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Washington Araújo

Mestre em Cinema, psicanalista, jornalista e conferencista, é autor de 19 livros publicados em diversos países. Professor de Comunicação, Sociologia, Geopolítica e Ética, tem mais de duas décadas de experiência na Secretaria-Geral da Mesa do Senado Federal. Especialista em IA, redes sociais e cultura global, atua na reflexão crítica sobre políticas públicas e direitos humanos. Produz o Podcast 1844 no Spotify e edita o site palavrafilmada.com.

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Musk, a megalomania e a maldição do ‘X’

As mentiras que parecem verdades sobre Elon Musk desabam, expondo relações tóxicas com a política e o preço de sua ambição desmedida

Elon Musk (Foto: Gonzalo Fuentes / Reuters I Reuters)

Na era das narrativas fabricadas, poucos mitos resistem tanto quanto o de Elon Musk como o gênio solitário por trás de impérios tecnológicos. Mas vamos aos fatos, sem o verniz da propaganda midiática: Musk não fundou PayPal, Tesla ou mesmo a SpaceX no sentido pleno. É puro branding, uma mentira meticulosamente construída e judicialmente imposta.

O PayPal surgiu das mentes de Peter Thiel, Max Levchin e outros, na Confinity. Musk entrou via fusão com sua X.com, mas foi demitido antes do lançamento oficial. Anos depois, processou para ser retroativamente rotulado como “fundador”. Uma vitória legal, não criativa.

Na Tesla, Martin Eberhard e Marc Tarpenning incorporaram a empresa em 2003; Musk só apareceu em 2004, liderando o financiamento. Novamente, um processo em 2009 garantiu-lhe o título de cofundador, apesar de não ter inventado os carros elétricos nem suas tecnologias centrais.

A SpaceX é o caso mais próximo: Musk a fundou em 2002, mas dependeu de engenheiros como Tom Mueller — o verdadeiro arquiteto dos sistemas de propulsão —, contratado como funcionário número um. Musk trouxe capital e visão; o resto é expertise alheia.

Ele não é cientista de foguetes, mas um capitalista astuto que alavanca litígios e mídia para reescrever a história.

Agora, adicione a tóxica aliança política com Donald Trump, e o castelo desaba.

Desde que Musk flertou com o trumpismo — e o subsequente rompimento, em junho de 2025 —, suas fortunas despencaram. As ações da Tesla caíram 24% no ano até julho, com um tombo de 8% após resultados fracos no segundo trimestre, evaporando bilhões em valor de mercado. Vendas globais enfraquecem na Europa e na China, onde sua postura política é veneno.

O patrimônio de Musk, que atingiu picos de US$ 406 bilhões, derreteu com perdas de até US$ 20 bilhões em um único dia, caindo para cerca de US$ 351 bilhões. Investidores clamam por nova governança; assembleias são adiadas, executivos fogem, processos judiciais se avolumam.

O mercado esperneia: alinhar-se à instabilidade autoritária troca confiança por caos. Musk calculou mal; interpretou errado a paciência global com bilionários brincando de política. Sua “cidadania” como inovador? Comprada com dinheiro e manipulação. Renomeemos Trump de “Sleprock”, o Sr. Má Sorte: quem se aproxima perde fortunas e leva facada nas costas. No ano que vem, Trump negará conhecer Musk.

Pesquise os processos e cronogramas — fatos superam ficção. Musk não é herói; é mito inflado, agora deflacionando sob o peso da realidade.

Vivemos em uma quadra da história em que muitas mentiras se apresentam como verdades absolutas, e o cinismo chega ao ponto de decretarmos uma era de “pós-verdade”, em que fatos são maleáveis e narrativas prevalecem sobre evidências. Esses são sinais evidentes da convulsão mental que sacode a geopolítica e a economia mundial, fomentando instabilidades que derrubam impérios construídos sobre areia movediça, como vemos em alianças políticas voláteis e bolhas econômicas que explodem ao menor escrutínio.

A extensão desse fenômeno ecoa no acaso — ou seria destino? — do outrora bilionário Eike Batista, cujas empresas sempre ostentavam o “X” como marca de multiplicação: EBX, OGX, MMX, OSX e outras, erguidas entre 2004 e 2012 com aberturas de capital bilionárias. Sua ascensão o tornou o homem mais rico do Brasil, com fortuna acima de US$ 30 bilhões, mas o colapso veio em 2013, quando a baixa produtividade da OGX levou a falências em cascata, recuperação judicial e perdas gigantescas.

Seria mera coincidência que o “X” marque essas duas situações de alto risco econômico, unindo Batista e Elon Musk em narrativas de ambição desmedida — um já com a queda espetacular e o outro a caminho disso?

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.