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Carol Proner

Doutora em Direito, professora da UFRJ, diretora do Instituo Joaquín Herrera Flores – IJHF

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Na Bolívia, ao contrário do Oriente Médio, a Revolução Colorida é popular e soberana

"Após um ano do violento golpe contra Evo Morales e Álvaro Garcia Linera, o povo boliviano demonstra ter compreendido perfeitamente o uso das instituições e dos poderes do Estado, ocupado por prepostos e impostores, para desestabilizar o projeto do 'país coração da América do Sul'”, escreve a jurista Carol Proner sobre a eleição de Luis Arce para presidente na Bolívia

Povo boliviano derrota os golpistas nas eleições (Foto: Telesul)
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Num livro que se tornou conhecido no Brasil, traduzido pela Expressão Popular, o analista político russo Andrew Korybko constrói um novo conceito para explicar as táticas contemporâneas dos Estados Unidos para derrubar governos. Chamou de guerra híbrida a combinação de revoluções coloridas e guerras não convencionais para substituir governos, tendo como exemplo os casos da Síria, da Ucrânia, e as adaptações visíveis no Oriente Médio e na América Latina. 

Não há dúvida de que o alerta desse e de outros estrategistas abriram os olhos dos governos latino-americanos para a compreensão de alguns estranhos fenómenos ocorridos também por essas bandas. No Brasil, captamos movimentos suspeitos entre setores da mídia e do poder judiciário operando em compasso para desestabilizar forças políticas e favorecer interesses estratégicos. O uso do sistema de justiça para bloqueio político ou desestabilização dos projetos nacionais também tem sido percebido em outros países, como é o caso do Equador, da Argentina e da Bolívia. Mas, nesse caso, algo não saiu conforme planejado.

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Após um ano do violento golpe contra Evo Morales e Álvaro Garcia Linera, o povo boliviano demonstra ter compreendido perfeitamente o uso das instituições e dos poderes do Estado, ocupado por prepostos e impostores, para desestabilizar o projeto do “país coração da América do Sul”. O Movimento para o Socialismo - o MAS, que é um partido-movimento originado nas organizações camponesas, na organização cocalera, vem construindo um projeto de sociedade há mais de 20 anos, primeiro pelas agremiações parlamentares e depois, a partir de 2005, com a eleição de Evo Morales como Presidente da República.

Entre as diretrizes regentes do partido-movimento, estão a conquista da igualdade social para as maiorias nativas da região, a nacionalização dos recursos energéticos, a promoção da renovação moral, ética, política e de conduta e, note-se bem: o combate à corrupção – a eliminação da corrupção das estruturas do Estado boliviano. 

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Naturalmente estão entre os objetivos também as diretrizes econômicas, o impulso à industrialização, a competição no mercado internacional e a inserção privilegiada da Bolívia no mundo globalizado, dado que o país deu ao mundo e sobretudo à Europa importantes insumos para o atual estado de bem-estar social desses países – plantas, alimentos, conhecimentos tradicionais dos povos, bem como o ouro de Potosí, para começo de conversa.

Essa mirada soberanista-popular deu ao país, aos seus dirigentes e principalmente ao povo os instrumentos e a postura para evitar uma série de ingerências que foram mais fáceis em países, digamos, mais distraídos, países que atribuíram demasiada autonomia a órgãos de controle sem fixar diretrizes de autodefesa. Um exemplo didático e pontual: em novembro de 2008, o então presidente Evo Morales suspendeu as atividades da DEA, a agência americana de combate às drogas, alegando que alguns agentes haviam participado de ações de espionagem e financiado grupos de oposição violenta ao governo. Estes agentes, aproximadamente em número de 30, vieram parar no Brasil a partir de 2009, entraram por um “jeitinho” alternativo, sem passar pelo Ministério das Relações Exteriores (o Itamaraty se opunha à ideia), mas com a justificativa de ampliação dos escritórios existentes em São Paulo e em Brasília. Alguns deles participariam da Operação Lava Jato mais adiante. 

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Este é apenas um exemplo que ajuda a entender, pelo ângulo da geoestratégia que, numa Bolívia desconfiada e prevenida, foi necessário aplicar um golpe trepidante, escandaloso e grosseiro, com o auxílio indisfarçável da OEA, para que o MAS pudesse ser afastado em 2019, com ameaças pessoais à vida de membros do governo, com prisões, exílios forçados e com a tomada civil-militar das rédeas do projeto nacional que, imediatamente, passou a ser desmanchado. E é também o que explica, ao menos em parte, que somente um ano após os trágicos episódio que levaram à renuncia e ao exílio de Evo, o MAS retorne triunfante ao poder, com ampla aprovação, numa verdadeira revolução multicolor de outro tipo, soberana, popular, indígena, alegre e orgulhosa de portar a Whipala, a bandeira de origem andina que simboliza a phalax, o sonho produzido por conduzir uma bandeira.

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