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Carlos Castelo

Jornalista, sócio-fundador do grupo Língua de Trapo, um estilo sem escritor

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Não me convidem para minha noite de autógrafos

É fundamental que um bom samaritano esteja comigo nas horas que antecedem a estreia do volume, senão posso dar um perdido.

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 Faço livros há 26 anos. Todos os 15 escritos possuem algo ligado a humor, mas venho experimentando vários gêneros: crônica, aforismo, microconto, poesia, infanto juvenil e até um romance policial. 

Tenho prazer em participar de todas as etapas da edição, menos a parte dos lançamentos. Muitas vezes sofro para escrever certa obra, noutras me entedio com a revisão, todavia, o evento ligado a dedicar e autografar livros é o que mais me estressa. 

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Sempre fui o tipo do indivíduo comunicativo para até, no máximo, quatro pessoas. Passou disso, já vira um público e fico paranoico. 

Quando fiz parte de um grupo de música, o Língua de Trapo, cantava em palcos do circuito universitário. Conforme as plateias iam crescendo, crescia também o meu consumo de birita para conseguir dar o recado na ribalta. Ficava menos intimidado com os holofotes, mas esquecia as letras das músicas. Então, após uma série de vexames, decidi ficar no poço do teatro, ajudando somente na criação da galhofa.  

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Com o escritor, tal atitude é impossível. Torna-se inviável parir um livro e não aparecer, em determinado dia e hora, mercadejando-o aos leitores.

Certa vez, o contista João Antônio me revelou que separava seu trabalho em dois momentos. Quando estava elaborando histórias, só fazia aquilo. Terminado o processo, nas palavras dele: “fechava a máquina de escrever e abria a lojinha”.  

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Entendo a importância do momento de colocar um filho na vida. Acontece que meu lado emocional, não compreende do mesmo jeito. Na manhã que precede o acontecimento, já desperto com sintomas esquisitos. Pode ser palpitação, diurese excessiva, formigamento, dor de barriga, desejo incontrolável de não comparecer à livraria etc. 

É fundamental que um bom samaritano esteja comigo nas horas que antecedem a estreia do volume, senão posso dar um perdido. Nunca cheguei a consumar o fato, mas sempre tenho fantasias de fuga. 

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Minha maior neura nos lançamentos, entretanto, é sempre a mesma: dar um branco e esquecer o nome de um conhecido que me entrega o livro para a dedicação. Os atendentes providenciam o famoso papelzinho com as alcunhas. O problema é que amigos e parentes sempre acham que a folhinha é desnecessária. “Ora, imagina se o Castelo não vai saber o meu nome!”. E jogam o lembrete no lixo. 

Infelizmente, me esqueço, sim. E ali começa a agonia de tentar puxar pela memória como aquele ser foi batizado. “Tem cara de Roberta. Não, Roberta estava na fila antes. Será Flávia? Não, está mais para Rosa”.  

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Se nada dá certo, virá a clássica pergunta:  

- Como quer que eu escreva seu nome na dedicatória? 

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Os mais renitentes dirão: 

- Ué, pode escrever meu nome mesmo... 

Antes do desastre de perguntar o nome de uma pessoa que se conhece há décadas, a última cartada será: 

- Mas não prefere com seu nome completo? Que, aliás, me fugiu agora. Fala ele inteiro, com sobrenome e tudo... 

Se a estratégia não colar tudo estará perdido. O autor precisará admitir seu disparatado esquecimento. Como ocorreu comigo há alguns anos. Fiz todo o procedimento relatado acima e, ao final, ouvi da leitora: 

- Meu nome completo é Alzira Leão de Melo.  

Era minha avó. 

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