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Cardes Amâncio

Realizador audiovisual, doutorando em estudos de linguagem no Cefet-MG e coordenador do Cinecipó - Festival do Filme Insurgente

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Ministro da Cultura ilegítimo anuncia invasão dos estúdios hollywoodianos no Brasil

A bola da vez é o cinema nacional. O ministro ilegítimo da Cultura, Sérgio Sá Leitão, se reuniu com 20 executivos dos seis maiores estúdios cinematográficos do mundo. Leitão foi lá na terra da maior indústria cinematográfica do mundo dar os primeiros passos para mais uma tentativa de aniquilação do cinema brasileiro

A bola da vez é o cinema nacional. O ministro ilegítimo da Cultura, Sérgio Sá Leitão, se reuniu com 20 executivos dos seis maiores estúdios cinematográficos do mundo. Leitão foi lá na terra da maior indústria cinematográfica do mundo dar os primeiros passos para mais uma tentativa de aniquilação do cinema brasileiro (Foto: Cardes Amâncio)
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Somos a favor do fortalecimento do cinema brasileiro. Que a indústria audiovisual possa gerar emprego e desenvolvimento ao nosso país sem se submeter aos desígnios de outros países, sem remeter lucros ao exterior, sem aterrar aqui para disseminar suas narrativas hegemônicas. Queremos o cinema da diversidade, que já empenha uma grande luta em ocupar as salas já dominadas pelo cinema estadunidense. O Brasil tem direito a se expressar. As pessoas têm direito de se (re)conhecerem através da arte. Exigimos o Ministério da Cultura do Brasil atue pelos interesses do Brasil e dos brasileiros.

Com as retinas fatigadas de ler tantas notícias péssimas de ataques à soberania nacional pós-golpe de 2016, nos deparamos com mais uma. A lista é grande, mas é importante nos recordamos, sendo que algumas delas ainda estão tentando ser implantadas por um governo que não foi eleito, ou seja, ditador de um plano de governo que não foi legitimado pela população. Então já foi aprovada a Pec-55 que limita os gastos em saúde e educação (sucatear SUS e ensino público, para depois privatizar), entrega do pré-sal, ataques à previdência e aposentadoria, tarifaços (como o gás de cozinha), etc. A bola da vez é o cinema nacional. No dia 2 de novembro de 2017 o ministro ilegítimo da Cultura, Sérgio Sá Leitão, se reuniu com 20 executivos dos seis maiores estúdios cinematográficos do mundo, integrantes da Motion Pictures Association of America. Leitão foi lá na terra da maior indústria cinematográfica do mundo dar os primeiros passos para mais uma tentativa de aniquilação do cinema brasileiro.

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Sob o aspecto político a produção cinematográfica autônoma e soberana de um país trabalha os elementos de sua cultura, de sua diversidade e das múltiplas singularidades formadoras de seu povo. O cinema é um campo de produção de subjetividade sempre em disputa, espaço de enfrentamento do discurso único produzido por uma elite dominante, que desde o surgimento do cinema, tenta limitar as possibilidades infinitas da arte que Glauber Rocha definiu como máquina liberadora de sonhos. Sonhamos com um país sem desigualdades sociais, sem preconceitos raciais, que reconheça devidamente seus povos nativos, que demarque terras de indígenas e quilombolas, que valorize a agricultura familiar e a produção de alimentos livre de venenos, dentre outras potências que nos animam na batalha cotidiana. Um regime democrático deve propiciar e estimular uma produção audiovisual nacional que projete na tela a pluralidade de vozes, que faça a partilha do sensível e amplie o campo popular da participação política. Um cinema brasileiro que nos dê a ver, e ao mundo, um Brasil em constante e inextinguível reinvenção de seu povo através de seu povo.

Sob o aspecto econômico cinema é indústria. E uma indústria altamente rentável, pois além de gerar receitas diretas pela exploração da obra, produz algo que ao Império1 é bem mais lucrativo: consciência ou a falta dela. Ao capital transnacional rentista não interessa uma população que conheça Zumbi dos Palmares, que saiba que hoje existem milhares de remanescentes de quilombos e de que forma as ocupações urbanas se relacionam com a insurgência secular dos brasileiros, por exemplo. Interessa um cinema de entretenimento, que nos mantenha alienados e seja capaz de produzir formas de vida orientadas pelo consumismo, o individualismo e a inércia frente, por exemplo, a um golpe de Estado, cuja orientação entreguista internacional se empenha em entregar o petróleo do pré-sal e agora o nosso cinema.

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O cinema dos Estados Unidos já desfruta da inexistência de barreiras alfandegárias em prejuízo do cinema brasileiro. Conhecemos bem o modelo de implantação industrial aqui na colônia e o pacote de benesses que o acompanha: incentivos governamentais de toda sorte, como isenções tributárias e doações de terrenos, já amaciados pela reforma trabalhista que destruiu a CLT. O discurso cínico e mofado do ministro, que promete desenvolvimento e geração de emprego, é o mesmo discurso da chegada das indústrias automobilísticas gringas no Brasil. Em vez de fomentar a indústria nacional, o governo brasileiro no século passado doou terrenos, deu anos de isenção fiscal e as montadoras aqui se instalaram, aproveitando a mão-de-obra barata e exportando seus lucros para seus países de origem. Seguimos carregando os países desenvolvidos nas costas, desde o pau-brasil. Posso apostar que na cartilha de oferecimentos aos estúdios gringos estará também o fim da Condecine, do Fundo Setorial do Audiovisual e das políticas públicas implantadas durante o governo de Lula e Dilma para estimular o cinema brasileiro. Os profissionais do cinema serão meros assalariados mal-pagos destes estúdios e nossa cultura extremamente rica ficará reduzida a um novo Schwarzenegger na Amazônia2.

1 Império na concepção hardt-negriana da fase atual do capitalismo ultra-globalizado, cognitivo, pós-fordista e pós Estados-nação.

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2 Como cantado em "Azia amazônica", de Mundo Livre S/A: "Hollywood, pentágono, multiplex, conspiração / Aliança liberal, schwarzenegger na amazônia / Mero efeito colateral, entretenimento fundamental / Lotação esgotada, estratégica e máxima ocupação".

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