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Clarissa De Franco

Psicóloga, doutora em Ciências da Religião, com pós-doutorado em Estudos de Gênero. Profa. Titular da Universidade Metodista de São Paulo

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Narciso afogando a democracia no lago da vaidade

Jair Messias Bolsonaro se considera um semideus, como Narciso. E se espelha em figuras igualmente narcisistas e abusivas

(Foto: Agência Senado)
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O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais caracteriza o Transtorno de Personalidade Narcisista por “sentimentos exagerados de autoimportância, necessidade excessiva de ser admirado/a, falta de compreensão dos sentimentos das outras pessoas, comportamento de se aproveitar das pessoas ao redor”. Embora não seja indicado – e provavelmente também seja pouco efetivo – diagnosticar alguém a partir de sua atuação pública, sem estar em um ambiente terapêutico adequado, a caminhada em Psicologia me impele a enxergar o óbvio: profundos traços narcisistas em nosso presidente. Se ao menos houvesse uma classificação psiquiátrica para Jair, talvez este poderia ser um atenuante ao seu comportamento apavonado, cínico e irresponsável. Mas nem um CID com muita vodka pode nos ajudar a engolir seus comportamentos. 

Jair Messias Bolsonaro se considera um semideus, como Narciso. E se espelha, além de seu próprio reflexo envaidecido e distorcido, em figuras igualmente narcisistas e abusivas, como Donald Trump, que tentou dar golpe ao perder as eleições estadunidenses, chamando seguidores/as para uma guerra inventada. O problema é que as guerras inventadas também matam. E quando as cortinas tiraram definitivamente Trump do palco, usou o poder de indulto para libertar, nos últimos minutos de mandato presidencial, dezenas de pessoas apoiadoras, ligadas a diferentes crimes. 

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Não há esforço sequer em cultivar uma imagem que pareça original. Bolsonaro contenta-se em ser a cópia de líderes autoritários que abusam do poder e tumultuam o andamento já trabalhoso do exercício democrático. Cerca-se de iguais: um combo de mal gosto de militares, religiosos e políticos com passado abusivo e arrogante. 

Mas quanto mais falamos de Narciso, mais ele se afoga no lado da vaidade e nos leva junto para submergir em sua lama fantasiosa. Por isso, é lamentável continuarmos contribuindo diariamente como sociedade para que Bolsonaro legitime a percepção de que realmente é algum “muso” divino, um messias merecedor do sobrenome, diante de seus súditos. Temos funcionado como o lago trêmulo que devolve a Narciso a imagem hipnotizadora de vencedor, já que estamos há dias com a mídia, os poderes, as redes sociais mobilizadas em torno de uma molecagem do presidente, que não chega a ser nenhuma novidade. 

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Novidade, mesmo, é nos surpreendermos com suas ações. Vamos deixar o STF trabalhar. Se crimes de opinião e de ameaças à democracia vindos de um parlamentar merecem oito, dois, quatro ou cinquenta anos de prisão, não cabe à esfera civil leiga definir. Podemos – claro – debater coletivamente para que o jurídico acompanhe os consensos sociais atualizados, mas nas circunstâncias do fato específico, o debate virou barulho que alimenta a vaidade de Narciso. Silêncio voluntário, às vezes, surte mais efeito. 

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