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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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"Momentos baixos"

A movimentação do porta-aviões Gerald Ford revela que os EUA seguem prontos para repetir seus “momentos baixos” na América Latina

Donald Trump e Nicolás Maduro (Foto: Manaure Quintero/Reuters I Piroschka Van De Wouw/Reuters)

O porta-aviões Gerald Ford já chegou ao Caribe e fincou âncora perto da Venezuela.

Isso não significa, necessariamente, que haverá uma invasão terrestre naquele país — uma ação muito arriscada. A Venezuela tem forças armadas razoavelmente equipadas e um número expressivo de soldados, mais de 150 mil. Os EUA, até agora, reuniram cerca de 10 mil homens na área, o que é claramente insuficiente para uma ocupação terrestre plena.

Mas o grupo de ataque liderado pelo Gerald Ford é mais do que suficiente para promover ações estratégicas destinadas a desestabilizar o governo Maduro.

O grupo de ataque do Gerald Ford pode, por exemplo, derrubar as telecomunicações da Venezuela, bombardear infraestruturas críticas, desmontar redes de radares, destruir aeroportos, assassinar ou sequestrar membros do governo etc. Enfim, pode exercer muita pressão e desencadear grande destruição.

No Panamá, em 1989, um país muito menor e bem mais fraco, houve uma invasão terrestre para derrubar Noriega, que havia rompido com os EUA após ter sido, por décadas, um agente da CIA.

Uma historinha para lembrar como os EUA operam em nossa região — e em várias outras partes do planeta.

Quando o governo Bush (pai) resolveu derrubar Noriega, que tinha sido, repito, agente da CIA durante décadas, invadiu o pequeno e fraco Panamá com marines e forças especiais. A operação foi bem-sucedida e resultou na morte de 516 panamenhos. Contudo, o general Noriega, acusado de narcotraficante pela Justiça estadunidense, conseguiu escapar em um primeiro momento.

Ele se refugiou na Nunciatura Apostólica da Cidade do Panamá, que, obviamente, tem status de embaixada e não podia ser invadida.

No entanto, os EUA adotaram uma tática para forçar a saída de Noriega da Nunciatura: colocaram grandes sistemas de som, muito potentes, próximos ao local, e começaram a transmitir, dia e noite, músicas de heavy metal em volume altíssimo, o que tornou impossível a vida dentro da Nunciatura.

Obviamente, isso violava a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas. Mas os Estados Unidos o fizeram assim mesmo, forçando Noriega a sair do refúgio.

Brent Scowcroft, que na época servia como conselheiro de Segurança Nacional de Bush, reconheceu mais tarde que aquele fora um “momento baixo” na história das forças armadas dos EUA.

Bem, a história das ações externas dos EUA é um poço profundo de “momentos baixos”. Maduro poderá ser mais um.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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