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Fernando Rosa

Fernando Rosa, jornalista, editor do blog Senhor X, especializado em geopolítica.

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Mulambos e Calabares

O candidato a vice do capitão Bolsonaro, o general Mourão, mostrou a que veio na campanha eleitoral. Chamou os países emergentes de “mulambada”, em especial os africanos, asiáticos e latinos. As palavras dele traduzem a negação da história do Exército Nacional, parido na “Guerra Brasílica”, no século XVII, que uniu índios, negros e portugueses – ou seriam “mulambos”?

Mulambos e Calabares (Foto: Bruno Kelly - Reuters)
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Fernando Rosa & Felipe Camarão – O candidato a vice do capitão Bolsonaro, o general Mourão, em sua mais recente aparição pública mostrou definitivamente ao que veio na campanha eleitoral. Segundo noticiou a mídia em geral, o general Mourão chamou os países emergentes de “mulambada”, em especial os africanos, asiáticos e latinos, e disse que sua “chapa” é contrária a política Sul-Sul de Lula. As esclarecedoras palavras evidenciam preconceito e ignorância geopolítica, confirmando um indisfarçável alinhamento aos interesses norte-americanos.

O que disse o general Mourão, segundo a mídia:

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– “Partimos para aquela diplomacia que foi chamada de Sul-Sul, e aí nos ligamos com toda a mulambada, me perdoe o termo, existente do outro lado do oceano e do lado de cá que não resultaram em nada, só em dívidas, e estamos tomando calote”, afirmou, referindo-se à política externa dos governos petistas, que priorizou países africanos, asiáticos e sul-americanos”.

Um dos grandes acertos da política internacional do governo Lula foi, em boa hora, aprofundar relações multilaterais no âmbito Sul-Sul, ou seja, com países da África, China e Índia, além dos países da América do Sul, Central e Caribe. O Brasil é um dos principais protagonistas da criação de uma das grandes obras da moderna geopolítica mundial, o BRICS (Brasil – Rússia – Índia – China – África do Sul). Um articulação política, econômica e de mercados para além da submissão ao imperialismo norte-americano, o que incomoda o general Mourão e seus partidários, desde os tempos do governo Geisel.

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Também correta e positiva para o Brasil foi a politica de integração regional construída por Lula, revertendo um clássico distanciamento do país com os vizinhos latino-americanos. Um conjunto de iniciativas que, seguindo a orientação do general Mourão, seriam revistas, colocando os países na mira do intervencionismo dos Estados Unidos, a exemplo da ameaça contra a Venezuela. A traição aos valores nacionais e das próprias FFAA de solidariedade internacional já chegou ao ponto de trazer o exército inimigo para dentro da Amazônia, com objetivo de agredir um país fronteiriço.

Vejamos, mais uma vez, o que pensava o general Ernesto Geisel, então presidente, das teses sobre a “mulambada”, na época esposadas pela turma do general Silvio Frota, que hoje tentam ressuscitar nas palavras do general Mourão:

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– “O mesmo problema surgiu quando reatei as relações com Angola. A mesma história: “É um país comunista, os Estados Unidos estão subsidiando a revolução contra o governo de Angola, e nós somos solidários com os Estados Unidos!”. Respondi: “Não, neste ponto eu não sou solidário. Acho que os Estados Unidos não têm o direito de fomentar a revolução em outro país. Não concordo com este posicionamento. E tem mais: Angola é fronteira marítima com o Brasil. Nossa fronteira oriental é toda a costa oeste da África. Então, não vamos ter relações com um país fronteiriço!. Além disso, Angola é descendente de Portugal, fala como nós, a mesma língua. E há outro interesse: as perspectivas são de que o litoral angolano tenha petróleo, e nós poderemos obter suprimento em Angola”. Respondiam: “Mas o governo é comunista!”. E eu: “É, é subsidiado pela Rússia, mas a revolução que existe em Angola é subsidiada pelo americano. O americano está financiando uma revolução lá dentro!”. A Unita, até hoje, ainda é subsidiada pelo americano em armamento, em munição e dinheiro e tudo mais. “Que direito têm os Estados Unidos de intervir no país e lá provocar uma revolução?. Não temos nada com isso, não temos nada com a Unita. No passado, sempre transacionávamos com Angola, e agora temos interesse em trazer petróleo de lá”. Foi outra discussão. Eu dizia: “Vocês têm de abrir os olhos, o mundo é outro!. Vocês não podem ficar nesse círculo estreito!”. Eles engoliram a solução, mas evidentemente, resmungando.

* Ernesto Geisel, na sua biografia organizada por Maria Celina D’Araújo e Celso Castro, editada pela Fundação Getúlio Vargas.

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Pelo que disse o general Mourão, os “resmungos” atuais não são contra Lula e sua acertada política de relações internacionais mas, na verdade, contra o próprio general Ernesto Geisel, aliás alvo de suas críticas – e, não por acaso, da CIA, recentemente. O que Lula fez foi dar prosseguimento ao pensamento de Geisel, que não só reatou relações com Angola, na situação relatada por ele, mas também com a China, contra a vontade da linha dura. Ao contrário dos candidatos à “guarda pretoriana do Império“, Lula e a política externa praticada em seus governos tem compromisso com o Brasil e os brasileiros, da mesma forma que Geisel, a seu tempo.

O que pretendem os atuais herdeiros do general Silvio Frota, o chefe da linha dura da ditadura. com a política de isolamento internacional do Brasil e o alinhamento automático e submisso aos interesses políticos e econômicos norte-americanos? Imaginam que a indústria, o agronegócio nacional vai se submeter às sobre-taxas, sanções ou aceitar as retaliações norte-americanas, no atual estágio da guerra comercial mundial? Acreditam que, a essas alturas, o povo aceitará a política de recolonização selvagem, sob o chicote de capitães do mato, imposto pelo imperialismo decadente?

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As palavras do general Mourão traduzem a negação da história do Exército Nacional, parido na “Guerra Brasílica”, no século XVII, que uniu índios, negros e portugueses – ou seriam “mulambos”? – em defesa da integridade do território nacional, que expulsou os holandeses. Com esta visão exposta pelo general, por certo não teriam vez em seu Exército heróis daquela batalha como o índio Felipe Camarão, e sua esposa Clara Camarão, o negro Henrique Dias ou o português André Vidal de Negreiros. O Brasil é resultado da união das três raças, e muitas outras que aqui aportaram, contrariando frontalmente a xenofobia e o racismo que tentam impor.

O Brasil está no epicentro de uma grande batalha mundial, exigindo patriotismo, sabedoria e coragem de seus dirigentes para defender a soberania e a independência nacional e impedir a rapinagem das nossas riquezas e do nosso povo. O Brasil tem vocação para tornar-se uma grande Nação, fato que pode ser sintetizado atualmente na dimensão que assumiu o presidente Lula perante o mundo. As eleições no Brasil que se aproximam, portanto, são o principal acontecimento político mundial desses tempos, em que os brasileiros rejeitarão os novos Calabares e afirmarão a soberania nacional e popular.

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* Mulambo é uma palavra de origem africana, usada durante o período escravagista no Brasil para se referir aos negros e ao modo como se vestiam.

 
 

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