Minha amiga formiga

*Por Amália Spedo Solnik, minha neta de 4 anos 

Eu abri a torneira da pia do banheiro quando ouvi um grito: 

 “Não faça isso, você vai me afogar!” 

Levei um susto porque não tinha ninguém no banheiro. Só eu. Quem gritou? 

“Olhe aqui pra baixo” falou a voz, agora mais baixo. “Sou eu!” 

Eu fechei a torneira e olhei dentro da pia. E aí vi quem estava falando comigo. 

Uma formiguinha! 

“Muito obrigada” ela disse “você me salvou!” 

 “Eu não sabia que vocês falavam” ,eu disse. 

“Pois é, os seres humanos não nos escutam porque falamos muito baixinho. Você é a primeira pessoa que me escutou.” 

“Se você não sabe nadar, por quê mora nessa pia?” 

“Ah, eu estou aprendendo a nadar… as formigas da Austrália são campeãs de natação. Mas ainda não sei nadar direito!” 

A formiguinha contou que não morava na pia. Ela estava fugindo de casa porque as formigas-soldado estavam atrás dela. A rainha das formigas deu ordem para prender a formiguinha. 

 E ela não queria ficar presa. 

“Por que a rainha está brava com você?” 

 “Porque ela acha que eu quero ser a rainha no lugar dela. Mas eu não quero!” 

Resolvi ajudar a formiguinha. Fui ao meu quarto, entrei no guarda-roupa e peguei minha capa mágica! 

Vesti a capa e falei as palavras mágicas: 

“Abracadabra… leite de cabra… capa, minha amiga, me transforme numa formiga!” 

E virei uma formiga! 

Só que para voltar ao banheiro levei muito tempo, o banheiro ficou muito longe para uma formiga! 

Minha amiga formiga estava lá, na pia, esperando por mim. E eu falei: 

“Me leve até a rainha, eu vou falar com ela!” 

Entramos pelo encanamento. 

Logo na primeira esquina apareceram três formigas-soldado, que mandaram a gente parar. 

Eu fui em frente. O primeiro soldado, derrubei com um soco no queixo. O segundo tentou me agarrar, mas eu o atirei para longe. O terceiro fugiu! 

Eles não sabiam que por fora eu era uma formiga, mas por dentro eu era a Super Mali! 

Quando chegamos na frente da rainha, ela já sabia que eu tinha vencido os soldados, as outras formigas-soldado tinham contado pra ela. 

“Não posso mais ser a rainha” , ela disse pra mim, “você é a formiga mais forte, por isso a rainha tem que ser você agora”. 

Ela desceu do trono, tirou a coroa e colocou a coroa na minha cabeça e pediu para eu sentar no trono. 

E assim virei a rainha das formigas. 

Mas já estava na hora de voltar pra casa. 

Devolvi a coroa para a rainha e falei: 

“Nunca mais persiga minha amiga, e eu prometo que lá em casa ninguém vai pisar nas formigas!” 

“Pode deixar”, disse a rainha, “você será para sempre nossa rainha honorária”. 

Voltei pelo mesmo caminho até a minha casa. Entrei rapidinho no armário, entrei na capa mágica e virei Amália de novo. 

“Onde você estava?”, o papai perguntou. 

“Procuramos você pela casa toda”, disse a mamãe. 

“E não adianta inventar essa história da Super Mali!”, o papai falou, “a Super Mali não existe!” 

“Eu estava no meu esconderijo mágico, por isso vocês não me acharam”, eu disse. 

Se eu contasse a verdade, eles não iam acreditar. 

Os adultos não enxergam o que só as crianças podem ver!