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Luís Costa Pinto

Luis Costa Pinto, jornalista, editor especial do Brasil 247 e vice-presidente da ABMD, Associação Brasileira de Mídia Digital

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Monark perdeu o programa, Kataguiri tem de ser punido por apoio a ele. Comunicadores têm de ser sóbrios e responsáveis

Episódio protagonizado em espiral pelo “youtuber”, em conluio com o deputado do mbl que apoiou a apologia ao Nazismo, tem de ser didático e exemplar para o País

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Por Luís Costa Pinto, do 247 –  Bruno Aiub, vulgo Monark, era um sujeito folgado e bon vivant. A pretexto de montar um canal de comunicação focado no universo gamer, que tem seu público e seus códigos, terminou por se tornar co-criador de um podcast chamado Flow. E as coisas fluíram muito bem mesmo, fazendo um trocadilho quase vexaminoso com o nome do negócio: sem ter hora para acabar, método, e com conteúdos quase hedonisticamente irresponsáveis, os bate-papos conduzidos por Monark com seus convidados jamais flopavam.

Deu-se, então, que Aiub e seus sócios acharam por bem influenciar também o debate político. Enveredaram por uma seara até então desconhecida por eles – a das ideias, dos conceitos, do conteúdo mesmo. Até a manhã desta 3ª feira, 8 de fevereiro, contabilizavam 3,8 milhões de seguidores. Vídeos deles, com gravações dos extensos episódios do podcast, tinham 18, 19, 20 milhões de visualizações. 

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Tamanha exposição atraiu políticos de um amplo diapasão ideológico, levados até lá pelas luzes dos holofotes como mariposas voam na mata em torno dos postes largados na margem da estrada, comunicadores de diversas gradações e anunciantes. A Federação de Futebol do Rio de Janeiro deu ao podcast, ou ao canal dele no YouTube, licença para transmitir os jogos do Campeonato Carioca. 

Até a noite da 2ª feira passada, Monark e o Flow criam estar construindo um caso de sucesso na Comunicação Social brasileira e na mídia digital. Certamente se imaginavam donos de um veículo convertido numa espécie de Joe Rogan tupiniquim.

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Bolsa-memória: Joe Rogan é o polêmico podcaster norte-americano que vendeu a ancoragem de seu programa para a plataforma Spotify por US$ 100 milhões e leva gente dos mais variados quadrantes de opinião para falar em seu microfone dourado. Por ele passam, os passaram, desde o senador de esquerda Bernie Sanders, até ativistas antivacina e invasores do Capitólio que estavam no centro da cena de ameaça à democracia dos Estados Unidos. No momento, anunciantes e parceiros de conteúdo do Spotify, artistas e intelectuais travam uma guerra com o Spotify em especial, e com as plataformas de distribuição de conteúdo em geral, pedindo o cancelamento de Rogan por ele ser difusor de conteúdo extremista, anticientífico e criminoso.

O podcaster norte-americano convida pessoas odiáveis e odientas, em meio a um portfólio de alguns nomes interessantes que têm algo a dizer, para falar em seu programa. Erra muito, em minha opínião, ao deixar sem interrupção, sem obstáculo, falas que são como crimes sendo cometidos ao vivo para quem o assiste ou escuta. Do microfone dos convidados de Rogan saem, sim, apologias a verdadeiros passeios pelo Código Penal e por atitudes derrogatórias à civilidade e aos Direitos e Garantias Fundamentais dos cidadãos. Raramente, muito raramente, as atrocidades são verbalizadas por Joe Rogan. Pode-se alegar contra ele o fato de estar na cena do crime. Mas, é o convidado sem noção quem os comete no programa. As plataformas que espalham universalmente, por sua vez, são acusadas de atos comissivos por omissão: onde estaria a autorregulação? Inexiste. Bingo! É crime, então. É?

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Quando Monark descobre que não era o Joe Rogan tupiniquim:

Bruno Aiub, o Monark, sonhou ser o Joe Rogan tupiniquim. Seus sócios no Flow tinham certeza que estavam no caminho certo. O ex-juiz Sérgio Moro, considerado pelo Supremo Tribunal Federal uma criatura parcial enquanto envergou a toga e agora investigado por corrupção privada pelo Tribunal de Conta da União, esteve lá no podcast. O papo fluiu, até porque Monark não foi hostil com o operador da Lava Jato e cabeça central do lavajatismo. O apresentador fumou uns baseados enquanto entrevistava presencialmente o ex-juiz e o programa foi patrocinado por uma casa de prostituição de luxo de São Paulo.

Deu-se o pesadelo, na noite de 2ª feira, 7 de fevereiro: confessamente bêbado – algo que alegou, pasmem, em sua defesa, Monark ancorou um bate-papo de mais de quatro horas de duração com a deputado federal Tábata Amaral (PSB-SP) e o deputado Kim Kataguiri (DEM, mas, eleito com a força do “movimento brasil livre” que construiu e liderou durante o golpe de 2015/2016 contra o mandato legítimo da presidente Dilma Rousseff). No meio da mixórdia de temas, começou-se a deitar falação sobre atitudes nazistas ou de vezo fascista de determinadas pessoas e setores da sociedade brasileira. Aí, Monark bailou na curva e, ao derrapar, derrubou também o tal Kim Kataguiri.

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O desfile de boçalidades, de desconhecimento histórico, de ignorância política, de idiotia rastaquera, enfim, apresentado por Monark (ou Bruno Aiub) em defesa da existência de Partidos Nazistas porque agir assim seria “democrático” -- para que qualquer um pudesse “defender suas ideias”, alegava ele -- foi acompanhado ora com o silêncio obsequioso, ora com a concordância ativa de Kataguiri. 

Calma, racional, argumentativa, revelando uma bravura existencial escassa em políticos e uma riqueza parlatória rara em jovens políticos, a deputada Tábata Amaral cavou a trincheira da defesa da civilidade e do bom senso e se manteve nela respondendo ao fogo repleto de nulidade e parvoíces do até ali “comunicador de massas” Monark. 

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As plataformas têm de usar o episódio e aprimorar a autorregulação

O rastilho de pólvora não demorou a atingir os núcleos explosivos da opinião pública. Sim, as plataformas de streaming, o YouTube, o Spotify, as redes sociais, são hoje os maiores canais de formação de opinião pública e de intervenção – ou interdição – no debate político. Antes do começo da tarde, diversos patrocinadores haviam cancelado o apoio comercial ao Flow. A Federação de Futebol do Rio retirou o direito de o canal transmitir os jogos do Campeonato Carioca. 

Movimentos dos mais diversos quadrantes da sociedade civil, sobretudo núcleos judaicos, a Embaixada da Alemanha, ministros do STF e até a procuradoria-geral da República manifestaram-se contra o crime de apologia ao Nazismo cometido por Monark e conluio com Kataguiri. 

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Os sócios de Bruno Aiub cassaram-lhe a ancoragem do programa, pediram desculpas formais, estão analisando as formas de retirá-lo da sociedade. Foi como se o fogo ateado por um bêbado numa palhoça, à noite, tivesse consumido tudo, em poucos minutos, com o bêbado dentro. Foi rápido o auge do incêndio. 

Entretanto, o rescaldo das cinzas vai demorar. Monark e Kataguiri têm um ajuste de contas com a Justiça e terão de fazê-lo. As plataformas que deram a corda de seda por meio da qual Aiub se enforcou e apertou o nó contra o deputado do “mbl” precisam, a partir daqui, estabelecer métodos de autorregulação mais eficazes. Ou tiramos um aprendizado instantâneo desse episódio, ou novos Monarks surgirão turvando o ambiente da mídia digital. Monark nunca foi jornalista, nunca teve a responsabilidade de um comunicador social, o Flow jamais quis ter a responsabilidade que um veículo de comunicação precisa encarar.

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