reserva e da ativa. Em outras épocas, o clube transmitia recados, porque pretendia falar em nome de uma maioria.

Hoje, poucos sabem o que significa uma nota do Clube Militar em que, ao invés de afirmações, são feitas perguntas.

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São interrogações enumeradas em nove itens, com presumidas dúvidas que ressuscitam até o caso de Adelio Bispo, o homem da facada.

A pergunta mais constrangedora é a última, a que defende Silveira, mesmo que de forma enviesada, ao indagar se a sua punição pelo Supremo teria sido motivada pelo fato de que ele é apoiador de Bolsonaro.

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Sabe-se que falas e textos dizem mais do que pretendem dizer. Todos sabiam, por exemplo, que Fernando Henrique Cardoso raciocinava no governo pela negação.

As frases de FH eram e ainda são sustentadas por raciocínios que iniciam com um não. Não isso, não aquilo, não faremos, não desejamos, não queremos a desgraça de Bolsonaro.

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A nota dos militares usa um truque do jornalismo, que é o de perguntar para ao mesmo tempo insinuar respostas.

Não são perguntas de entrevistadores ou de inquisidores, não é disso que se trata. São insinuações, como essa: “Por que os ilustres Ministros do STF pensam que apoiar o Regime Militar que foi instaurado a partir de 1964 é crime?”

É uma pergunta com uma premissa torta. Silveira não apenas defendeu o regime militar (com minúsculas) iniciado em 64. O deputado fascista defende a volta da ditadura e o fechamento do Supremo e ainda faz ameaças aos ministros da mais alta Corte.

Generais não deveriam sustentar reflexões a partir de uma lista de perguntas. Líderes militares precisam ser mais assertivos. As indagações tornam as questões ainda mais gasosas.

Mas, fazendo perguntas, os generais do Clube Militar escapam da armadilha da afirmação. Perguntas podem ser lidas como dúvidas, mesmo que carreguem nas entrelinhas uma afirmação. As perguntas expressam posições vacilantes.

Das poucas afirmações explícitas presentes na nota, essa é a mais esdrúxula: “A Democracia que temos hoje no Brasil começou em 1964”.

Em 1964 começaram as arbitrariedades, a tortura, os desaparecimentos, os julgamentos sumários, os assassinatos, a cassação de inimigos e até de ex-amigos do regime.

Resumindo, a nota é ruim e não ajuda na reflexão sobre o papel dos militares hoje, dilema que os argentinos, os uruguaios, os chilenos e agora os bolivianos já superaram.

Falta vitalidade a um texto que, na sequência de uma decisão grave da Câmara, deveria avisar ao país que os militares estão ao lado da Constituição. Mas a palavra Constituição não aparece uma só vez no texto, que tem 303 palavras.

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