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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor do livro "Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil". Editor da newsletter "Noticiário Comentado" (paulohenriquearantes.substack.com)

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Não haverá “barganha mineral” contra pressão americana

Lula ordena aos Estados Unidos que tirem seu cavalo da chuva

Luiz Inácio Lula da Silva e Alexandre Silveira durante cerimônia de Entregas do Governo Federal ao Vale do Jequitinhonha - Parque de Eventos de Minas Novas, Minas Novas - MG. (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

Seu povo e seu subsolo são riquezas inegociáveis de um país. Não se entregam os cidadãos e suas raízes culturais históricas ao domínio de outra nação, tampouco se permite que o estrangeiro explore e leve embora seus tesouros minerais. Quando Lula afirma que ninguém meterá a mão no subsolo brasileiro, comporta-se como estadista e líder de uma nação soberana.

Abriu-se aos olhos de todos uma quarta razão para o tarifaço trumpista contra o Brasil. A primeira é a disposição ideológica do presidente americano de salvar o lacaio brasileiro da cadeia; a segunda, o alinhamento às big techs contra a regulação do seu papel na sociedade; terceira, o temor de que o Brics consolide-se como rede comercial livre do controle americano; e quarta, agora, o desejo de possuir nióbio, lítio e terras raras brasileiras, entre outros minérios.

O painel é intrincado, mas atesta o conhecidíssimo imperialismo dos Estados Unidos, especialmente sob Trump. Talvez seja pertinente a pergunta: quatro frentes escondidas por detrás de um ato sancionatório não seria algo rocambolesco demais? Parece que não. A gritaria por tarifar, mesmo em prejuízo dos próprios Estados Unidos, não se justificaria por si só.

Em reunião com o presidente do Ibram, Raul Jungmann, o encarregado de Negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, ressaltou o interesse norte-americano em minerais críticos e estratégicos abundantes no Brasil — sobretudo nióbio, lítio e terras raras. São os chamados MCEs, minerais fundamentais para tecnologias de ponta como chips, baterias e turbinas, estratégicos para a indústria americana.

Como se sabe, os Estados Unidos estão preocupados com sua dependência da China em cadeias de minerais. O Brasil, dono de grandes reservas, é visto como alternativa segura que, porém, impõe restrições regulatórias e ambientais ao investimento estrangeiro.

Uma “barganha mineral” aliviaria as pressões comercial e política sobre o Brasil, incluindo os atos contra ministros do Supremo Tribunal Federal? Seria possível, fosse outro o presidente do Brasil, não Lula. O posicionamento imediato do mandatário brasileiro, ao dizer que nas riquezas minerais do país ninguém mete a mão, ordena aos Estados Unidos que tirem seu cavalo da chuva.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.