CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Pedro Maciel avatar

Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

528 artigos

blog

Não se trata de esquerda ou direita

O que interessa à sociedade é ouvir de nossos representantes qual é a ação que pretendem realizar para a institucionalidade ficar a serviço do interesse público

A Esplanada dos Ministérios, em Brasília (Foto: Marcello Casal Jr/Ag. Brasil)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Ao ler e reler o artigo “Fim do caso #MarielleAcabou” da lavra de um vereador aqui de Campinas, concluí que eu não poderia discordar mais de cada uma das linhas, dos parágrafos e do argumento como um todo, pois o que se depreende dele é a absoluta falta de empatia e integral desatenção a fenômeno social que vivemos: a apropriação do Estado pela contravenção, pelas milícias e pelo crime organizado.

Costumamos trocar impressões sobre temas diversos, quase nunca concordamos, mas nossa interação sempre é respeitosa, por isso registro: as minhas reflexões contidas neste artigo seguem essa linha.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Não o encontrei recentemente, se tivesse encontrado eu diria a ele: “não se trata de esquerda ou direita, a sociedade não tolera mais tanta irracionalidade na quadra da política, a sociedade não suporta mais o radicalismo retórico e corrosivo, o tema exige abordagem adulta, a lacração das redes sociais vai destruir o Brasil”.

Bem, a meu juízo, o artigo do vereador é construído de triste colagem de argumentos rasos, típicos das mensagens lacradoras de WhatsApp, aqueles que são usados maldosamente para reescrever a História de acordo com a conveniência.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Fato é que, lá pelas tantas, o vereador afirma “sinceramente não entendo a razão da comoção de sua morte ser tão exaltada” e, mais adiante, “Marielle era mais uma vereadora da esquerda que usava seu mandato para defender o indefensável”; o vereador não entendeu que não se trata da polarização burra entre esquerda vs direita, o que está em debate é algo maior.

Vamos lá.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Chamo atenção do leitor para o fato de o Brasil ser o 22º país, dos 193 estados-membros da ONU, com o mais alto índice de criminalidade organizada; na América do Sul, ficamos atrás apenas de Colômbia, Venezuela e Paraguai.

Além disso, o país ocupa as primeiras posições no ranking quando o alvo dos crimes é o meio ambiente (esse é um levantamento realizado pela “Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional” - GI-TOC -, entidade não-governamental sediada em Genebra, na Suíça).

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

A pesquisa concluiu que três quartos da população mundial moram em países com altos índices de criminalidade e pequena capacidade de combater as organizações criminosas.

Esse é o debate real, responsável e adulto.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

É nesse contexto e por essas razões que Marielle Franco transformou-se num símbolo internacional de combate ao crime organizado e à defesa dos direitos humanos, é por essa razão que o mundo passou a perguntar: #QuemMandouMatarMarielle? E por quê?

Hoje sabemos que a jovem vereadora, ela tinha apenas 38 anos, foi assassinada a mando de milicianos cariocas, porque ela se opôs aos interesses da milícia; esse motivo faz dela uma heroína a quem todos os vereadores e vereadoras do Brasil deveriam render homenagens.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

As investigações - ao contrário do que setores simpáticos às milícias, à contravenção e ao crime organizado vocalizam -, não serviram de “palanque”, mas para revelar a todo o país que o estado do Rio de Janeiro é controlado pelas milícias, pela contravenção e pelo crime organizado.

O que os nossos representantes, em todas as esferas da vida pública e entes federativos e dos vários matizes ideológicos, deveriam estar debatendo são: (i) as razões pelas quais isso aconteceu; (ii) a extensão dessa realidade, em cada um dos estados e cidades do país e (iii) o que o Estado (municípios, estados e União) podem fazer conjuntamente para tratar milicianos, contraventores e criminosos como o que são, impondo a eles os rigores da lei, colocando na cadeia os lordes e não apenas os vassalos.

Apontados como mandantes da morte de Marielle Franco, Domingos e Chiquinho Brazão, respectivamente, conselheiro do Tribunal de Contas daquele estado e deputado federal, tinham cargos de decisão e poder para sabotar a investigação e fizeram isso.

É verdade que apoiaram a reeleição de Bolsonaro, de maneira fervorosa nas últimas eleições e sempre mantiveram relações próximas com Flávio Bolsonaro (o filho que empregava milicianos); também é verdade que Flávio e Brazão atuavam em parceria na Assembleia Legislativa do Rio; por outro lado, em nome da honestidade do argumento, é preciso registrar que os Brazão, durante anos, atuaram como cabos eleitorais para as candidaturas à presidência do PT no Rio de Janeiro e são próximos de André Ceciliano, integrante da secretaria de Relações Institucionais do governo Lula, e de Washington Quaquá, vice-presidente nacional do PT. 

Faço essas observações para reafirmar: o importante não é saber se os Brazão são petistas, lulistas ou bolsonaristas, isso é irrelevante, pois os irmãos são bandidos que valeram-se da institucionalidade para corrompê-la e enriquecerem.

A única orientação política da família Brazão é a “Família Brazão”, isto é, que tudo que lhes interessa são apenas os objetivos do próprio clã, o resto é apenas perfumaria e alianças pragmáticas. 

Quando olhamos para a história da família Brazão, sua influência, para os crimes que lhe são imputados, para a forma como supostamente planejaram a morte de Marielle Franco, para as supostas motivações do crime — a ocupação e grilagem de terras –, quando olhamos para tudo isso, percebemos a existência de uma indiscernibilidade entre eles, entre o clã e a politika fluminense, a própria pólis.

O que interessa à sociedade é ouvir dos nossos representantes qual é a ação que pretendem realizar para que a institucionalidade esteja a serviço da sociedade, do interesse público, e não dos interesses econômicos de um verdadeiro “Estado paralelo”.

Por isso tudo, ao contrário do que afirmou o vereador campineiro, a hashtag adequada seria #MarielleVive, pois, foi através da investigação de seu brutal assassinado que o país tomou consciência do processo de apodrecimento de toda a institucionalidade e da urgência dessa realidade ter um fim.

Essas são as reflexões.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO