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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Negação de Bolsonaro à ditadura tem origem na infância

"Filho do dentista prático Percy Geraldo Bolsonaro, terceiro de uma família de seis, Bolsonaro, nascido em Campinas, adolesceu em Eldorado, no Vale do Ribeira, onde ficou até os 18 anos. Ali viu o pai ser indiciado por exercício ilegal da profissão", escreve a jornalista Denise Assis ao comentar a infância de Jair Bolsonaro no interior paulista

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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

A ditadura nunca existiu. O Enem deste ano deixou de lado a ideologia.  

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Duas afirmações de Bolsonaro absolutamente mentirosas. Por parte, e não necessariamente na ordem anterior, vamos aos fatos.  

No dia 3 de novembro o jornal O Globo estampou em suas páginas matéria que explicava o real motivo da conexão Enem mais Cinema. Nada a ver com amor à sétima arte. Tudo a ver com política e ideologia, sim.  

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O Ministério da Educação (MEC), lançou, na última terça-feira (29), um programa que visa incentivar a acessibilidade de deficientes visuais e auditivos, além de pessoas com Transtorno do Espectro Autista, em salas de cinema de todo o país. O protocolo de intenções foi assinado na última terça-feira (29/10), e contou com a presença da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O assunto, agora, se conecta ao tema da redação do Enem 2019: "Democratização do acesso ao cinema no Brasil", esclarecia o jornalão. E para efeito de curiosidade, é bom destacar que tal iniciativa já estava há alguns anos em estudo na Ancine. O que se fez foi só implementar.

Agora, entremos na obsessão de Jair, a negação à ditadura civil-militar (1964/1985), que, aí, sim, apenas em parte, tem razões ideológicas, apesar das reverências públicas ao torturador - sempre homenageado por ele - e que não entrará neste texto, para não darmos espaço, mais uma vez, a um sanguinário da espécie daquele.

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As razões para tamanha fixação no período, tem a ver com as lembranças de infância do presidente, como nos revelaram reportagens da Revista Época de 30 de julho de 2018. A três meses dos brasileiros, pilhados contra o PT (por uma chuva de fake news e a onda do discurso único da mídia, além dos interesses do mercado, claro), sufragarem nas urnas o nome dele para ocupar a presidência. Hoje, parte desse eleitorado daria um braço para retirar o voto dado.  

Filho do dentista prático Percy Geraldo Bolsonaro, terceiro de uma família de seis, Bolsonaro, nascido em Campinas, adolesceu em Eldorado, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo, onde ficou até os 18 anos. Ali viu o pai ser indiciado por exercício ilegal da profissão. De lá saiu para o Exército. E, por fim, para uma vida parlamentar iniciada em 1991 e pautada pela defesa do período que agora tenta varrer das pesquisas e da vida escolar, usando a cadeira presidencial.

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Como nos descreve a reportagem da Revista Época, “Em Eldorado Paulista há uma pequena praça onde os sinos da igreja tocam de meia em meia hora”. (...) Dentro da igreja, durante anos, negros quilombos de Eldorado ocuparam os últimos bancos, com medo de serem expulsos da frente do altar. Os mesmos quilombolas que, para Bolsonaro, “não servem nem para procriar”.

Também a BBC News Brasil, em 16 de janeiro de 2019 foi em busca do passado que moldou a personalidade de Bolsonaro. Lendo o material publicado na BBC, salta das entrelinhas as razões ocultas de tanto ódio aos personagens da resistência à ditadura que o presidente teima em negar, mesmo depois de as próprias Forças Armadas, durante os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade”, admitirem em nota enviada ao então ministro da Defesa, Celso Amorim, ter havido excessos em suas dependências, no período. 

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Uma das torres do santuário foi doada por Jaime Almeida Paiva, homem mais rico e "coronel" da pobre Eldorado por vinte anos. Dono de uma das maiores fazendas do Vale do Ribeira, "Dr. Jaime" era pai do deputado opositor à ditadura e desaparecido político Rubens Paiva, alvo de acusações de Bolsonaro durante toda a vida pública do hoje presidente.” (...) Bolsonaro é um grande crítico de Rubens Paiva, ex-deputado federal que fez oposição ao regime militar e desapareceu em 1971. Paiva aparece com frequência nas falas do presidente sobre a ditadura, um dos temas recorrentes em seus discursos.” A família de Rubens Paiva tinha uma fazenda na cidade de Eldorado Paulista, onde Bolsonaro chegou com 11 anos, chamada Fazenda Caraitá.

A despeito de todos os documentos já trazidos à público pela CNV, atestando a morte do deputado durante tortura no DOI-CODI do Rio de Janeiro, Bolsonaro sempre negou os fatos, ao longo dos anos, fazendo várias acusações contra ele. Uma delas, como descreve a reportagem, é a de que “Rubens Paiva ajudou o ex-capitão do Exército Carlos Lamarca a montar uma guerrilha no Vale do Ribeira, onde fica Eldorado. Não há provas de que essa colaboração tenha acontecido”, apurou a BBC.  

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(...) A fazenda Caraitá sustentou a economia de Eldorado por mais de vinte anos. O "doutor" Jaime Paiva, como moradores ainda chamam o empresário de Santos que se tornou um grande fazendeiro do Vale do Ribeira, começou a comprar terras ali em 1941.” De acordo com o depoimento de uma moradora ouvida na reportagem, "Não se tinha acesso aos Paiva, só aos empregados. (...) Eram muito ricos...”

(...) Enquanto o presidente morava na cidade – e por muitos anos antes disso –, Jaime Paiva era o chefe de boa parte da população. Ele tinha plantações de banana e laranja, criações de gado e uma serraria de móveis, além de ser responsável pela vida social do lugar: a festa da Rainha da Laranja, a mais importante do ano, era organizada pela família.

Mais do que uma liderança informal, Paiva foi prefeito duas vezes. Na primeira, de 1956 a 1959, fez a ponte sobre o rio Ribeira e uma das escolas locais.” Bolsonaro foi aluno da Escola Dr. Jaime Paiva.

Como é comum em cidades pequenas – Eldorado tem 15 mil habitantes – as diferenças sociais costumam ficar marcadas para sempre na memória de seus habitantes. Outro entrevistado pela BBC News, chamado Celso, descreve assim, a relação dos Paiva com a cidade: “Apesar de não ser um cara "ruim", como Celso repete, Jaime e sua família não eram sempre bem vistos pelos moradores. Entrevistados descreveram que nos meses de verão, quando filhos e netos visitavam a fazenda, era comum ver os Paiva cavalgando seus cavalos de raça pelas ruas.”

Bolsonaro não ficou imune a essas diferenças. No livro de memórias escrito por seu filho 01, Flávio Bolsonaro, o encrencado no caso das “rachadinhas”, Bolsonaro não demonstra conviver pacificamente com essas lembranças.  Flávio registrou que "parte considerável do território da cidade de Eldorado Paulista era de domínio particular, uma fazenda enorme chamada Caraitá – que hoje seria um latifúndio".

Na mesma página, é mencionada a chácara de Rubens Paiva, uma casa grande, pintada de azul claro. “Nessa chácara”, escreve Flávio, "tinha piscina, algo raro à época, mas que não era socializada com a criançada da vizinhança – que ficava apenas admirando, de longe, onde os filhos da família Paiva se refrescavam".

Detalhe: conforme descrito pela BBC, a antiga casa dos Bolsonaro, hoje, é pintada de azul claro. Talvez, não fossem os problemas com o IPHAN, Jair mandasse pintar o Palácio do Planalto da mesma cor...

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