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Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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Não é sobre ideologia, é sobre ética

Sejamos cordatos, é impossível a uma pessoa ética, considerar que Bolsonaro seja alternativa para alguma coisa

Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Paulo Whitaker)
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É comum que amigos e conhecidos próximos digam que tenho divergências ideológicas com Bolsonaro.

Evidentemente estamos em campos distintos no que diz respeito ao espectro ideológico, ele de extrema-direita e paquerando o fascismo e eu, com toda a minha desimportância, à esquerda, contudo, o mal-estar que o sujeito que ocupou a presidência por quatro longuíssimos anos me causa decorre de razões éticas. 

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Explico.

Ética diz respeito aos limites para a ação humana e à identificação, num conjunto de possibilidades, das que são corretas, estou falando das coisas práticas da vida. É a ética que submete meios e fins ao crivo do aceitável e todo o comportamento de Jair Bolsonaro não passa pelo meu crivo ético. Bolsonaro apoiou a ditadura no Brasil e é saudoso dela; disse, pelo menos uma vez, que ao invés de torturar a ditadura deveria ter matado "uns 30  mil"; afirmou que apoia a tortura; elogiou mais de uma vez o ditador pedófilo Alfredo Stroessner, cuja ditadura  matou 459 pessoas, desapareceram outras tantas, 18.722 foram torturadas e 19.862 foram presas, de acordo com a Comissão da Verdade do país; elogiou o ditador Pinochet, que matou mais de 3 mil chilenos e torturou milhares de prisioneiros e forçou 200 mil chilenos ao exílio.

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Essas razões bastam para o Inominável não me servir, nem às pessoas éticas, mas estranhamente pessoas boas seguem defendendo o pior presidente da história do país.

Faltaria ética aos seus apoiadores?

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Não cabe a mim julgar, contudo, acredito que a ética, quaisquer que sejam os adjetivos que se lhe agreguem, está sempre referida ao reconhecimento de limites às possibilidades. Noutras palavras, “...a ideia de que o possível não se autolegitima pertence à essência do agir ético, que pertence às entranhas do próprio ato de filosofar. Nesse sentido, ética é limite.”, como escreveu Bianca Antunes Cortes, Doutora e Pesquisadora Adjunta da Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).

A ética está originariamente ligada à noção da possibilidade de se definir. O campo da ética se entende então como a esfera das causas do agir humano, das forças determinantes dos cursos desse agir.

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E, sem qualquer dúvida, ao capitão, que foi tocado do exército, falta limites, falta ética, tanto que, ainda deputado, teve a cara-de-pau de, na tribuna da câmara dos deputados, defender as milicias e os milicianos.

As milicias são grupos de marginais que, valendo-se da ausência do Estado, geralmente em comunidades periféricas, transformam os moradores em reféns da sua proteção, pela qual cobram. 

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A milicia funciona na base da oferta/venda de segurança e de serviços no lugar do Estado ou de empresas privadas, de modo que a região, comunidade ou favela se torne dependente da milícia e, basicamente, quem não paga, não está seguro, podendo até ser morto como um recado aos demais moradores que tenham oposição a essa dinâmica. Se em uma época a milícia era querida pela população, hoje a visão já é diferente. Essas vivências foram retratadas no filme Tropa de Elite, inspirado na baixada fluminense e em favelas da Zone Oeste do Rio de Janeiro.

A milicia e os milicianos são, segundo o Bolsonaro e seus filhos, dignos de confiança e de homenagens. Tanto é verdade que Flávio Bolsonaro, o “01”, concedeu uma medalha a um miliciano envolvido no assassinato da vereadora Mariela Franco; seus filhos e ele empregaram em seus gabinetes milicianos e parentes desses.

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Sejamos cordatos, é impossível a uma pessoa ética, considerar que Bolsonaro seja alternativa para alguma coisa.

Lembremos que Bolsonaro, o corrupto, manteve por mais de vinte (20) anos uma empregada doméstica cuidando de sua casa de praia paga como dinheiro público (a famosa Val do Açaí); ele, racista que é, disse que seus filhos não namorariam negras "porque foram bem-educados".

Seria possivel listar ideológicas e discordâncias na condução da economia, mas a figura abjeta de Bolsonaro sequer passa pelo meu crivo ético.

Dispenso a convivência com quem: apoia ditaduras, ditadores; faz apologia da tortura e a apoia; ou deseja a morte de pessoas apenas porque elas pensam diferente.

É comum ouvirmos que as palavras de um líder, refletem no comportamento dos liderados; se isso for verdade Bolsonaro é um líder incendiário e mau, pois, como escreveu Roberto Bartholo é Professor Titular da UFRJ, citado Bianca Antunes Cortes: “[nossa] simples existência nos chama à responsabilidade”.O inominável revelou-se um líder carismático, representa a extrema-direita - que estava escondidinha - e deu voz a um exército de imbecis, intoxicados pelo neopentecostalíssimo – especialmente pela Teologia da Prosperidade -, e pela lógica ultraliberal que há quatro décadas despeja ideologia na cabeça das pessoas, travestindo-a de “visão técnica”.

Senti que precisava escrever isso e deixar claro que -, a minha divergência é ética.

Ademais, não tenho certeza se o bolsonarismo é uma ideologia ou criação de Mary Shelley, uma colagem de discursos que vão desde a hipócrita pauta de costumes do neopentecostalismo, passando pela lógica destruidora de vidas do ultraliberalismo e com o desejo indisfarçado de descredibilizar toda a institucionalidade para implantar um regime autocrático.

Pergunto, sem instituições, boas ou ruins, o que nos restaria além da barbárie e de um governo autoritário?

É isso.

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