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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Nara sensacional, Elis fenomenal

Elis Regina e Nara Leão (Foto: Reprodução)
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O documentário de Renato Terra sobre Nara Leão que está encantando a nação suscita paixões artísticas nas observações e discussões que se desenrolam no Face, descambando para preferências que se levantam entre a grande artista e a sua contemporânea grandiosa Elis, a propósito, me parece, mais de irrelevâncias do que de algo, verdadeiramente, substantivo. 

Nara Leão e Elis Regina, antes de nos dividir sobre qual foi a mais genial em suas atuações na música popular brasileira, nos une pela história; nos dá lição de sociologia, tendo em vista que ambas apresentam antagonismo em si dadas suas origens de classe no ambiente social, político e cultural em que viveram,  tendo, no desenvolvimento de suas atuações profissionais, o Rio de Janeiro como palco principal; Nara era filha da burguesia carioca, sobretudo, filha de Copacabana, princesinha refinada do mar, amada por todos os brasileiros, loucos pela cidade maravilhosa; o Rio era, para Nara, sua casa, seu jardim, seu berço, sua natureza essencial; estava, desde sempre, inserida naquele contexto, no qual sua família era produto de uma classe cujos pressupostos eram os de dar as cartas no pensamento dominante dos mais abonados que dirigiam aos de baixo com aquela soberba, sabe cumé? Daí, dessa burguesia arrogante, não sairia, como nunca saiu, nada de povo, de raiz?

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Engano, saiu, pintou a Bossa Nova como a arte da classe média, para copiar/rivalizar/integrar com o jazz americano, como diz o craque Carlinhos Lira; o samba, para esse pessoal sofisticado, era a malandragem, enfim, o preconceito, nome, aliás, do genial samba de Geraldo Pereira; grande engano, pois como disse João Gilberto, tudo o que se fez, afinal, foi samba.

Pois bem, Elis, ao contrário de Nara, era filha do sul, da familia humilde, originária das maravilhas riograndenses, com suas extensões geográficas e psicológicas se estendendo pela pampa ardente, integrando-se, desde a colonização, mais com o poente do que com o nascente nacional, vamos dizer assim, para resumir, tá bom?

Chegava ao Rio a Pimentinha braba, no final dos anos 1960, querendo acontecer, desfazer o bem feitinho e organizado, para virar a realidade comportadinha de cabeça para baixo, pois todos estavam de saco cheio com aquele status quo imposto pelos gorilas; deu-se, nesse ambiente, choque cultural artístico na sequência da evolução da música, que vem, gradualmente, desde os anos 1950; o interessante e maravilhoso, em ambas as artistas, foi a propensão delas, em combinado show de bola(inconsciente ou consciente?), de irem ao encontro do mais criativo em andamento no Brasil naquela quadra histórica atormentada, como resistência artística à escuridão que então predominava no panorama nacional.

Tanto Elis como Nara, socialmente, antagônicas, amaram e cantaram, ao mesmo tempo, Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti, João do Vale etc, ou seja, o morro, eternamente, perseguido pela burguesia, na sua tentativa inglória de colorir realidades dramáticas, para construir cenários edulcorados no exterior da realidade; as duas musas revelaram o que de melhor tem o Brasil, despertando consciências e valores novos, pulsantes, transformadores, na fase pós-Bossa Nova(tem isso, mesmo, se ela está aí vivíssima, expandindo mundo afora?), na qual Nara foi expoente desde o início; os choques entre elas, no entanto, existiram, não se pode negar; dividiram fãs e torcedores, como, nos anos 1950, ocorreu entre Emilinha Borba, de um lado, e Marlene, de outro, com seus respectivos fãs clubes, uma cultura, eminentemente, carioca; o fato, porém, como acontece, agora, por força de observações extemporâneas, inteligentes, provocativas e instigantes, é que, eliminadas, no tempo, as barreiras sociais, as polaridades econômicas, vindas do berço, entre Elis e Nara, o que se vê, para felicidade geral da nação, é o entendimento maior da luta substantiva em que elas se engajaram, apaixonadamente, para mostrar, simultaneamente, as misérias nacionais, que combatiam, e as belezas, que buscaram ressaltar, como o ideal cultural.

As duas geniais artistas foram decisivas para construírem, para além do abstrato, a consciência política libertadora; diferenças e desencontros de personalidades e opiniões acabam se dissolvendo, se o propósito maior é a libertação do povo; nesse sentido, Nara e Elis, Elis e Nara, são uma mistura espetacular do que de melhor o Brasil produziu.

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