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Oliveiros Marques

Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

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Narcotráfico é desculpa

Discurso antidrogas de Washington esconde real interesse nos minerais estratégicos da América Latina

O presidente dos EUA, Donald Trump (Foto: REUTERS/Kevin Lamarque)

O governo Trump segue em sua ofensiva pós-neocolonialista. A movimentação de embarcações e aeronaves militares por mares fronteiriços com a América Latina, a partir do sul do Caribe, é mais uma das violências cometidas contra outras nações.

Assim como os norte-americanos utilizaram no Iraque a desculpa da possível existência de armas nucleares no regime de Saddam Hussein – o que não se confirmou –, agora recorrem ao argumento de enfrentar o narcotráfico para se posicionarem militarmente em nosso continente.

O curioso, no entanto, é que, apesar desse argumento, o alvo seja a Venezuela, um país que vive sob bloqueio norte-americano e é adversário ideológico declarado. Por que o governo dos Estados Unidos não dirige seus ataques, por exemplo, ao Equador, do seu aliado Noboa, que, segundo dados recentes, apesar de não produzir cocaína, representa o corredor por onde passa 70% da produção mundial dessa droga, grande parte com destino ao próprio território norte-americano?

Porque, na verdade, não se trata – e nunca se tratou – de enfrentar o narcotráfico que abastece os EUA. Esse comércio, aliás, só existe porque há consumo, algo que os governos norte-americanos, tão pródigos em dar pitaco na vida de outros países, mostram-se absolutamente incompetentes em reprimir dentro de suas fronteiras.

O que está em jogo em toda a América Latina é o controle da exploração de terras e minerais raros existentes em abundância em nosso território. Importantes para a indústria de tecnologia, são o ouro e a prata da vez no processo de exploração colonialista. Recentemente, fui alertado por um amigo boliviano, especialista em energia, para o fato de que em nosso continente estão algumas das maiores reservas mundiais de dois desses minerais: o lítio e o cobalto.

O lítio, também chamado de petróleo branco, ganha relevância neste momento de transição energética – e não apenas para a produção de carros elétricos, mas também para o armazenamento da energia gerada por sistemas solar e eólico e, claro, para a produção de baterias de íon-lítio, base de celulares, computadores, tablets e eletrodomésticos inteligentes.

O cobalto, por sua vez, aumenta a densidade energética e a estabilidade térmica das baterias, evitando superaquecimento e explosões. Portanto, é fundamental não só para os equipamentos de comunicação e mobilidade, mas também para a indústria de equipamentos médicos e para os setores aeroespacial e militar, sendo empregado em ligas metálicas super-resistentes de turbinas de aviões, motores de foguetes e até reatores nucleares.

E aqui reside o verdadeiro interesse de Trump na América Latina: nossas grandes reservas desses minerais. Regiões do Chile, da Bolívia e da Argentina formam o chamado Triângulo do Lítio, com as maiores reservas mundiais. E, embora a República do Congo, no continente africano, concentre boa parte das reservas mundiais de cobalto, o Brasil está entre os dez maiores, com reservas estimadas em 70 mil toneladas.

Em resumo, o lítio e o cobalto são, para a industrialização tecnológica do século XXI, o que o petróleo foi para o século XX: insumos estratégicos, capazes de decidir o futuro da economia mundial, do meio ambiente e da soberania dos países que os detêm. É exatamente atrás disso que o governo Trump está. O enfrentamento ao narcotráfico não passa de uma cortina de fumaça – com perdão do trocadilho.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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