Na Colômbia, Petro alerta para riscos à soberania digital
EUA entram no debate, mas o governo colombiano questiona suas intenções
Do site alcarajo.org
O presidente Gustavo Petro lançou nos últimos dias uma série de alertas diretos sobre os riscos que a Colômbia enfrenta em matéria de soberania digital, após o encarregado de negócios dos Estados Unidos, John McNamara, reunir-se com congressistas e especialistas para “explorar” mudanças na gestão dos serviços tecnológicos do Estado. A intervenção diplomática provocou preocupação e foi respondida por Petro com uma mensagem contundente: a nuvem de dados colombiana deve permanecer sob controle da Colômbia — não de potências externas.
Pelo X, o chefe de Estado destacou que os dados públicos e privados precisam estar hospedados em território nacional, deixando claro que nenhuma empresa estrangeira — por maior que seja — pode gerir informações estratégicas do país sem colocar em risco a autonomia nacional.
As declarações, interpretadas como um freio às intromissões de Washington, surgem em um momento decisivo: a licitação do serviço de nuvem pública — que definirá quem controlará grande parte do processamento digital do governo — está sendo disputada por corporações dos EUA e da China, duas potências envolvidas numa guerra tecnológica global.
EUA entram no debate, mas o governo colombiano questiona suas intenções
A embaixada dos EUA afirmou que McNamara discutiu com congressistas temas como cibersegurança, proteção de dados e transparência. Contudo, o comunicado não menciona que os Estados Unidos têm interesses diretos na licitação em andamento, o que levantou dúvidas sobre a imparcialidade de suas recomendações e sobre o real objetivo da “assessoria”.
Para setores críticos, a reunião diplomática parece alinhar-se aos interesses de empresas norte-americanas que buscam assegurar o controle da infraestrutura digital colombiana, enquanto Washington pressiona para afastar competidores chineses do mercado tecnológico regional.
Petro alerta para o futuro democrático do país
O presidente afirmou que o governo já possui um projeto próprio para ampliar a “capacidade computacional soberana”, condição que considera indispensável para impedir que a Colômbia fique presa à disputa geopolítica entre superpotências.
Petro foi direto ao dizer que só trabalhará com empresas que ofereçam o mais alto nível tecnológico do mundo sem comprometer a soberania nacional, um recado que demonstra sua desconfiança em relação a atores capazes de usar a infraestrutura digital como ferramenta de influência política.
Dirigindo-se ao Congresso, Petro deixou um aviso que ecoa no debate:
“O Congresso deve ter claro esse objetivo nacional indispensável para um futuro democrático.”
A frase sugere que alguns setores do Legislativo poderiam estar favorecendo interesses externos acima da agenda estratégica do Estado colombiano.
Uma licitação com aroma geopolítico
A entidade estatal Colombia Compra Eficiente confirmou que o processo ainda está na fase de seleção e que sua finalidade é fortalecer a transformação digital do Estado. Porém, a disputa entre empresas dos EUA e da China transforma uma decisão técnica em um duelo diplomático de alto risco.
A nuvem pública não é apenas um serviço: é o coração digital de um país. E quem a controla, controla boa parte de seu funcionamento institucional.
Soberania em jogo
A postura de Gustavo Petro revela uma tensão crescente:
a Colômbia está no centro da disputa global entre Estados Unidos e China pelo controle tecnológico da América Latina.
Nesse cenário, defender soberania digital não é uma bandeira ideológica, mas um ato de proteção nacional diante da possibilidade de que suas informações — e, por consequência, sua democracia — fiquem subordinadas a interesses externos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

