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Valéria Guerra Reiter

Escritora, historiadora, atriz, diretora teatral, professora e colunista

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Mobilidade social x projeto pessoal de poder

Graças a Deus, ainda existem alguns ‘Diógenes’ incorruptos diante da luz solar

Mobilidade social x projeto pessoal de poder (Foto: Arquivo/ABr)

A historiografia nos legou um nome basilar da filosofia: Diógenes. Este personagem grego fez parte da história em que saía em plena luz do dia com uma lamparina acesa, procurando por homens verdadeiros (ou seja, homens autossuficientes e virtuosos).


Igualmente conhecida é sua história com Alexandre, o Grande, que, ao encontrá-lo, teria lhe perguntado o que poderia fazer por ele. Acontece que, devido à posição em que se encontrava, Alexandre fazia-lhe sombra. Diógenes, então, olhando para Alexandre, disse: "Não me tires o que não me podes dar: deixa-me ao meu sol." Essa resposta impressionou vivamente Alexandre que, na volta, ouvindo seus oficiais zombarem de Diógenes, declarou: "Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes."

“É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexos com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta. Neste fragmento acima está grafada parte da Lei da Anistia de 1979.”

Depois de um período de sombras e polarização, que se estendeu da Monarquia à República, entre golpes e ditaduras, o Brasil embarcou na era da democracia, dando vez à criação de uma Carta Magna mais humanística, recheada de cuidados e voltada para o bem comum. Será que tudo o que favorece o povo está sendo cumprido?

As regalias que regam muitos agentes públicos do chamado alto escalão nacional são amplas. As oportunidades de ascensão econômica de vários fogem ao entendimento popular e se encontram diametralmente opostas às possibilidades de mobilidade social do cidadão.

Para ascender socialmente, por meio do próprio esforço, as pessoas precisam de oportunidades iguais de acesso à educação de qualidade. No entanto, o Brasil tem um grave problema de desigualdade educacional, que afeta as possibilidades de mobilidade social dos seus cidadãos. Para avaliar essa questão, o Imds desenvolveu o Índice de Oportunidades Educacionais (IOE).
O IOE foi baseado em indicador do Banco Mundial e leva em conta as características individuais que podem influenciar a trajetória educacional das pessoas, como sexo, cor da pele, renda e localização, e usa indicadores de oportunidade que representam os principais estágios da educação. O índice é uma ferramenta útil para elaborar políticas públicas que reduzam a desigualdade educacional e promovam a mobilidade social no Brasil, identificando os fatores que mais precisam de atenção.


A apresentação “Oportunidades Educacionais e Mobilidade Social no Brasil” mostra como o índice foi calculado e quais foram os principais achados sobre as desigualdades educacionais no país. Ela detalha cada indicador, com dados históricos desde 2012 e comparações entre as regiões do Brasil.

Não resta dúvida de que há uma camada da população que detém a competência para fazer nascer possibilidades técnicas que medem e avaliam os níveis disso ou daquilo na esfera sociológica de um espaço geográfico, dentro de um sistema populacional, e em termos econômicos e sociais. O que precisamos lamentar é que, com todo esse avanço, observamos que a pobreza grassa, assim como a criminalidade.

Quando lemos notícias sobre bens avaliados em milhões ou até bilhões, comprados por autoridades públicas oriundas de variados nichos do poder, concluímos que uma boa distribuição de renda está longe de coexistir no quadro da mobilidade social. São poucos ascendentes e muitos desafortunados. Estranho.

Boa nutrição, viagens, excelente educação: não fazem parte da vida de muitos milhões de brasileiros. Infelizmente, o que sobra, com muita sorte, é futebol, a novela e as séries da Netflix. Ler, no Brasil, é artigo de luxo. Quem acorda às 5 h da madrugada para lutar na savana da desigualdade não possui lucidez para sorver as letras... Dorme no ônibus, no trem, voltando para casa, quando a tem.


O autodidatismo não morreu, mas está moribundo; com certeza, usa-se e abusa-se dele para sobreviver.

Graças a Deus, ainda existem alguns “Diógenes” incorruptos diante da luz solar. No entanto, fiquemos atentos, pois, se algum tirano resolver criar o imposto do sol, metade da população morrerá de raquitismo, doenças autoimunes, diabetes, problemas neurológicos e outras patologias decorrentes da falta de vitamina D.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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