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Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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Na casa da vó Maura...

Nenhuma casa é igual à casa das nossas avós

As casas da nossa infância têm algo de mágico, sejam as nossas próprias casas, onde colecionamos memórias e saudades, as quais tanto alegram quanto nos emocionam, sejam as outras tantas casas: dos tios, amigos, vizinhos, etc., mas nenhuma casa é igual à casa das nossas avós.

Que saudades que eu tenho das visitas às casas das tias nas férias, havia bolo de pelo menos dois tipos, leite, café, biscoite caseiro, sorrisos e abraços, além de brincadeira à vontade com os primos e primas.

Eu vivi e convivi grandemente com minhas avós, tanto com a vó Maria, mãe de me pai, quanto com a vó Maura, mãe de minha mãe; mulheres lindas, fortes, e vencedoras, a elas devo muito e tanto que talvez eu precise de duas ou três vidas para retribuir.

Hoje vou falar da casa da minha vó Maura. Talvez motivado pelo falecimento do Barbosa, casado com minha prima Maurinha, irmã da Claudia, primas que são donas do meu coração.

Elas moravam na casa da vovó, perderam a mãe muito cedo e o último pedido da tia Inês foi que a vovó cuidasse delas. Elas são, portanto, mais que primas, são como irmãs mais velhas, mas não muito, que me ensinaram muito.

A Maurinha, formada em matemática pela PUC, é responsável pela minha vitória sobre os tais “números complexos”, um “negócio” medonho que até hoje não sei o que é ou para que servem, mas que derrotei graças às aulas particulares dela; foi a Maurinha que ensinou “as horas” e foi ela a guardiã dos valores que recebi de uma loja de artigos de esporte, por ter distribuído panfletos na esquina das avenidas Francisco Glicério com Moraes Salles; quem me “contratou” foi o Guto, então namorado da Claudia, nepotismo puro.

Na sala da casa da vó Maura, na realidade um apartamento na rua Dr. Quirino, o Barbosa me ensinou o que eram as Olimpíadas, a “aula” foi durante a apresentação de ginástica artística, a grande vencedora naquele 1972 foi a ginasta soviética Olga Korbut.

A porta do apartamento nunca estava trancada e era um “entra e sai” de gente o dia todo.

Minha avó era a matriarca de uma grande família, teve quinze filhos, trinta e seis netos, uma penca de bisnetos e, creio, pelo menos meia dúzia de tataranetos. Ela foi, ao lado da vó Maria, a pessoa especial da minha vida, pois, apesar das dores e sofrimentos impostos pela morte prematura do marido, com apenas quarenta e dois anos de idade, escreveu na apresentação de um de seus livros: “dos filhos que Deus me deu, todos eles eu criei, das graças que recebi, das amarguras que passei, de tudo agradeço a Deus...”, creio que essa forma de pensar a vida fale por si.

Nesse apartamento da sua Dr. Quirino, moravam com a vovó, além das primas Maurinha e Claudia, a tia Bel e a tia Carminha, a primeira funcionária pública exemplar e a segunda advogada, que ao lado do tio Chico, me motivaram a cursar ciências jurídicas e sociais na PUC; além de sobrinho fui estagiário deles e da Cristina, minha prima querida, não posso dizer “a mais querida” para não magoar as outras vinte e três.

Foi nesse apartamento que, no quarto da tia Carminha, eu conheci o Pasquim e me encantei com os posters de desenhos do Ziraldo.

Como eu disse acima era um entra e sai no apartamento, tias, tios, primos e primas, quando vinham no centro da cidade, tudo acontecia no centro, passavam por lá, para almoçar ou apenas passavam para um “papo” rápido, um beijo e um cheiro, mas sempre tinha café e um bolo, mesmo que fosse Pullman.

A vovó comandava tudo da sua cadeira de balanço, acomodada num local estratégico na sala.

Gostaria de abraça-la mais uma vez, assim como cada uma das suas “marias”, esqueci de contar, mas, dos quinze filhos, dez eram mulheres, as marias da D. Maura”: Maria Aparecida, a Mariinha; Maria Inês, mãe da Claudia e da Maurinha; Maria Terezinha; Maria Ângela; Maria Gloria, mãe do Tony, o primo que admirei tanto; Maria Zélia, que ainda é exemplo aos noventa anos, faz academia e pratica boxe; Maria Isabel, a tia Bel que mora no meu coração, bem ao lado da Maria do Carmo, a tia Carminha; há ainda a Maria do Rosário, mãe da Fernanda e da Andreia, com elas troquei muitas figurinhas, especialmente quando eu morada na Francisco Glicério, 1269 e elas na Bernardino de Campos, no edifício El Guarany, em frente ao Centro de Ciências Letras e Artes, não precisava atravessar a rua; a décima “maria” é minha mãe, Maria de Lourdes, a Lourdinha ou a Tuti.

Para todas elas toda minha gratidão e amor, que expresso nesse poema, o qual assumo ser muito aquém delas todas.

ALÉM DAS DEZ MARIAS

as marias lá de casa eram apenas dez?

não, eram mais de dez

além das marias da dona maura,

lindas fadinhas

madrinhas da nossa infância,

outras igualmente amadas hão

em nossos corações

havia maria luz

há ainda duas marias, irmãs,

de sorrisos e afagos infinitos

haverá sempre as marias do tio Maneco

todas essas marias e outras mais

são assim minhas e nossas

nessa e noutra vida

Lembranças que me atrevo a compartilhar com os leitores do CORREIO.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.