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Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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Não precisamos "ensinar o Padre Nosso ao vigário"

A solução está sempre numa ação Política

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 Tive a oportunidade de conviver com Jacó Bittar e ouvir dele frases geniais, numa ocasião ele me disse: “poucos podem ensinar o padre nosso ao vigário, mas o vigário deve ouvir sempre”.

 Quem conviveu com Jacó de forma fraterna, respeitosa e se dispôs a ouvi-lo, como Wanderlei Almeida, o Wandão vice-prefeito de Campinas e Edison Cunha, também do PSB -, sabe que seu pensamento merece mais atenção de todos que se apresentam como socialistas, trabalhistas e democratas de centro ou mesmo de direita; Jacó foi um intérprete honesto do seu tempo.  

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 Mas não vou escrever sobre o Jacó hoje, trago essa lembrança para afirmar que (i) a sua visão de ação sociopolítica sempre esteve à frente de todos os seus companheiros, seja os do sindicato, da CUT, do PT, do PDT – partido no qual ele teve uma rápida passagem -, ou do PSB, e, que (ii) se ele estivesse entre nós ainda, Lula deveria ouvi-lo para não criar turbulências desnecessárias.

 Vamos lá.  

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 Para mim é muito claro: foi uma frente partidária, da esquerda até a direita-democrática, que venceu as eleições em 2022 e não o PT (é verdade que sem Lula seria improvável a vitória).

 Sem os votos de todos os democratas que apoiaram a chapa no segundo turno estaríamos vivendo sob a presidência de um representante genuíno da extrema-direita, sempre cioso por um golpe na democracia, “para salvar a democracia”.

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 A vitória só foi possível porque, além do PT e PSB - coligados na chapa Lula-Alckmin -, o Cidadania se colocou ao lado de Lula na segunda fase do pleito; o PCdoB, PV, Solidariedade, Psol, Rede, Agir, Avante e Pros, estiveram ao lado de Lula e o MDB, de Tebet, o União Brasil, o Podemos e o PSDB deixaram que filiados tomassem decisão individual, assim como não pode ser desconsiderada que a candidata do MDB, Simone Tebet recebeu 4,9 milhões de votos.  

 A vitória da chapa Lula-Alckmin deu-se pela diferença de apenas dois milhões, cento e vinte e oito mil e trezentos e quarenta e oito votos, menos de 2%, noutras palavras, se o inominável tivesse tido mais um milhão, sessenta e quatro mil e setecentos e setenta e cinco votos ele teria vencido as eleições por “um” voto.

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 O PT não venceu as eleições sozinho, mas com um importante número de partidos, com visões políticas coincidentes em alguns aspectos, mas divergentes em outros tantos, por isso cada um desses partidos é “sócio” na vitória de 2022.  

 Me permito fazer uma analogia envolvendo uma sociedade anônima, ou por ações.

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 Nesse tipo de sociedade o poder de voto cada acionista é representado pelo número de ações que ele detém e que representam o capital.  

 Nessa “sociedade”, que venceu as eleições em 2022, o PT e o PSB são os acionistas majoritários, mas não são os únicos acionistas; há os acionistas minoritários, cujos interesses não são irrelevantes e não podem ser ignorados.  

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 Se imaginarmos uma assembleia de acionistas numa S.A, por mais ações que um acionista tenha ele não pode decidir de forma plenipotenciária questões estratégicas da companhia.

 Ou seja, a articulação política, que nada mais é do que um processo de convencimento acerca da pertinência de ações e projetos do governo, não pode ser feita apenas com o congresso, senadores e deputados, mas também internamente, com cada um dos representantes dos acionistas e, principalmente com a sociedade como um todo.

 Não se faz política dentro de gabinetes com ar-condicionado, poltrona de couro, tendo a cafezinho sendo servido por um copeiro ou copeira; política precisa de envolvimento da sociedade, precisa de “sangue nos olhos e lama nos sapatos” (Chico Buarque).

 E antes que alguém leia o que não está escrito registro que “sangue no Olho” tem sentido figurado significa que para vencer é necessário ter vontade de vencer, caracteriza também as pessoas que são destemidas, que amam desafios e encaram os obstáculos com uma gana incondicional de superá-los, confiança e força espiritual.

 Onde estavam os ambientalistas quando a câmara desmontou o Ministério do Meio Ambiente e aprovou o “marco legal”? Onde estava a sociedade? Não estavam na câmara porque não houve articulação política de verdade, porque a sociedade foi colocada à margem do debate.

 Sejamos honestos, salvo por alguns movimentos populares, o institucionalismo apropriou-se verdadeira política; a política é dominada por burocratas, sempre em busca de privilégios, que fingem preocupação com o país e com as políticas públicas propostas pelo governo, mas fazem ouvidos moucos para as divergências internas, sempre para agradar a Lula e a corte instalada no seu entorno.

 Nem vou aprofundar o tema “congresso nacional” – hoje majoritariamente conservador e que, em alguns temas, flerta com ideias que tangenciam o fascismo.  

 Lula tem que conversar com Lira e Pacheco; Padilha e Rui Costa devem dar atenção a todos os líderes de partidos que apoiaram a chapa vencedora, bem como aos congressistas que não nos apoiaram, as que são sensíveis às demandas sociais, caso contrário o governo vai perder todas as votações que envolvam uma agenda progressista, vide o que está acontecendo com o “meio ambiente” e a tragédia que representa o tal “marco legal”.  

 Por que vai perder? Porque a correlação de forças hoje é 350 x 150 na câmara, e não preciso explicar que tem mais votos.

 A solução está sempre numa ação Política.  

 A ação política a qual me refiro deve fazer sentido para quem a prática por isso, para fazer sentido, é necessário diálogo, negociação, convencimento; em fazendo sentido ela é capaz de envolver positivamente a sociedade, os movimentos sociais, os interesses da indústria, do agro, da agricultura familiar, os ambientalistas etc., sempre com apoio da sociedade civil.

 É verdade não precisamos “ensinar o padre nosso ao vigário”, mas seria bom ele nos ouvir.

 Essas são as reflexões.  

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