Nagasaki, Vietnã, Irã: o peso da guerra nas costas de crianças
Imagens de crianças marcadas por conflitos, do Irã ao Vietnã, revelam a face mais brutal da guerra e cobram da humanidade um compromisso com a paz
Há exatos 25 dias, o mundo prendeu a respiração, sob o espectro nuclear, quando os Estados Unidos, em 21 de junho de 2025, bombardearam as instalações do Irã – Fordow, Natanz, Isfahan – para frear seu programa atômico. A mídia global reverberou temores de uma escalada apocalíptica.
Duas semanas depois, outra tormenta: tarifas de 50% impostas ao Brasil, detalhadas em uma carta aberta de 11 de julho, atrelando o comércio às investigações do Supremo Tribunal Federal contra Jair Bolsonaro. Vozes políticas alardearam o impensável: uma ameaça nuclear ao Brasil. Mas é na memória de 1945 que a dor fala mais alto, com um menino em Nagasaki carregando o irmão morto nas costas.
Era um menino, talvez de dez anos, franzino, descalço, com o peso do mundo – o corpo inerte do irmãozinho, vítima da bomba atômica que devastou Nagasaki. Diante de uma pira funerária improvisada, seu rosto era pedra, sem lágrimas, apenas um vazio que gritava mais do que qualquer lamento. Joe O’Donnell, fotógrafo americano de 23 anos, capturou a cena, vendo o lábio do menino sangrar de tanto morder, contendo uma dor imensa. Quando as chamas consumiram o irmão, ele partiu, em silêncio, como se o mundo não merecesse suas lágrimas.
Anos depois, outra imagem ecoaria esse grito: em 1972, na Guerra do Vietnã, a fotografia de Kim Phuc, uma menina de 9 anos, correndo nua, a pele queimada pelo napalm americano, capturada por Nick Ut. O menino de Nagasaki carregava a morte; Kim, a vida em fuga. Ambas as imagens, unidas pelo horror, mostram a guerra roubando infâncias e incendiando almas.
A fotografia de Nagasaki, guardada por décadas em um baú com as angústias de O’Donnell, tornou-se um clamor contra a guerra. Publicada em Japan 1945: A U.S. Marine’s Photographs from Ground Zero (2005), é um espelho da nossa fragilidade. Joe, transformado, virou arauto da paz, exibindo suas fotos no Japão e nos EUA, cada exposição uma ferida reaberta. Quem era aquele menino? Masanori Muraoka, sobrevivente, tentou encontrá-lo, mas ele permaneceu sem nome, símbolo da infância dilacerada.
E nós, o que fazemos com essas imagens? O menino de Nagasaki e a menina do Vietnã nos encaram, exigindo que ouçamos seus silêncios e gritos. São mais que fotos – são chamados. Chamados para que nenhuma criança carregue a morte ou fuja do fogo, para que a paz seja um compromisso com a vida.
A guerra é um abismo de cinzas que devora o pulsar da humanidade, deixando escombros onde a esperança poderia florescer. Com total confiança, acredito nas palavras da Casa Universal de Justiça em 1985: “a paz não é apenas possível, mas inevitável”, um horizonte que a alma coletiva da humanidade, exausta de sangue, está destinada a alcançar.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

