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Ricardo Mezavila

Escritor, Pós-graduado em Ciência Política, com atuação nos movimentos sociais no Rio de Janeiro.

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Minha ignorância sobre Pelé

Crescemos dentro de uma cultura deturpada de que são eles, os negros, que devem ter a resposta sobre escravidão, racismo e exclusão. Logo eles, que foram escravizados, sofrem preconceito e são excluídos

Pelé (Foto: REUTERS/Christian Hartmann)
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Assim como muitos brasileiros que cobram das celebridades do esporte, da música, das artes e da mídia em geral, opiniões claras sobre posicionamentos ideológicos, políticos e sociais, também já tive meu momento de questionar Pelé, o gênio, o rei do futebol, por uma atuação mais consistente nas questões raciais. 

Crescemos dentro de uma cultura deturpada de que são eles, os negros, que devem ter a resposta sobre escravidão, racismo e exclusão. Logo eles, que foram escravizados, sofrem preconceito e são excluídos. Mesmo Pelé, o homem negro brasileiro mais conhecido em todos os cantos do mundo, não tem essa resposta. 

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Os brancos devem essa resposta à humanidade, mas para isso precisam rever a história sem o chicote do slave power e o terço da religião, mas com a régua da justiça para contar o que foi retirado de uns para o benefício de outros.    

Pelé atravessou os anos de 1960 até 1977 dentro das ‘quatro linhas’ protagonizando os maiores lances da história do esporte. Disputou quatro copas do mundo, sendo campeão em três, marcou mais de mil e duzentos gols, foi reconhecido pelas entidades oficiais do futebol como o maior jogador de todos os tempos e atleta do século XX.  

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Àquela época não se discutia o racismo como fazemos hoje, embora falte muito a ser discutido, porém avançamos em relação a um tempo em que se dizia e se escrevia nos jornais que ‘Pelé era negro de alma branca’, uma justificativa para aceita-lo em uma posição distante da realidade dos negros. 

Havia, na mesma época, o pugilista Cassius Clay que, convertido ao islamismo, passou a se chamar Muhammad Ali. Ali era campeão mundial de boxe e tinha colocações políticas fortes. Talvez as intervenções de Muhammad Ali tenho sido parâmetro para que outros negros de projeção, principalmente o rei do futebol, tivessem comportamentos mais engajados. 

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A disparidade cultural entre Brasil e EUA é gritante, enquanto Pelé fez gols pela seleção do exército que usou sua imagem  antes e depois do golpe, Muhammad Ali se negou a ir à guerra do Vietnã: “Fui avisado de que essa atitude me custaria milhões de dólares. Mas eu já disse isso uma vez e vou dizer de novo. O inimigo real do meu povo está aqui. Não vou desgraçar minha religião, meu povo ou a mim mesmo tornando-me um instrumento para escravizar aqueles que estão lutando por justiça, liberdade e igualdade…”. 

Muhammad Ali era amigo de Martin Luther King, Malcolm X era seu mentor espiritual. Uma pesquisa rápida no Wikipédia sobre Ali, sabemos que ele nasceu em Kentucky, nos EUA, descendente de escravos afro-americanos do sul e também de irlandeses e ingleses. Seu nome de batismo, Cassius Marcellus Clay, foi em homenagem a um líder abolicionista. 

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A biografia de Pelé no Wikipédia diz que nasceu em Três Corações, MG, que é um ex-futebolista, que chutava com os dois pés, cabeceava bem, teve média de quase um gol por jogo, tem uma lista infinita de prêmios e, muito importante, chegou a ser por um período o atleta mais bem pago do mundo.  

Nenhuma referência ancestral e histórica relevante, como se o negro brasileiro tivesse a mesma origem de quem o escravizou. Para essa sociedade, Pelé é a segunda opção sobre o que escreveu o jornalista Armando Nogueira: “Se não nascesse gente, Pelé nasceria bola”.  Passaram borracha no passado, como exigir uma leitura politizada? 

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Dia 23 de outubro Pelé completará 80 anos. Os liberais, Pelé,  dirão que você deixou as bolas de meia para conquistar o mundo e que isso é meritocracia. A sua ancestralidade, assim como Garrincha, Pepe e Tostão, foram consequências para que você se tornasse um Rei. 

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