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Lucivânia Nascimento dos Santos Fuser

Lucivânia Nascimento dos Santos é mestra em Estado e Sociedade pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).

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Nem Bolsonaro, nem Macron, nem Estados Unidos: a resistência é soberana

Se os brasileiros que se opõem ao fascismo e ao neoliberalismo, contra qualquer dominação e exploração de classe, querem sua vitória nessa luta, precisam vencê-la internamente, sem esperar salvadores externos

(Foto: Sul21)
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Obviamente, sabemos que a percepção do Estado francês, de Macron, sobre o Brasil, é colonial e imperialista, mas num novo contexto geopolítico: a nova ordem mundial. Precisamos resistir a Bolsonaro sem esperar que nossa salvação venha da França. O olhar dos Estados europeus sobre o Brasil ainda é de superioridade, tanto quanto os EUA. Nem Bolsonaro, nem Macron, nem EUA têm ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, principalmente quando o assunto é política externa. 

O grande geógrafo Vesentini, em seu livro 'Novas geopolíticas', explica que as novas estratégias geopolíticas na nova ordem mundial não estão a cargo apenas dos Estados, e que, muitas vezes, utiliza-se do argumento dos direitos humanos e das questões ambientais para pressionar determinados países considerados Estados fracos, algo que não se pode fazer contra a China, contra a França, contra os EUA, por exemplo, devido à dimensão de seu poder. E que, mesmo países democráticos em sua política interna, não o são nas suas políticas externas de ingerência e intervenção em Estados considerados mais fracos.

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Bolsonaro é um criminoso, pois incitou e fez apologia a crimes ambientais em suas falas tanto como candidato – ao afirmar que “o Brasil tem floresta demais”, que “isso atrapalha o desenvolvimento” e que o agricultor “quer derrubar uma árvore e não pode” – quanto no exercício do cargo de presidente da República, agindo de forma irresponsável e omissa. Cometeu crime de improbidade por não empreender ações para impedir o ato criminoso de produtores rurais de incendiar a floresta, que os criminosos intitularam de “dia do fogo”, planejado via WhatsApp, segundo denúncias do Ministério Público do Pará, que alertou o governo federal 3 dias antes do incêndio criminoso começar. 

O governo federal só tomou providências após cerca de 20 dias após o incêndio ter começado, mesmo havendo ampla divulgação de que a floresta estava em chamas. Resolveu fornecer apenas dois aviões para combater focos de incêndio devido a pressões internacionais e ameaças de sanções, de recuo nos acordos entre União Europeia e o Mercosul diante de suas atitudes omissas e debochadas.

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O presidente Bolsonaro é um ecocida, seu governo fragiliza e ameaça a soberania nacional, além de manchar o prestígio político do país na comunidade internacional. Mas cabe a nós brasileiros fazermos a resistência a seu governo criminoso, digno de impeachment. Não se trata de recusar a solidariedade internacional, mas qualquer contribuição externa deve ser vista sem ilusão e ingenuidade de se estar numa relação de igualdade no jogo geopolítico mundial.  

Um excelente filme, com narrativa ficcional, coincidentemente chamado 'Queimada', tem um personagem inglês representante do Estado britânico que chega na colônia (imaginária) homônima ao filme, para incitar uma revolta da população local contra o domínio português e contra a escravidão da população negra. Porém, o personagem José Dolores, líder revolucionário de Queimada, negro, que liderou a luta por independência contra Portugal, a princípio insuflado pelo inglês, recusa-se a manter o status quo que só favorecia as classes dominantes nacionais, ex-proprietárias de escravos e membros da classe patronal que continuava a explorar a mão-de-obra negra, agora semiescrava, uma nova classe trabalhadora pessimamente remunerada, vivendo em condições miseráveis. 

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O personagem José Dolores lidera uma nova revolta, mas contra as elites brancas nacionais que estão no poder, e não aceita se conciliar com qualquer dominação dos brancos ingleses com seus interesses econômicos, ou das elites brancas nacionais que estavam no poder e mantendo a desigualdade social. Dolores diz que se alguém quer a própria liberdade, é esse alguém que tem que conseguir.

No atual contexto geopolítico entre Brasil, França, EUA e outras potências, a luta por soberania e as intervenções não se referem a disputas armadas entre Estados, mas a novas estratégias geopolíticas sobre as quais Vesentini discorre, na nova ordem mundial, cujos pretextos de intervencionismo trazem questões plausíveis, como democratizar, levar direitos humanos, mas que nem sempre têm de fato esses fins. Portanto, é preciso olhar com cuidado para as declarações do presidente francês em relação à Amazônia e ao Mercosul, tanto quanto se olha com desconfiança para os discursos do presidente brasileiro que desmente dados comprovados sobre o aumento do desmatamento na floresta. 

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Se os brasileiros que se opõem ao fascismo e ao neoliberalismo, contra qualquer dominação e exploração de classe, querem sua vitória nessa luta, precisam vencê-la internamente, sem esperar salvadores externos. A vitória da classe trabalhadora brasileira, que é predominantemente negra, e das comunidades indígenas, bem como a solução de problemas ambientais no Brasil, não virá da França, nem de nenhuma potência europeia, tanto quanto não se pode confiar nos discursos dos Estados Unidos de levar democracia, paz e direitos humanos ao mundo.  Vale ressaltar que a conservação do meio ambiente está na direção oposta do capitalismo.

REFERÊNCIAS 

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VESENTINI, José Wiliam. Novas geopolíticas: as representações do século XXI. Contexto: São Paulo, 2012.

QUEIMADA. Dirigido por Gillo Pentecorvo. 132 min. 1969. 

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