Negacionismo científico ameaça séculos de avanços; vacinas salvam milhões todos os anos
Só na última década, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), vacinas salvaram cerca de 10 milhões de vidas globalmente
Olho para o mundo hoje, em 11 de abril de 2025, e me preocupo profundamente com o que vejo: uma geração que corre o risco de jogar fora séculos de conhecimento científico como se fosse algo descartável. Esse negacionismo científico é um perigo real, que ameaça o bem mais precioso que temos — a preservação da nossa saúde. Ao longo da história, a ciência nos deu ferramentas para viver melhor e mais tempo.
Pense na teoria microbiana de Pasteur, que revelou os germes como causa de doenças; na penicilina de Fleming, que revolucionou os tratamentos; na teoria da evolução de Darwin, base para avanços médicos; na descoberta dos raios X por Röntgen, essencial para diagnósticos; e na anestesia de Morton, que tornou cirurgias suportáveis. Esses marcos salvaram incontáveis vidas e elevaram nosso bem-estar. Mas hoje, vejo esse legado sendo questionado por desinformação e ideologia, como se estivéssemos desmontando uma ponte de aço forjado para atravessar um rio caudaloso, trocando-a por tábuas podres de superstição.
Acredito que já passa da hora de a ONU, Organização das Nações Unidas, tão logo recupere suas forças e possa continuar atuando em favor da paz mundial e do bem-estar da espécie humana, levantar a discussão em sua assembleia geral tornando a vacinação, seguindo todos os protocolos científicos, um direito humano básico, fundamental. Não é apenas uma questão de saúde pública, mas de dignidade e sobrevivência. Garantir que cada pessoa no planeta tenha acesso a vacinas seria um marco histórico, um compromisso global com a vida, acima de interesses políticos ou econômicos.
As vacinas: um escudo da ciência - Neste artigo, quero focar nas vacinas, um dos maiores triunfos da ciência. Vou listar as seis mais importantes do mundo e sua cronologia: a vacina contra varíola, criada por Jenner em 1796, erradicou uma doença que matava milhões; a da poliomielite, de Salk (1955), combateu a paralisia infantil; a do sarampo, de Enders (1963), freou uma infecção letal; a contra tétano, de Behring (1890), evitou mortes por uma bactéria comum; a da difteria, de Roux (1888), controlou uma doença respiratória grave; e a da gripe, desenvolvida nos anos 1930 por Smith e outros, reduzindo surtos sazonais.
Só na última década, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), vacinas salvaram cerca de 10 milhões de vidas globalmente, graças ao acesso amplo e campanhas eficazes. A pandemia de Covid-19 é um exemplo gritante disso. Desde 2020, o vírus infectou mais de 700 milhões de pessoas e causou cerca de 7 milhões de mortes no planeta, segundo a OMS. Mas as vacinas mudaram esse cenário.
As principais — Pfizer-BioNTech, Moderna, Oxford-AstraZeneca, Sinovac e Johnson & Johnson — começaram a ser aplicadas em 2021 e, junto com campanhas educacionais, evitaram um crescimento exponencial de vítimas. Sem elas, os números poderiam ser catastróficos, com estimativas sugerindo até 20 milhões de mortes adicionais. A ciência, mais uma vez, foi nossa salvação, um farol erguido em meio a uma tempestade de caos viral.
O papel vital do Instituto Butantan - Aqui no Brasil, temos um orgulho especial: o Instituto Butantan, em São Paulo, é o maior fabricante de vacinas do hemisfério sul. Ele produz a CoronaVac (Covid-19), a vacina da dengue (pioneira no mundo), a da gripe, a antirrábica e a do tétano, entre outras. Em 2024, o Butantan forneceu mais de 100 milhões de doses ao Sistema Único de Saúde (SUS), que distribui gratuitamente essas vacinas. O Brasil é pioneiro na vacina da dengue e referência na produção da CoronaVac, exportada para vários países. Esse trabalho é um escudo para nossa população. Falando da vacina contra a gripe, ela tem evitado tragédias, especialmente entre crianças e idosos. No Brasil, campanhas anuais protegem milhões, reduzindo mortes por complicações como pneumonia. Só em 2023, a OMS estima que a vacinação salvou cerca de 150 mil vidas no país. Eu mesmo sou testemunha disso: tomei todas as doses da vacina contra Covid-19 e, desde que completei 60 anos, recebo anualmente a vacina antigripal. Sinto-me seguro, protegido por uma segurança adicional que funciona como um teflon contra os mais diferentes tipos de vírus, graças ao trabalho incansável de milhares de cientistas em todas as partes do mundo.
E me pergunto: numa sociedade em que o conhecimento enche o mundo assim como as águas enchem o mar, será minimamente sábio e razoável que deixemos proliferar narrativas falsas, amparadas em superstições e crenças, que veem na vacina não um aliado, mas um inimigo?
Um apelo pela razão - Cientistas renomados reforçam essa verdade. Albert Sabin disse: “as vacinas são a maior conquista da medicina para a humanidade”. Anthony Fauci afirmou: “negar vacinas é negar a razão”. Drauzio Varella declarou: “vacina é vida, é ciência em ação”. Margaret Chan alertou: “sem vacinas, voltamos à era das trevas da medicina”. Jonas Salk completou: “a esperança está na ciência, não na ignorância”. Faço um apelo: governos, invistam em vacinação e educação científica; famílias, vacinem seus entes queridos.
A OMS aponta que a cobertura vacinal caiu 5% desde 2019, deixando 20 milhões de crianças desprotegidas em 2024. Isso é um retrocesso perigoso, como se estivéssemos apagando as brasas de uma fogueira que nos mantém vivos em uma noite gelada.
A ciência não pode ser refém de discursos políticos ideológicos. Vacinar é um ato de responsabilidade, e eu clamo por uma vacinação em massa de toda a espécie humana — um compromisso com a vida, acima de superstições ou divisões. Que a razão prevaleça.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

