Moraes mantém Bolsonaro preso e segura o tabuleiro da direita para 2026
A prisão domiciliar de Bolsonaro vai muito além da esfera penal
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), manteve Jair Bolsonaro (PL) em prisão domiciliar ao alegar risco de fuga e a necessidade de garantir a aplicação da lei penal.
A decisão ocorre num momento em que o “time político” do país se reorganiza para as eleições de 2026, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentará a reeleição e a direita ainda busca um candidato capaz de unificá-la.
Na decisão desta segunda-feira (13), Moraes afirmou haver “fundado receio de fuga” do ex-presidente, condenado a 27 anos e três meses por tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.
O ministro sustentou que as medidas cautelares são “necessárias e adequadas” para assegurar a execução da pena e a ordem pública.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) apoiou a manutenção da prisão domiciliar, mesmo sem incluir Bolsonaro na denúncia do inquérito que apura coação ao Judiciário.
A defesa tentou argumentar que a ausência de denúncia formal demonstraria falta de indícios, mas Moraes rebateu que o risco persiste e que Bolsonaro descumpriu decisões anteriores.
O magistrado ainda autorizou visitas médicas e internações, desde que comunicadas em até 24 horas.
Para analistas políticos, a decisão de Moraes tem efeito direto sobre o equilíbrio de forças na direita.
Com Bolsonaro contido, o Supremo evita tacitamente que o ex-presidente volte ao centro da cena política e interfira no processo de reorganização da oposição.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e nome preferido dos oligarcas da Faria Lima e da velha mídia corporativa, segue como aposta dos mais ricos.
Mas sua candidatura depende de uma transição controlada: antes da soltura ou reabilitação de Bolsonaro, é preciso estabilizar o novo comando político da direita.
Tarcísio ainda não dispõe de base orgânica própria nacional.
A força do governador de SP depende de um vácuo controlado, com Bolsonaro fora de cena, ainda que temporariamente.
Por isso, líderes da direita evitam movimentos bruscos: qualquer sinal de rompimento ou disputa aberta poderia reativar o clã Bolsonaro e desorganizar a estratégia de sucessão para 2026.
Nos bastidores, caciques como Gilberto Kassab (PSD) e Ciro Nogueira (PP) tentam articular uma frente que una Republicanos, PL e PSD em torno de um discurso moral, liberal-conservador de gestão, e estabilidade neoliberal.
Mas o projeto só avança se Bolsonaro continuar juridicamente neutralizado.
Para o Planalto, a decisão de Moraes tem impacto político evidente: preserva a estabilidade institucional e mantém a oposição dividida.
Enquanto isso, Lula amplia vantagem nas pesquisas e entra na disputa com a máquina pública e o cenário internacional a seu favor.
A prisão domiciliar de Bolsonaro, portanto, vai muito além da esfera penal.
É também um movimento de contenção política que segura a extrema direita e dá tempo para o sistema definir os novos limites do jogo eleitoral de 2026.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




