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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Não subestimem a extrema direita

A eleição do ano que vem pode não nos oferecer uma prévia do fascismo a ser enfrentado em 2026, mas enviará sinais importantes

Apoiadores de Jair Bolsonaro em atos golpistas na Praça dos Três Poderes (Foto: Marcelo Camargo/ABr)
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Se decidisse montar numa moto hoje e sair a percorrer o Brasil, Bolsonaro teria tantos seguidores quanto Dallagnol teve em cima de um trio elétrico na semana passada em Curitiba.

Os cachorros olhariam da calçada com enfaro para Bolsonaro, como olhavam para Dallagnol e Sergio Moro.

Mas Bolsonaro não correria esse risco. Seria um fracasso que os profissionais do PL evitariam e que Dallagnol, por amadorismo e arrogância, não conseguiu antever.

Mas nada disso quer dizer que direita e extrema direita tenham perdido força. Perderam o ímpeto da manifestação pública, do engajamento a barulhos e gritarias.

As brasas do fascismo estão embaixo das cinzas de uma aparente calmaria, inclusive nas redes sociais. Serão testadas com o assopro das eleições municipais do ano que vem.

O extremismo parece ter adormecido com a vitória de Lula, o fracasso dos acampamentos e da invasão de Brasília, as prisões dos manés e a sequência de ações de Alexandre de Moraes que levam aos criminosos e aos crimes do contrabando de joias, das fraudes dos cartões de vacina e das articulações do golpe.

É difícil ser fascista efusivo numa hora dessas. Mas o fascismo, mesmo triste, sobrevive com seus grandes líderes e financiadores ainda intocados.

Pode acontecer aqui o que ocorreu no Chile, onde o pinochetismo hibernou e ressurgiu agora, na segunda eleição do conselho para a Constituinte.

O Chile foi às ruas em 2019, um ano depois disse em plebiscito que desejava uma nova Constituição, em 2021 elegeu os membros da Constituinte e logo depois elegeu Gabriel Boric. Todos os movimentos em direção à esquerda.

Mas em setembro do ano passado rejeitou a nova Constituição e agora, no início de maio, elegeu o novo conselho Constituinte. Todos os movimentos em direção à direita e à extrema direita.

Uma guinada inesperada? O sociólogo Enrique Gomáriz Moraga responde que não em artigo nessa segunda-feira na Folha.

Porque não há uma guinada. A eleição da Constituinte esquerdista e de um presidente de esquerda foram sinais enganosos.

A Constituinte foi eleita no embalo das manifestações de rua. A eleição de Boric seria a sequência natural desses movimentos.

Mas Moraga observa que a eleição teve participação de apenas 56% do eleitorado.

O dado que desvenda tudo. “Se Boric obteve pouco mais da metade desses votos, isso quer dizer que o presidente eleito tinha apenas 27% do eleitorado total”.

E mais esta: as pesquisas mostraram que sete em cada 10 dos quase 3 milhões de votos em Boric no segundo turno vieram de outros partidos de centro-esquerda, que não seguiriam ao lado de Boric.

O resumo desalentador: Boric teve como base fiel de esquerda apenas um quinto do eleitorado e não conseguiu lastro de apoio no Congresso.

O que a realidade nos mostra hoje é que a direita, incluindo o extremismo neopinochetista, estava sesteando ao não tentar se impor na primeira Constituinte e na eleição de Boric. E agora acordou.

Na hora da verdade, o “Chile profundo”, assim definido por Moraga, mostra a cara. É um Chile ainda conservador, temeroso dos avanços do outubrismo de 2019 e em boa parte ainda pinochetista.

O fascismo ocupou agora a maior fatia das cadeiras do conselho Constituinte, sob a liderança de José Antonio Kast, do Partido Republicano.

Não há comparação com o Brasil, até porque Lula não é um Boric, mas é possível considerar um alerta.

A direita brasileira, que se jogou nos braços da extrema direita e revigorou parte da índole da ditadura, pode ter gostado da experiência bolsonarista.

A eleição municipal do ano que vem é a chance para um teste, quando Bolsonaro já estará abalado pela inelegibilidade e o cerco de Alexandre de Moraes, e quando Lula estará perto da metade do mandato.

Erra quem subestimar a aparente dormência da direita anti-Lula que virou declaradamente fascista a partir de 2018 e erra mais quem achar que o bolsonarismo não sobrevive sem Bolsonaro.

Poderá ser menor, menos espetaculoso e gritão, mas social e eleitoralmente expressivo.

A eleição do ano que vem pode não nos oferecer uma prévia do fascismo a ser enfrentado em 2026, mas enviará sinais importantes.

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