Não está sendo fácil! Não está sendo fáciuuuu!
'Lula não se isolou, cumpriu circunstâncias que lhe foram apresentadas e calibrou o discurso, observando mudanças no mercado de trabalho', afirma Denise Assis
Inoportuna é o mínimo que se pode dizer da “carta aberta” do advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, falando de um suposto “isolamento” do presidente Lula. O adjetivo não é meu. Foi empregado por um companheiro de grupo do criminalista, o coordenador do grupo Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho. Ele fez questão de vir a público se pronunciar, para que não pairasse dúvida de que essa é uma opinião pessoal, emitida por Kakay. Tivesse ele tomado um uísque ou um banho frio, e a teria deletado. Talvez a onda de calor tenha fervido os miolos de Kakay, a ponto de abrir num momento em que pesquisas apontam queda na popularidade do presidente, uma dissidência entre os seus colegas de grupo.
O isolamento de Lula que nos fala Kakay, chegando a apontar para a direita, como solução, ele que sempre se colocou no lado progressista da história, precisa ser visto detidamente.
Ninguém ignora que Lula pegou o país nos escombros, e totalmente desmoralizado do ponto de vista das relações internacionais. Mal acabou de ser eleito, ainda mesmo antes da posse e o presidente já precisou arrumar as malas e rumar para a COP-27, realizada de 6 a 20 de novembro de 2022, na cidade de Sharm El-Sheikh, no Egito. Oportunidade única para começar a refazer laços e costuras esgarçadas por Bolsonaro e os seus chanceleres amestrados. Além de ser uma etapa crucial nas negociações globais sobre o clima, tema caro ao país que detém nada menos que a Amazônia, com um foco renovado em financiamento climático, perdas e danos e o avanço das metas do Acordo de Paris.
Depois dessa se seguiram muitas outras agendas indispensáveis, como encontros com Joe Biden, na condição de chefe de Estado e outras, que deram visibilidade ao país e ao presidente que chegava num país demolido, a ponto de não ter nos cofres, recursos para quitar a folha de pagamento no primeiro mês.
Já nessas viagens, os primeiros incômodos de dores no quadril deram sinais de que era preciso parar para uma cirurgia, sob pena de não conseguir cumprir mais agendas externas. Mais um tempo longe das ruas, do povo e da possibilidade de viajar pelo país, como planejou desde o primeiro momento. E, se formos mergulhar mês a mês, nos compromissos de Lula, veremos que precisou percorrer um caminho de “reconstrução” da imagem do Brasil, lá fora, para que as atividades internas pudessem deslanchar.
Visitar a China – quem não iria? -, foi um acerto. Organizar o encontro do G-20, indispensável. Sem falar no acidente doméstico, no banheiro do Alvorada, que o tirou de circulação por um bom tempo.
Enfim, o presidente Lula tentou se equilibrar no slogan criado para o seu governo: “União e Reconstrução”. Procurou unir aqui dentro, enquanto reconstruía a imagem lá de fora. Como então cobrar furiosamente de Lula, sem levar em conta as circunstâncias em que ele assumiu o governo? Arrumar a casa, limpar a grama da frente dos quartéis, pacificar a caserna, amansar o feroz Arthur Lira, que mordia e assoprava um Congresso onde as pautas nunca passaram com facilidade, porque dominado pelo centrão, e pela ultradireita organizada em verdadeira trincheira para fazer voar pelas redes as fake news que abalassem as estruturas do governo.
Para agravar ainda mais, São Pedro resolveu brigar com o Rio Grande do Sul, levando praticamente todos os ministros e o presidente para lá, por dias a fio.
Enquanto isso, a economia estrangulada pelo “arcabouço fiscal”, obedecia às ordens do czar do Banco Central, Roberto Campos, que impulsionava o dólar para a estratosfera. Ou o dólar não baixou depois da sua saída do cargo? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viveu uma verdadeira montanha russa no seu primeiro ano de governo. No segundo, pegou pela quebra de safra, aumento dos produtos pela ação das guerras e a troca de presidentes das duas casas, Câmara e Senado.
Assim que deu, botou o pé na estrada, botou a boca no mundo. Tem falado para as rádios de Minas, da Bahia, do Amapá, por onde tem andado. Já reuniu a imprensa numa coletiva informal, mas bem-sucedida.
Lula não se isolou. Cumpriu as circunstâncias que lhe foram apresentadas, escapando aqui e ali das rasteiras e trapaças da sorte. Claro, vão dizer que os governantes são eleitos para solucionar. Lula governa. Lula fala, Lula se preocupa. O mundo mudou. Lula anda calibrando o discurso, observando a mudança do mercado de trabalho, impulsionando pequenos negócios e novos programas, como o Pé de Meia, que o golpista não indiciado, Augusto Nardes, da trincheira do TCU, tentou queimar na largada. Se pudesse cantarolar uma musiquinha, agora, talvez ele escolhesse aquela: “não está sendo fácil/não está sendo fácilllll”.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




